O bom efeito de um grande concurso
Daniel Kondo
O café foi a cultura que mais promoveu o desenvolvimento em nosso país, dada sua característica de envolver mão de obra intensiva e necessitar de boa infra-estrutura para o escoamento da produção.
O Estado de São Paulo é um exemplo típico, pois a malha ferroviária, que perdeu lugar para o foco rodoviário que o Governo JK imprimiu na década de 1950, integrou e abriu as portas para as riquezas que o café pode proporcionar em quase todas as suas regiões. Os nomes como Mogiana, Alta Paulista, Noreste e Sorocabana representavam não apenas essas origens produtoras de café, mas, também, das importantes linhas ferroviárias.
A Alta Sorocabana, cujos municípios fazem divisa com o Estado do Paraná, foi responsável por grande produção de café genuinamente paulista, mas que no último quarto do Século XX, devido às grandes geadas que ocorreram nos anos 70 e 90, conheceu o seu declínio.
Piraju é a cidade de referência, hoje, para essa importante região, que ainda possui aproximadamente 25.000 hectares de café em produção distribuidas em municípios de nomes tipicamente indígenas como Tejupá, Sarutaiá e Timburi. Com a grande represa de Jurumirim nas proximidades, há também uma vocação para o turismo na região.
Piraju, que em tupi-guarani significa “Peixe Amarelo” ou o famoso dourado, teve sua fundação por volta de 1850, e já em pleno Século XX passou a fazer parte da linha férrea da Alta Sorocabana.
Sendo o dourado o símbolo da cidade, pois ele é um peixe muito comum nos grandes rios da região, seu formato está presente nas placas de rua da área central de Piraju, como pode ser visto nesta foto.
As lavouras de café ficam distribuidas nas áreas mais elevadas, com altitude entre 800 m e 1100 m. É importante observar que esta origem de café está muito próxima ao Trópico de Capricórnio, portanto a mais de 23° de Latitude Sul.
No final dos anos 90, alguns produtores fundaram a PROCED, que é a associação que abrigou aqueles que estavam se iniciando no processo de CD – Cereja Descascada (PROCED – Associação dos Produtores de Cereja Descascada de Piraju e Região). Devido ao fato da topografia de montanha, a umidade durante o período de colheita é muito alta, justificando a escolha do processo de pós-colheita adotada pelos cafeicultores.
A descoberta de que cafés de alta qualidade podiam ser produzidos ali, estimulou a outros produtores a adotarem o processo de descascamento e logo interessantes resultados vieram.
Talvez o mais notável foi a conquista da primeira colocação no Concurso de Qualidade para Espresso promovido pela empresa italiana illycaffè, responsável pela introdução do conceito de Café de Relacionamento entre os produtores brasileiros.
Em 2001, Waldomiro Nicolau Ferreira teve seu lote de café como o melhor do concurso, fazendo juz ao belíssimo troféu que é uma xícara illy dourada com um cofre articulado de madeira.
Nesta foto, Antônio “Toninho” Ferreira, irmão de Waldomiro, nos mostra, orgulhosamente, o troféu de campeão de 2001.
Donos de supermercado, resolveram dar impulso a um outro sonho: criar um espaço para o café na pequena Piraju.
Numa loja moderna, Waldomiro e Toninho montaram uma elegante cafeteria, com um bom serviço de espresso com grãos de produção própria.
Um círculo virtuoso foi criado a partir do estímulo de um concurso de qualidade que deu início aos inúmeros hoje existentes no Brasil: ao ter sua produção reconhecida pela qualidade, o cafeicultor passa a oferecer um excelente café para os novos consumidores do interior de São Paulo.
Novos consumidores, iniciados com um café e serviço de alto nível, estimulam a produção de excelentes grãos!
Na foto abaixo, da esquerda para a direita, em frente à cafeteria Max Café, Antônio Ferreira, eu, seu Coffee Traveler, Selma Vieira e o agrônomo Emílio Hara: