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São Paulo

The Coffee Traveler by Ensei Neto

ORIGEM

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Trip to Yemen -2: Caravan Serai, Spices & Cafe

Daniel Kondo

Imaginando Sana’a como parte de rota das caravanas de mercadores vindas da região oriental da Península Arábica rumo ao Mar Vermelho, manter uma Caravan Serai seria algo mais do que esperado.

Hoje em dia, os grandes espaços deste tipo de hospedaria se tornaram, como acontece em Bab Al Yemen, praças onde diversas barracas se instalaram para comercializar itens nobres como especiarias e frutas secas.

Com uma forte inclinação para o comércio, os yemenis oferecem seus produtos a partir de estupendos arranjos onde combinam magistralmente cores e texturas, compondo um rico mosaico de cores e aromas, como pode ser observado  nesta foto. Vejam que bela composição com  cravo da índia e noz moscada em primeiro plano, cardamono e orégano, sementes de gergelim tostada e as rubras folhas de hibisco, conhecidas também como tea rose.  Gengibre e pimenta do reino completam o conjunto.

Juntamente com Makonen, da Ethiopia, provei cada tipo de tempero, especiaria e frutas, comparando seus matizes de sabores com as que encontramos no Brasil, por exemplo. Foi um exercício sensorial inesquecível!

Algumas frutas são cultivadas na região Norte do Yemen como as uvas, que devido ao clima árido são muito saborosas e intensamente adocicadas. Observe nesta foto como a montagem para exposição das uvas passa levou-se em conta características como  ponto de maturação na colheita, tamanho das bagas e até procedência. Estavam deliciosas!

A região Sudoeste do Yemen é banhada pelo Mar Vermelho, tendo ao Sul o Mar Arábico e o Golfo de Aden. Há um estreito que separa estas duas águas, tornando esta parte da península muito próxima da chamada África Oriental, mais precisamente com a Ethiopia.

Nesta parte do Yemen a arquitetura difere um pouco das cidades mais ao norte, além do que seus habitantes com feições bastante distintas, também usam roupas destacadamente mais coloridas. Tudo isso é influência da cultura etíope. Ainda hoje o intercâmbio com a Ethiopia é muito grande e, por exemplo, diversas palavras e expressões são comuns aos dois povos.

A Ethiopia é o berço do cafeeiro (ou origem botânica), planta que deu início à saga da segunda bebida mais consumida no mundo depois da água, ou seja, onde foram identificadas originalmente. A proximidade com o Yemen fez com que plantas e sementes tenham sido transportadas a partir da Ethiopia. A partir daí, os yemenis passaram a cultivar os cafeeiros de forma sistematizada, o que faz com que aquele país seja considerado como o berço da Cafeicultura e do café como bebida.

Esta questão de berço disto ou daquilo ainda hoje desperta uma apaixonada discussão entre etíopes e yemenis…

Registros históricos indicam que com o domínio da produção sistematizada do café, o Yemen foi o maior produtor deste precioso fruto durante muitos séculos, tendo boa parte de sua comercialização feita pelo antigo porto de Mocha. Devido ao escoamento dos grãos de café através deste porto, denominou-se como Mocha o café produzido no Yemen, exatamente como ocorreu no Brasil ao se confundir o porto de Santos para muitos uma origem de café!

 As origens produtoras de café do Yemen ficam mais ao norte, nas montanhas, onde o clima é mais ameno e chove mais (apenas impressionantes entre 400 mm a 500 mm de chuva por ano!!!), onde também ficam as outras produções agrícolas. O sul tem como paisagem predominante o deserto que, no entanto, faz aflorar vindo das profundezas um outro negro produto: o petróleo.

Para se ter idéia do meu espanto quanto à quantidade de chuvas é porque correspondem em média a algo como 25% a 30% do que normalmente ocorre no Brasil. Sendo a água escassa e tão preciosa, é compreensível porque toda a produção de café é secada pelo processo conhecido comoNatural (= grãos maduros secos com a casca).

Sendo um produto de grande valor, em geral as sementes descascadas eram praticamente vendidas em sua maior parte para outros países, ficando por vezes apenas a casca do fruto. Veja na foto acima os dois produtos sendo comercializados, as sementes à esquerda, cascas à direita.

As sementes ou o Café Cru é praticamente, nos dias de hoje, totalmente consumido dentro do próprio país. Com uma produção bastante pequena, em torno do equivalente a 150.000 sacas de 60 kg líquidos, o café cru (= Green Coffee) atinge preços impressionantes como US$ 10/kg (isso mesmo, dez dólares por quilo!!!).

Café bebida no Yemen é o Bun, finamente moído e preparado em ibriqs em estilo tradicional à toda região árabe.

Com a casca surgiu uma outra bebida, o Qishr. Ou seja, o seu uso é legal porque gera um produto distinto. Com o tempo, para dar notas de sabor diferentes, foram sendo adicionados outros produtos como gengibre, canela e cardamono às cascas, de modo que diversos blends de Qishr surgiram, como o que está nesta foto.

Observe que é muito clara a descrição do Qishr como feito a partir da casca do café.

No caso deste produto, considerado um dos melhores blends foi criado pelo mesmo senhor que está sentado na entrada de sua barraca, como pode ser visto na terceira foto da sequência.

Fica uma lição: os yemeni souberam dar um tratamento digno à casca do café, que atinge preços tão elevados quanto o do próprio café!!!

Mas que fique claro: Bun é Bun, Qishr é Qishr.

E outro detalhe: esse uso massivo da casca do café é possível porque as lavouras do Yemen são praticamente isentas de uso de agroquímicos, o que os torna bastante seguro o seu consumo.

Trip to Yemen – 1: Sana’a & Old City

Daniel Kondo

Para todo “louco” por café o Yemen faz parte do imaginário como a mística terra do Mocha Coffee,  de ter, provavelmente, o mais antigo cultivo sistematizado de café e de ser o berço do café bebida. Tive a maravilhosa oportunidade de conhecer tudo isso através de um convite para participar do 2nd International Coffee Conference on Arabica Naturals, de 12 a 14 de dezembro, em Sana’a, Yemen.

Este evento, que tem como princípio discutir os principais aspectos econômicos, técnicos e sensoriais do café arabica Natural, que é o fruto maduro secado com a casca, teve sua primeira edição há 3 anos atrás em CancunMexico, numa iniciativa doCompanheiro de Viagem Manuel Diaz Pineda. Apesar da inegável valorização dos cafés processados como descascados e desmucilados ouFully Washed, os grãos secados como Naturalcompõem a grande maioria dos ofertados no mercado internacional. Ao se trabalhar com a água, a separação dos grãos imaturos se torna muito mais fácil, seja porque flutuam devido à menor densidade ou por não terem a casca retirada pela quase ausência da polpa. No entanto, sua contrapartida é altamente contaminante ao bem mais precioso do planeta: a água.

Do Brasil ao Yemen foi uma longa jornada, que teve conexões em Madrid, na Espanha, e em Cairo, no Egito. No check in em São Paulo o primeiro sinal de que seria uma viagem p’ra lá de emocionante: fui atendido pelo supervisor da TAM porque eu deveria ser talvez o primeiro a ir para Sana’a, capital do Yemen, pela companhia.

Chegando quase ao final da madrugada do dia 11, tirei o atraso descansando até às 14h30! OK, culpa do jet lag devido às 5 horas de diferença de fuso adiantado e das mais de 30 horas de viagem…

A primeira providência foi trocar moeda para o Rial Yemeni, aprender a pronúncia de algumas palavras básicas e tomar um roteiro para conhecer um pouco da cidade. Apesar de ser a capital, Sana’a não é a mais antiga nem a mais populosa cidade daquele país, porém guarda um dos tesouros que é a chamadaOld City ou Bab Al Yemen. Os yemenis são conhecidos pela sua veia mercante, que pode ser observada até nas crianças. Comercializar faz parte da natureza daquele povo.

Cidade Antiga, como boa parte das cidades da antiguidade, tem uma grande muralha lhe envolvendo e imponentes portais de acesso. Apesar de abrigar muitas residências, um colorido e ruidoso complexo comercial se estende por quase todas as ruelas, onde disputas frequentes por espaço entre carros e pedestres acontecem. Num incrível ambiente como este, qualquer um se sente como um Indiana Jones do filme Raiders of Lost Ark!

Estava acompanhado dos Companheiros de Viagem Mike Makonen e Tadese Meskela, ambos da Ethiopia, o que facilitou compreender como existe um forte intercâmbio entre este país do Leste Africano e o Yemen desde tempos remotos, além de tornar muito divertida o passeio pelas labirínticas ruelas de Bab Al Yemen. Esta cidadela tem pouco mais de 700 anos e a imponente torre que pode ser vista nesta foto é também a sua mais antiga.

É possível encontrar uma diversidade de artigos como especiarias (muito aromáticas), frutas, mel (deliciosíssimo) e queijos de leite de cabra na, digamos, Seção de Alimentos; roupas e os tradicionais lenços de cabeça na Seção de Vestuário; artesanato em prata, cobre e as onipresentes jambiyas (adagas que quase todos os homens costumam levar à cintura), Seção de Artesanato.

Sendo rota de comércio desde antigos tempos, Bab Al Yemen também possui sua Caravan Serai, que  é uma hospedaria especialmente desenhada para as caravanas de mercadores dos diversos artigos que comentei. Com baias para os camelos ficarem, amplos espaços para deixar as mercadorias e quartos para os viajantes descansarem, hoje servem de espaço para abrigar e ofertar alguns dos produtos mais nobres como frutas secas e especiarias, mas mantém uma aura mística e cheia de estórias para contar.

Bem, mas isto fica para o próximo post