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São Paulo

The Coffee Traveler by Ensei Neto

CIÊNCIA

Materiais & Resultados: Sobre violinos e xícaras

Thiago Sousa

Nem tudo é o que parece ser…

As diferenças podem se esconder em pontos muito sutis!

Uma notícia publicada na Folha de São Paulo, por Eduardo Geraque, comenta que um artigo da revista científica “PLoS One” chegou no cerne do porquê os famosíssimos violinos construídos pelo luthier Antonio Stradivari, de Cremona, Itália, entre 1715 e 1735, são consideradas peças impecáveis e imbatíveis no quesito qualidade sonora. O radiologista pesquisador Berend Stoel, da Universidade de Leiden, Holanda, juntamente com o luthier norte-amerinao Terry Borman, submeterama ensaios de tomografia computadorizada sete violinos e uma viola construídos recentemente e comparam com dois violinos Stradivarius e três do também luthier italiano e seu contemporâneo Giuseppe Guarnieri del Gesù, como mostra a foto ao lado, de autoria de Greg Gilbert, AP.

Resultado: a sonoridade simplesmente perfeita dos violinos Stradivarius e Del Gisù se devem à uma sutil diferença de densidade da madeira empregada. Apesar de serem utilizadas as mesmas tanto nos antigos quanto nos instrumentos mais recentes, a madeira do pinheiro-da-noruega (Picea abies) de hoje possui maior dureza do que aquela empregada pelos luthiers de Cremona. Pequeno detalhe, mas que pode explicar em muito a olímpica diferença de sonoridade entre esses instrumentos.

Observe, agora, a foto ao lado.

Tirei recentemente durante visita à Fazenda Nossa Senhora Aparecida, em Pedregulho, SP. A xícara que está mais à frente é uma com formato denominado “illy”, cuja geometria é a que a famosa torrefadora italiana utiliza há muitos anos em suas xícaras de assinatura. O material empregado é a porcelana normal.

A xícara ao fundo, com um desenho rajado, possui algumas sutilezas que a tornam diferente, muito além de sua aparência ou perfil geométrico. Observe que seu formato é levemente cônico, bem diferente da suave curva que o modelo “illy” possui.

Agora, na foto a seguir, tirada quase 1 minuto após a extração, é possível perceber o que as torna muito diferentes:

Teoricamente, a xícara com o formato cônico, devido à sua geometria menos favorável à diminuição do impacto da queda da crema durante a extração que numa com formato curvo, além de sua menor espessura de parede em relação ao modelo mais tradicional, deveria apresentar dispersão da crema mais rapidamente do que a da outra xícara.

No entanto, verifica-se nessa xícara cônica que a textura de sua crema está mais estável, enquanto que na xícara com formato tradicional, mesmo com paredes mais espessas, a dispersão se iniciou.

Afinal, a parede mais grossa não deveria manter a temperatura por mais tempo?

Também, com uma geometria mais favorável para não provocar impactos durante a queda da crema na extração, esta não deveria ser mais estável?

Bem, assim como no caso dos fantásticos violinos cremonenses, esta xícara possui seus segredos sutis… que está justamente no material. Houve adição de alguns metais na porcelana, modificando, assim, sua densidade e, portanto, suas características térmicas. Entre os efeitos, está sua maior densidade, incorporação de propriedades dúcteis, ou seja, que torna o material mais resistente a choques mecânicos (como quedas), e menor velocidade na perda da temperatura para o ambiente.

O que me chamou a atenção foi quando a peguei e, brincando, comecei a estalar os dedos em sua borda: captei uma sonoridade metálica, idêntica a que se ouve quando é adicionado, por exemplo, chumbo ao vidro, resultando no cristal!

Bingo!

Sutil, mas incrivelmente eficiente!

Esta xícara pode ser experimentada na cafeteria Octavio, em São Paulo.