Experiências com Ben Kaminsky: Uma questão de concentração
Thiago Sousa
Tive a feliz oportunidade de receber Ben Kaminsky neste final de semana em minha casa.
Ben foi o campeão dos Estados Unidos na modalidade Cupping Tasters em competição ocorrida em Atlanta, GA, neste ano. Com isso, foi o representante USA noCupping Tasters World Competition que teve Cologne como palco. Obteve a quarta colocação geral depois de disputas acirradíssimas e muito complexas devido ao uso de cafés indianos da espécie robusta (Coffea canephora).
Natural de Boston, MA, na região Nordeste dos Estados Unidos, Ben comentou que há muito tempo se interessou por café e procura incansavelmente se aprofundar em todos os aspectos, desde a parte botânica, passando pelos processos de secagem e torra de café, até a extração. O rapaz é “fera”!
Há muito tempo não me impressionava com alguém tão jovem e com conhecimentos tão sólidos.
Um dos objetivos de sua visita ao Brasil, a primeira de uma série pelo seu desejo, era conhecer o fascinante Chapadão de Ferro, uma origem vulcânica de características únicas no mundo. Yes, o Brasil tem cafés de origem vulcânica, sim!
E, naturalmente, fiz questão de levar Ben para visitar aFazenda Chapadão de Ferro, de Ruvaldo Delarisse, que considero o melhor produtor daquela nanorregião. Os cafés que Ruvaldo produz são únicos e inimitáveis, mesmo pelos seus vizinhos, numa celestial combinação de localização, solo e manejo de lavoura que resulta nos disputados lotes de café com notas aromáticas e sabor a pétalas de rosas, secundadas pelo irresistível toque de cerejas (a frutinha) maduras.
No sábado pela manhã fizemos o cupping de diversos lotes da Fazenda Chapadão, reservando a tarde para experiências com extração e concentração de café.
Os mesmos lotes de café que provamos na parte da manhã foram testados à tarde, usando o Aeropress para que as extrações fossem controladas. Obviamente, juntamos nossa parafernália: moinho, cronômetros, sensores de temperatura a infravermelho, refratômetros, balanças de precisão e pipetas, além de, é claro, nariz e língua…
Fizemos um sem número de testes com diferentes percentuais de extração de café.
OK, isso está meio avançado, mas para facilitar a compreensão do que buscamos, estes foram os nossos fundamentos: os elementos de grande impacto na xícara de café são o perfil de moagem, características da água (pH, composição de minerais, por exemplo) e tempo de contato água-partículas de café. O resultado na xícara, que está diretamente ligado com a nossa percepção, está baseado na concentração de sólidos solúveis, que é medida através de uma escala denominada TDS (em inglês Sólidos Dissolvidos Totais).
E por que isso é importante?
Bem, esse é o segredo para você conseguir perceber melhor as características de sabor de um café e outras bebidas. Nossos “sensores” são as papilas gustativas, que ficam na língua, e as células olfativas, estas na “carenagem” do nariz. A concentração de uma solução tem relação direta com a nossa percepção. Isso porque os nossos sensores possuem um determinado nível de, digamos, especialização, ou seja, existe uma faixa ótima onde eles trabalham melhor e que fica fora das altas e das muito baixas concentrações. Quando você dilui uma solução, fica mais fácil de perceber os sabores do que quando muito concentrada.
Fascinante, não?