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São Paulo

The Coffee Traveler by Ensei Neto

HISTORIA

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Café para se assistir

Thiago Sousa

De tempos em tempos o Café é tema de filmes para as grandes telas do cinema, de documentários a outros que são pura diversão.

Certamente, um dos filmes que provocou mais impacto nos últimos anos foi BLACK GOLD, The Movie, dos irmãos Nic e Marc Francis, lançado em 2005.

Instigados pela impressionante diferença de valores praticados em cafeterias que eles frequentavam, como as da rede Starbucks, e o que os produtores recebiam em seus países, visto pelas cotações na Bolsa de New York (NY CSCE – New York Coffee, Sugar & Cocoa Exchange), os dois saíram em busca de informações para compor esse intrincado quebra cabeças.

Na Ethiopia, berço do café, conheceram Mr. Tadesse Meskela, gerente geral da Cooperativa de Oromia (www.oromiacoffeeunion.org), uma das mais bem estruturadas daquele país e que tem mais de 70 mil produtores associados. Tive a oportunidade de conhecer Mr. Tadesse em minha viagem aoYemen e é uma pessoa de grande visão de negócios, excelente articulador e muito expansivo. Ele é o fio condutor em boa parte do filme, apresentando a região de Oromia através de belas imagens, seus produtores e lavouras que se mesclam com as exuberantes florestas e suas viagens até Seattle, por exemplo.

Tomadas adicionais com cafeicultores mexicanos, de reunião da WTO – World Trade Organization, uma das Feiras da SCAA – Specialty Coffee Association of America e visitas a cafeterias e supermercados, questionando o formato de negociação entre comerciantes e cafeicultores, serviram de suporte para estimular os Movimentos Fair Trade e Direct Trade, que ganhou corpo principalmente entre as descoladas micro torrefações e cafeterias de Cafés Especiais da West Coast.

O mercado de café tem ciclos de preços, quando altas cotações se revezam com as baixas, em boa parte explicada pela relação de Oferta e Demanda desse precioso grão. Depois de atingir valores excepcionais até o início de 2012, as cotações na NY/CSCE experimentaram movimento descendente que tem preocupado e assustado os produtores. Houve plantio de novos cafezais e adoção de modernas e sofisticadas tecnologias para aumentar a produtividade no Brasil, tudo na esteira do entusiasmo que os altos preços alcançados pelas sacas de café cru podem provocar. Assim como aconteceu há 12 anos atrás.

Deve ser lembrado que as cotações na NY/CSCE são muito mais sinalizadoras para o chamadoMercado Comum ou Comoditizado, que é totalmente dominado pelas grandes empresas comerciantes e que atendem, também ao segmento conhecido como Grande Mercado, capitaneado por grandes corporações e suas famosas marcas globais. O alívio existe para o front dos Cafés Especiais, onde o relacionamento direto promove o reconhecimento do valor do ofício de todos.

Você pode saber mais e até adquirir o filme diretamente do website www.blackgoldmovie.com .

Em fase de Final Cut está o A FILM ABOUT COFFEE, de Brandon Loper, que procura traçar um panorama atualizado do mercado de café tendo como pano de fundo os Cafés Especiais. Com locações em Honduras, Japão e Estados Unidos, o documentário apresenta entrevistas com as pessoas que estão procurando moldar o novo mercado consumidor de café, como a Eileen Hassi, proprietária da emblemática microrrede premium Ritual de San Francisco, CA, USA.

Com visual moderno, belas imagens de lavouras de café e o esperado Indie Rock como parte da trilha sonora, Brandon, que é um talentoso diretor (vale a pena conferir seu Resumo 2012/Brandon Loper Reel 2012), dá destaque aos diferentes serviços  como HarioCoador de Pano (em cafeteria no Japão) e, é claro, Espresso, numa demonstração de como o consumidor também está se aprofundando na arte de simplesmente apreciar uma boa xícara de café. Este filme deve estrear neste 2013.

Para finalizar esta seleção, vale destacar uma vez mais o simpático e divertido COFFEE & CIGARETTES, comédia de Jim Jarmusch, lançada em 2003 e que tem um elenco estreladíssimo com Iggy Pop, Tom Waits, Cate Blanchet, Bill Murray e Alfred Molina, entre outros. Filmado em Preto & Branco, é composto por vários esquetes onde personagens passam o tempo em cafeterias bebendo café e fumando (alguns, muuuuuito!) cigarros.

Minha cena predileta é com a dupla Iggy Pop e Tom Waits. Deliciosa!

True stories from coffee people: Gente do café – 4

Thiago Sousa

Alguns povos acreditam que o nome é uma das coisas mais importantes na vida de uma pessoa, podendo muito dizer de sua personalidade ou mesmo do futuro que a espera. Os japoneses, por exemplo, costumam antes do nascimento do rebento conversar com os monges para que um nome seja sugerido, evocando, de preferência, um futuro próspero. A escolha, nesse caso, leva em conta o uso dokanji, que são ideogramas e que representam uma idéia ou conceito.

É muito comum que o filho mais velho tenha em seu nome o sufixo ichi(pronunciado como “iti”), que significa primeiro, como Junichi ou Kenichi.

Livros com significado dos nomes são sempre hits de vendas entre os novos futuros papais!

A estória real de Michael Freitas é cheia desses significados. Soteropolitano, deixou Salvador há mais de uma década atrás em busca de um sonho louco: plantar café. Michael é técnico em eletrotécnica e durante muito tempo se dedicou a mexer com vídeos players, equipamentos de som e vídeo K-7, sendo um fã de seriados japoneses como Ultraman & a Patrulha Científica.

Numa atividade que de início não lhe deveria ocupar tanto tempo, a cafeicultura passou a ser o seu principal negócio e sua vida.

Na pequena PiatãChapada Diamantina, encravou-se nas escarpas à Oeste da cidade, na propriedade que tem o nome de Fazenda Divino Espírito Santo. Essa região, que hoje vem ganhando respeito junto à indústria nacional e internacional pelos ricos sabores de seus cafés, fica na faixa de 12° de Latitude Sul, com altitudes que se aproximam de impressionantes 1.400 m acima do nível do mar!

Com lavouras parcialmente sombreadas, cuja presença de grevíleas é uma constante e que considero altamente recomendável para essa região, a paisagem dominante lembra a de Antígua, Guatemala que fica exatamente à mesma latitude, só que no Hemisfério Norte. Sem dúvida, essa feliz combinação pode explicar um pouco da deliciosa complexidade dos cafés de Piatã.

Levado por seu espírito essencialmente empreendedor, Michael iniciou uma constante busca de conhecimentos avançados sobre a cafeicultura, desenvolvendo fortes laços com pesquisadores e diversos outros especialistas, conseguindo fazer de sua pequena propriedade , que tem pouco mais de 10 ha cultivados de café, num impressionante campo experimental. Variedades raras em nosso país, outras escolhidas por rigoroso critério técnico, uso de irrigação localizada e interessantes experimentos de secagem compõem o vasto arsenal de tecnologia da Fazenda Divino Espírito Santo!

O especial cuidado de Michael com a qualidade dos grãos tem lhe rendido excelentes colocações em concursos nacionais de qualidade, estimulando-o a alçar vôos mais ousados.

Sua esposa, a vibrante Patrícia, aqui junto com a caçula Cecília, fez um curso básico de avaliação de café para responder pelo controle de qualidade da nova atividade da família: uma torrefação artesanal.

Artesanal de início e que  a segunda foto, onde Michael posa orgulhoso ao lado de um pequeno torrador cilíndrico, mostra o quão empreendedores são eles.

Somente um espírito muito tenaz e persistente pode levar uma pessoa a torrar mais de 12 toneladas (isso mesmo: 12 TONELADAS!) de café nesse primitivo torrador e distribuir belos cafés Bahia afora. Hoje, a pequena indústria com um novo equipamento de 30 kg, datadora hot stamp e outros avanços considerados praticamente impensáveis até a pouco tempo.

Com as novas e exóticas variedades entrando em produção, certamente excepcionais microlotes também poderão ser divididos com loucos por café de todo o Brasil muito em breve…

Café del Peru: Selva central – 2

Thiago Sousa

Chanchamayo é região que tem a cidade de La Merced como polo, situada a 750 m de altitude rodeada por uma impressionante cadeia de montanhas, braços amazônicos dos Andes Peruanos, sendo conhecida como a maior produtora de café do Peru.

As propriedades que visitamos cobriam parte de La Florida,Perené e Miguel Grau, sempre com lavouras sombreadas, em latitude sul que variava de 10.30′ e 11.15′, o que justifica e pede o sombreamento.

Partindo de carro, iniciamos a viagem por sinuosas estradas de terra depois de 30 minutos por boas rodovias. E, aí começou a subida da serra…

As propriedades que visitamos eram de produtores que fazem parte das cooperativas das regiões e era perceptível um bom nível técnico na condução das lavouras. O Peru tem produzido em média 3 milhões de sacas de 60 kg por ano. Considerando-se que sua franca maioria é de cafés certificados, principalmente como orgânicos, mostra porque a média de preços que os cafés vem obtendo situa-se na faixa de US$ 2.20 por libra-peso FOB Porto de Lima.

O consórcio com plantas frutíferas, principalmente a banana, é muito comum para viabilizar comercialmente a operação. Ah, uma coisa que aprendi: usam o nome “banana” quando é a fruta de mesa, e “plátano” para culinária, como cozida ou assada.

Haroldo explicou que como as propriedades estão em locais muito acidentados e distantes das cidades, todo o transporte de coisas mais pesadas é feita no lombo de animais, e muitas vezes o chacrero prefere levar alimentos a adubos para a suachacra (= sitio). Com isso, além da natural dificuldade para a utilização de máquinas e equipamentos, optou-se por empregar técnicas da agricultura orgânica. Observe na primeira foto a quantidade de árvores leguminosas, cujo objetivo de seu plantio é o de prover sombra e ao mesmo tempo capturar nitrogênio para fertilização natural dos solos.

As variedades mais plantadas, nas fincas visitadas, eram a Caturra, como nesta foto, com sua tradicional “ponta roxa”, Catimor e Típica, junto de um eventual Bourbon. Vi que a população de cafeeiros, que pode ser considerada baixa, é algo que ainda está em discussão. No geral são colocadas 2 plantas em cada cova. Comentei sobre mudanças benéficas que a separação pode trazer para a produtividade, além de uma melhor distribuição espacial dos ramos produtivos das plantas.

A 1.300 m de altitude fica a Finca Santa Carmen, da Sra. Ilda Mariño, em Miguel Grau,Chanchamayo, que aqui posa ao lado de sua lavoura.

Ela faz parte de um programa de aperfeiçoamento técnico oferecido pela sua cooperativa e que inclui a renovação das lavouras. Em média, as lavouras peruanas, segundo informações do agrônomo Haroldo, tem 20 anos, algumas com variedades não tão adequadas, outras que tiveram problemas em seu plantio e que seguem com baixa produtividade. Daí um programa de renovação de lavouras tem como objetivo aumentar a produtividade das lavouras peruanas, além de outros benefícios.

A Sra. Ilda, como boa parte dos produtores da região, tem sua finca certificada como orgânica, já atendendo os principais destinos de Café del Peru.

Depois de visitar diversos produtores, alguns com produtividade que  impressionam, seguimos para a sede da Cooperativa de Perené.

No laboratório da cooperativa estava acontecendo um curso de introdução de avaliação de café, especialmente desenhado para filhos de produtores. Eram 14 jovens com idade média de 18 anos e muuuito interessados!

Segundo a direção do Café Peru, capacitar os produtores ou a nova geração de produtores faz parte de seu plano estratégico para que os processos produtivos e, também, os de controle de qualidade e comercialização ganhem em profissionalismo, consistência dos produtos e sua qualidade, juntamente com agregação de preço e valor. O objetivo é ter produtores que saibam provar seus cafés segundo a Metodologia SCAA, através de convênios firmados com o CQI – Coffee Quality Institute, ligado a SCAA – Specialty Coffee Association of America, para que aprimorem seus trabalhos de campo e na comercialização. Fantástico!

Tive a oportunidade de provar alguns cafés, dividindo a coordenação de uma rodada com o instrutorElias Coronel. E 2 cafés da região Sul, de Incahuasi, próximo a Cuzco, me deixaram entusiasmado com seus sabores exóticos!

Cafés del Peru: Selva central – 1

Thiago Sousa

O Peru é conhecido hoje como o maior produtor mundial de cafés orgânicos certificados.

Foi uma viagem surpreendente para mim, pois várias questões que até então eram míticas começaram a fazer sentido. Por exemplo, a área de café é dividida em três grandes territórios, ligados às chamadas “Selvas”: Selva del Norte, Selva Central y Selva del Sud. (Ooops, já incorporei o español aí…).

A parte Norte tem como referência as províncias de Cajamarca e Jaén, enquanto que ao Sul, Cuzco e o sagrado Machu Pichu.

Devido ao curto tempo, a convite do Café Peru – Central de Organizaciones Productoras de Café y Cacao del Peru, pude conhecer apenas uma parte das áreas cafeeiras da Selva Central. Café Peru trabalha como uma federação de cooperativas e organizações locais, promovendo o desenvolvimento da produção e comercialização do café e cacau do Peru através de programas de capacitação técnica, extensão rural e outros serviços.

De Lima até La Merced, cidade que serviu de base, são aproximadamente 350 km. Porém, me disseram, durante os preparativos no dia 06 de novembro, que a viagem dura em média 8 horas de ônibus. Pensei comigo: “puxa, os ônibus daqui devem ser muito lentos….”

Às 22h, juntamente com o engenheiro agrônomoCarlos, cuja família vive m La Merced e que seria o meu guia, tomamos um confortável ônibus de 2 andares. Carlos se espantou quando me viu apenas com uma camiseta, enquanto ele estava com um casaco relativamente, eu diria, “pesado”. “Você vai passar frio”, ao que respondi “Mas todos me disseram sobre o calor da Selva”. E foi aí que me dei conta (aham… nada como dar uma olhadinha mais detalhada nos mapas!) de que teríamos de atravessar a cordilheira dos Andes Peruanos para alcançar a Selva Central. E assim foi.

Depois de quase 1h e 30m por autopistas modernas, iniciamos a subida da cordilheira. Ao passar por Casapalca (mais de 4.200 m de altitude!), era visível o gelo por sobre as áreas mais elevadas e, é claro, uma rápida sensação de frio. Digo rápida porque logo o motorista do ônibus ligou a calefação tão forte que quase assou o povo…  Ficou entendido, também, porque a viagem é demorada, pois a estrada é sinuosa, muito movimentada e com impressionantes conjuntos de aclives/declives.

Eram 6h30m da manhã quando chegamos em La Merced.

Depois de um merecido banho no hotel, dei uma rápida volta pela praça central, a Plaza de las Armas, onde fica a igreja matriz. E logo ouvi um zunido como enxame de vespas: diria que quase literalmente era um “enxame de vespas”!

Diversos mototaxis rondavam a praça em busca de passageiros. Lembrou-me a lendária Romi-Iseta, dos anos 60, porém com algo mais: entreeixo mais largo, permitindo acomodar 2 pessoas, mais o piloto, como numa “moto limusine”. São todos transportes oficiais e cada um dos donos acaba caprichando mais que o outro no visual dos seus mototaxis, com diferentes adornos e itens de conforto!

Logo reencontrei o Carlos e fomos tomar um desayuno tipicamente criollo (que é como pode ser chamada a cultura do interior): uma sopa com pedaços de carne de porco, arroz e mandioca cozida; um tipo de banana da terra cozida, um tipo de batata doce e suco de guanabana, fruta que lembra a pinha. Foi um “pequeno almoço”…

E daí, com o agrônomo Haroldo, coordenador regional pelo Café Peru, fomos visitar as áreas produtoras de café.