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São Paulo

The Coffee Traveler by Ensei Neto

MERCADO

Filtering by Tag: espresso

A temperatura e a relatividade do tempo

Thiago Sousa

Num artigo anterior comentei sobre o impacto da pressão no tempo de extração de uma xícara de café, mostrando que o Tempo mantém uma relação inversamente proporcional à Pressão, isto é, se a Pressão é maior,  o Tempo de Extração se torna menor.

A Relativização do Tempo em relação à Temperatura é diferente, pois neste caso são diretamente proporcionais.

Uma das Leis da Físico Química diz que a Velocidade de Reação pode dobrar a cada aumento de 10.C no sistema; portanto, o aumento de temperatura do sistema promove maior eficiência do processo.

A Extração do Café pode ter duas vias distintas, a partir desta perspectiva: a primeira com água nas temperaturas elevadas, quase ferventes, em torno de 93.C, e outra que emprega a água em temperatura ambiente, aproximadamente a 25.C.

Para facilitar o raciocínio, lembremos que um serviço de café, independente do modo de extração, obedece a uma sequênciaque é devida ao princípio de Solubilidade, que é a facilidade com que um elemento se dissolve em outro. Por exemplo, o sal de cozinha se dissolve com maior facilidade em água do que o açúcar refinado; logo, pode-se afirmar que o sal de cozinha é mais solúvel que o açúcar refinado em água.

Depois de torrado, o grão de café ainda apresenta uma enorme quantidade de substâncias entre os grupos conhecidos como Voláteis e Não Voláteis, resultado do rearranjo molecular promovido pelas Reações de Maillard e de Pirólise. Por simplificação, podemos considerar 4 grandes grupos como majoritários dada sua maior presença (ou concentração): óleos, ácidos orgânicos, açúcares e compostos clorogênicos. Eventualmente moléculas de substâncias que dão aromas/sabores devem ser consideradas e, no caso, acabam se consorciando com os ácidos orgânicos.

Num clássico processode Percolação (Coador de Filtro de Papel) como o Melitta ou Hario, segue-se esta ordem simplificada de extração, baseada na Solubilidade em Água: primeiramente os Ácidos Orgânicos (e eventuais moléculas de aroma), seguidos dos Açúcares e, finalmente, os Compostos Clorogênicos (como a Cafeína). Naturalmente, os Óleos ficam retidos no filtro de papel.

É possível verificar que a cada momento um determinado grupo de substâncias está sendo extraída majoritariamente a partir de sua capacidade de se combinar com a Água, sendo possível separar cada uma das frações ao longo do tempo. Sabendo-se que o tempo médio de um processo de Percolação fica em torno de 4 minutos, para um litro de café preparado, o primeiro grupo é solubilizado desde o primeiro contato com aágua até entre 30 e 45 segundos; enquanto que o segundo grupo, o dos Açúcares, tem sua extração majoritária a partir desse momento até por volta de 2 minutos e 30 segundos a 3 minutos. O restante acaba sendo reservado aos Compostos Clorogênicos, que segue até o final do processo.

Ao se provar as frações separadamente fica evidente a presença de cada grupo respectivamente.

No caso do Espresso o processo é exatamente o mesmo, devendo se levar em consideração apenas o menor tempo de extração devido à elevada pressão do sistema (equivalente a 9 atmosferas).

Nos últimos anos um serviço que vem ganhando adeptos é o conhecido por Cold Brewe, que é a extração empregando água em temperatura ambiente 22.C a 25.C ou menos. Com uma temperatura muito mais baixa do que numa extração a 93.C (ou algo como 70.C de diferença!), a partir da lei da Físico Química que mencionei no início do artigo, é esperado que o processo se alongue significativamente.

Se a cada 10.C a velocidade de processo duplica, podemos, por aproximação, considerar que com 70.C passemos a ter uma velocidade que pode ser representada por 2 elevado a 7a potencia, que resulta em 128. Se numa Percolação tradicional leva-se 4 minutos, seu correspondente em extração Cold Brewe levaria algo como 8 horas 32 minutos [= (128 x 4)/60].

Certamente o resultado sensorial não será o mesmo, uma vez que, mesmo com um tempo de extração extremamente maior, a solubilidade das substâncias na água sofrem alterações. É por isso que um café preparado por este método tem como resultado uma bebida pouco expressiva, com menor acidez e doçura, praticamente sem o amargor típico da família da Cafeína.