Cafeicultura dos pequenos – 2
Daniel Kondo
Ainda sobre os Pequenos Produtores de Divinolândia, vale a pena comentar sobre a família do Silvio Minussi.
Divinolândia é um município que se caracteriza por sua micro-região montanhosa, encravada entre a mineira Poços de Caldas e a paulista São Sebastião da Grama. A altitude média das lavouras é de 1.200 metros, chegando a 1.400 m, conforme viu-se no post anterior. Esta grande altitude, que a princípio traz algumas dificuldades operacionais aos cafeicultores, é, também, o seu grande trunfo, pois não há outra origem que combine grande Latitude com Altitudes tão elevadas no Brasil.
A Família Minussi tem pequenas lavouras de café, em torno de 10 hectares totais, numa escarpa que oferece uma deslumbrante visão, sendo que eles optaram por se certificarem como produtores orgânicos.
Silvio comentou que a opção para essa certificação foi que, pelo tamanho da propriedade, ele e o irmão entenderam que seria um dos elementos que poderiam agregar valor à sua produção. No entanto, desde o princípio, se conscientizaram de que, apesar da demanda crescente para produtos orgânicos, não poderiam se descuidar da qualidade.
Sim!
Essa visão foi surpreendente, pois vindo de pequenos produtores, que teoricamente possuem menor conhecimento e acesso ao mercado, sempre se espera uma atitude mais passiva. Mas, o conjunto de produtores de Divinolândia tem uma motivação diferente e é onde eles podem alcançar grande sucesso.
Para mostrar que estão profundamente comprometidos com a qualidade, Silvio mostrou seu pequeno terreiro suspenso coberto.
Tudo foi feito pelos próprios irmãos e a qualidade dos grãos esparramados sobre as telas demonstram o cuidado e senso de observação no momento da colheita.
Outro detalhe: são as próprias esposas que mexem o café (!), com um carinho e atenção que é peculiarmente feminino.
E preocupados com todos os detalhes, os irmãos se revesam nas tarefas, mas sob a batuta do Silvio.
Esse seu terreiro suspenso, que é o primeiro da região, já provoca grande interesse entre os outros produtores, que estão enxergando uma poderosa ferramenta para auxiliar na obtenção de cafés de excelente qualidade.
Apesar da “pirambeira” que é a pequena propriedade, cujo retorno à entrada sempre é feito de trator, quando não a pé, de tão íngreme é a topografia, os espaços foram muito bem aproveitados pelos Minussi.
Os cafés secos ficam armazenados num pequeno depósito recém-construído, todos com sua umidade verificada para que não aconteçam problemas nos grãos.
Outro detalhe: todos os pequenos lotes são identificados e todos os processos e operações registrados num caderno. Simples, porém eficiente porque é feito imediatamente!
Os Minussi se monstram muito esperançosos com os esforços, pois comentaram que “acreditam que o mercado quer mais qualidade porque, na verdade, todo mundo gosta de coisas melhores…”
Essa observação pode ser conferida com o orgulho estampado no rosto do Silvio ao apresentar uma amostra beneficiada de um dos lotes reservados da sempre excelente variedade Catuaí Amarelo – 62.
Como já comentei, rimar sustentabilidade com prosperidade é a chave. Mas, para acioná-la, a “cabeça” tem de estar preparada…