Carinho e criatividade: cafeicultura dos pequenos - 1
Daniel Kondo
Com a disseminação de conceitos que são levados pelas certificações, os produtores agrícolas, em geral, estão se familiarizando com as diversas normas de produção, que envolvem aspectos referentes às Boas Práticas Agrícolas (BAP).
Estas chamadas Boas Práticas recomendam o criterioso emprego dos defensivos agrícolas, que são principalmente os herbicidas (“os que matam ervas”) e inseticidas (“os que matam as pragas = insetos”), além dos eventuais fungicidas (“os que exterminam os fungos = fontes de doenças”). Outros aspectos, como o uso de equipamentos para proteção no momento da aplicação desses produtos, bem como o equilibrado emprego dos adubos e dos cuidados durante a colheita, acabam influindo positivamente na obtenção de produtos agrícolas de melhor qualidade.
No caso do café, as principais certificações em voga como a Rainforest, que possui um rigoroso protocolo para os aspectos ambientais, a Utz Certified, que funciona semelhante a um modelo ISO de processos, além da Produção Orgânica eFair Trade (= Comércio Justo) também são muito atentas aos procedimentos agronômicos, pedindo, por exemplo, a separação de produtos alimentícios, que no caso são os grãos de café, dos defensivos.
Observe que é o simples emprego do “Bom Senso”… não se mistura, por exemplo, sabão em barra com um pacote de açúcar numa mesma sacola!
A micro-região onde está o município paulista de Divinolândia caracteriza-se pela sua cafeicultura de pequenos produtores, onde a média é da ordem de 5 hectares por produtor.
Para se ter idéia, chega a ser muito menor do que muitas das áreas médias de glebas (frações identificadas de lavouras) de grandes produtores. Na região do Cerrado Mineiro, por exemplo, as glebas ou talhões em média têm de 15 a 20 hectares!
Localizada na mesma escarpa onde está a mineira Poços de Caldas, as altitudes de produção de café em Divinolândia são possivelmente as mais elevadas do Brasil, pois sua média situa-se em torno de 1.200 m acima do nível do mar, 100 metros a mais, por exemplo, que as lavouras da Serra da Mantiqueira, MG. Assim, um clima privilegiado com efeitos amplificados pela altitude propicia cafés excepcionais.
Mesmo tendo em sua quase totalidade pequenos produtores, os cafeicultores de Divinolândia procuram atender os requisitos das principais certificações.
É o caso do Ivan Santos, cuja lavoura de café está a quase inacreditáveis 1.400 metros de altitude.
Com um capricho imenso, Ivan pessoalmente conduz a colheita, junto com o seu pai, e cuidadosamente faz o descascamento dos cerejas, que seguem para a seca nos terreiros concretados. A primeira foto mostra os grãos ainda envoltos por uma fina casca denominada “pergaminho”, que é constituída basicamente por celulose.
Para melhor preservar o seu café seco, Ivan forrou literalmente o pequeno cômodo de madeira que funciona como armazém com embalagem de leite longa vida. Incrível, não?
Ou seja, o Ivan conseguiu um excelente resultado usando sabiamente sua criatividade…
Aliás, por falar em criatividade, observe esta foto abaixo. É uma pequena vila ou “Corrutela” (como dizem os locasi) próximo ao Ivan. Para que a seca dos grãos, algumas famílias usam a própria rua como terreiro literalmente asfaltado!
Eu diria que, neste caso, já se trata de um abuso de criatividade…