Cidades polo de café 2 – Patrocínio-MG
Daniel Kondo
A região do Cerrado Mineiro compreende 55 municípios do Triângulo Mineiro, Alto Paranaíba e parte do Noroeste de Minas Gerais, num altiplano que é parte do Planalto Central do Brasil.
É uma das mais jovens regiões produtoras de café do Brasil, pois seu início, segundo registros do extinto IBC – Instituto Brasileiro do Café, se deu em 1972 na cidade de Patrocínio, hoje conhecida como cidade-pólo do Cerrado.
O que impulsionou produtores de café do Norte do Paraná, Alta Paulista e alguns do Sul de Minas foram três aspectos: área sem ocorrência de geadas, topografia plana e, principalmente, terras muito baratas.
As terras do cerrado brasileiro até a década de 70 eram consideradas de baixa fertilidade, sentimento reforçado pela típica vegetação com árvores retorcidas, de no máximo médio porte. Naquele momento, o governo brasileiro, sob a visão de conquista de território dos militares, estabeleceu um grande plano estratégico para o desenvolvimento dos cerrados em parceria com o governo japonês.
Em plena crise do petróleo e com ecos da Guerra Fria, o Japão, país-arquipélago altamente dependente de importações de alimentos, através de seu governo decidiu investir no Brasil especificamente nos cerrados porque entenderam que este poderia ser um grande fornecedor de alimentos. O conceito básico para que essas novas áreas fossem desenvolvidos consistia em estabelecer assentamentos dirigidos com agricultores tecnificados e, ao mesmo tempo, dispostos a assumirem posição de desbravadores.
Isso explica porque, nessa fase inicial, os diversos assentamentos eram coordenados por cooperativas que tinham origem na colônia japonesa do Brasil, como as extintas Cooperativas Agrícolas de Cotia e Sul-Brasil.
Os empreendedores em geral se norteiam pelo seu instinto e para muitos este funcionou muito bem quando se decidiram em iniciar a cafeicultura na nova região.
Com o tempo, perceberam que havia um trunfo escondido no Cerrado: seu clima particularmente bem definido ao longo do ano.
Se observarmos de onde se originou a grande parte dos cafeicultores, em média o Norte do Paraná, a Alta Paulista e o Sul de Minas estão relativamente alinhados se considerada a latitude de Londrina, PR, Garça e Marília, SP, e Varginha, MG, com algo em torno de 22°Sul. Patrocínio, cuja foto ao lado mostra sua entrada principal, está a 18°Sul, portanto, gerando uma diferença brutal em termos de quantidade de luz durante o ano.
Tempo chuvoso e quente de outubro a março, e ameno e seco de maio a setembro, que coincide com o período de colheita, desencadeou a percepção de que algo era diferente. Já no início dos anos 90, qualidade do café despertou os compradores, no exato momento em que a indústria italiana illycaffè iniciou o seu hoje tradicional Concurso de Qualidade de Espresso. Nas primeiras edições deste concurso, praticamente todos os 10 finalistas eram do Cerrado Mineiro.
Ao mesmo tempo, os produtores começaram a se organizar em associações, vindo a constituir suas cooperativas posteriormente. Esta é uma das fortes características organizacionais da região: uma rede de cooperativas independentes em diversas cidades trabalhando em conjunto.
A maior cooperativa fica em Patrocínio, cuja praça movimento aproximadamente 60% do café do Cerrado Mineiro, primeira região demarcada de café do Brasil, que produz no total algo como 4 milhões de sacas de café por ano.
Outro mérito é todo um trabalho estruturado de marketing, com marcas, selos e um programa de certificação de origem regional, que segue a tendência do mercado.
Hoje, o Café do Cerrado possui imagem ligada à qualidade como origem brasileira nos diversos destinos dos Cafés do Brasil.
Praticamente todas as importantes casas de comércio exterior possuem filial em Patrocínio, que conta com uma complexa estrutura especializada em café, como diversos armazéns, corretores e casas de insumos em geral.