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São Paulo

The Coffee Traveler by Ensei Neto

ORIGEM

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Cafés do Baturité: Da história e das variedades

Daniel Kondo

A história da cafeicultura no Maciço do Baturité tem um enredo particularmente interessante desde o seu princípio.

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Se lembrarmos que o café chegou ao Brasil via o Pará, é razoável pensar que Estados mais próximos se tornassem rota de propagação dessa preciosa planta, principalmente se levarmos em conta as condições de deslocamento que existiam na época. (Tudo bem, sabemos que em alguns Estados as estradas ainda continuam tão ruins como fossem ainda do tempo do Brasil Imperial…)

Imagine, então, uma linha traçada por um gigantesco compasso centrado no Pará, mais precisamente em Belém, e com abertura até a cidade de  Fortaleza, onde fica o Maciço. Ao girar para o Sul, percebe-se que este pedaço de circunferência mal passa pelo Oeste da Bahia e norte de Goiás. Ou seja, fica muito claro que dessa linha até o Rio de Janeiro a distância é enorme!

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Alguns levantamentos apontam que as primeiras sementes vieram da França diretamente para a Serra da Meruoca, já no Século XIX, o que faria supor que a variedade pudesse ser daIlha de Reunião: em outras palavras, o sempre veneradoBourbon. No entanto, outros asseguram que as primeiras plantas de café vieram do Pará diretamente para o Sitio Bagaço, que tivemos a oportunidade de visitar. Neste caso, seria muito mais provável que fosse a variedade Typica.

De qualquer forma, o microclima reinante no Maciço ajuda bastante a adaptação do cafeeiro a começar pela boa característica de solo que observamos. Por estar localizado muito próximo a linha do Equador (pouca mais de 4o Latitude Sul), o sol é impiedosamente escaldante, tornando-se necessária a adoção de sombreamento para a lavoura. Segundo registros, esta técnica foi adotada já nos primeiros plantios, porém descontinuada por volta de 1970 em razão da escolha de um modelo de cafeicultura intensiva, que requer maior uso de fertilizantes químicos. Ah, e detalhe: o plantio feito à pleno sol, contrariando, digamos, a sabedoria dos antigos cafeicultores.

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Dez anos foram suficientes para que os produtores decidissem retomar o plantio sombreado, dado o estrago que os raios solares muito intensos fizeram e ainda faziam no que restou das lavouras de café sob insolação direta.

Visitamos duas propriedades: os Sítios Bem-Te-Vi eBagaço. O Bem-Te-Vi, do Sérgio Patrício, empresário dedica-se mais à pecuária leiteira, mas tem no café uma nova paixão. Como toda pessoa nova no ramo, sem qualquer tipo de amarras anteriores nem tradição, vem testando soluções diferentes da praticada na região como o uso da irrigação para socorrer nos momentos de seca inesperada, variedades modernas (Paraíso, fruto de pesquisa da EPAMIG) e adubação química. A lavoura está sombreada em sua maior parte e justamente a pequena área sem o conforto que as copas do ingazeiro podem oferecer, literalmente foi dizimada pela insolação. Mesmo assim, sua produtividade ainda é baixa em razão da pequena quantidade de plantas por área, muito abaixo do recomendável e, também,  pela distribuição pouco homogênea das árvores para o sombreamento.

Enquanto isso, no centenário Sítio Bagaço, hoje do poderoso Grupo Edson Queiroz, as lavouras estão quase sob uma pequena floresta de grande biodiversidade. A casa sede é grandiosa, reflexo de um tempo de riqueza experimentada durante o auge da cafeicultura no Baturité. Máquinas de benefício muito antigas, construídas em madeira, ainda estão em funcionamento no pequeno armazém daquele sítio.

Para nossa surpresa, ao entrar na lavoura sombreada por árvores centenárias,  encontramos plantas cujos frutos nos parecem muito mais próximos à variedade Typica, dado seu formato ovalado e longo.

Ver esses frutos atiçou minha imaginação e paladar!

Mas, ficou evidente que o café não é a cultura a quem eles, do Sítio Bagaço, dão a maior atenção. Talvez receba menos até que o chuchu, que estava em plena colheita.

Para boa parte dos produtores do Baturité, o sentimento que se tem é o de que produzir café é algo que beira o sacrifício.

Das belezas do Baturité

Daniel Kondo

Que o Brasil é um país cheio de surpresas, disso não há dúvida!

Um bom exemplo disso está no Ceará, Estado geralmente associado ao seu Verde Mar, sempre deslumbrante, ou ao castigadamente árido sertão cantado por seus cantadores tradicionais.

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Minha ida ao Ceará foi para conhecer uma região ainda mais surpreendente, uma vez que não tem nada a ver com a orla das suas belas praias e nem com paisagens desérticas. O destino era o Maciço do Baturité, cerca de 110 km distante de Fortaleza, onde está uma das cafeiculturas mais antigas do Brasil e, de quebra, a mais próxima da linha do Equador.

Uma viagem de pouco menos de duas horas, pois boa parte se desenrola entre subidas e descidas tortuosas, mas que a partir de Fortaleza é, como disse o Companheiro de Viagem Ricardo Moura, jornalista da EMBRAPA Agroindústria Tropical, um cardápio completo das paisagens cearences: a Praia, o Sertão e a Floresta Tropical! 

A parte do Sertão que atravessamos não é propriamente o do Semi Árido, pois é bem mais bem servido de chuvas, permitindo o plantio em larga escala do cajueiro. A partir da pequena cidade de Redenção, que recebeu este nome por ter sido a primeira região brasileira onde os escravos foram libertados pelos seus senhorios antes da Lei Áurea, inicia-se a subida do Maciço do Baturité. A paisagem muda rapidamente, tendo presença de árvores de grande porte e uma paisagem que lembra muito a Mata Atlântica que conhecemos no Sudeste Brasileiro. Segundo os especialistas, essa cadeia, bem como outras próximas, mescla plantas típicas da Amazônia com as da Mata Atlântica.

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A cidade de Baturité é a maior das que compõem este maciço com pouco mais de 30 mil habitantes, sendo o seu Portal por estar nas áreas baixas. Os nomes dos municípios dessa micro região serrana são de origem indígenas, soando divertidos:  PacotiGuaramirangaMulungu e Baturité

Do alto da serra, a pouco mais de 800 metros de altitude acima do mar, a vista é maravilhosa. Com uma elevação tão brusca no meio do Sertão do Semi Árido, o micro clima é muito mais ameno que no litoral, que somado à proximidade com Fortaleza, fez dessa área uma escolha natural para aqueles que querem fugir do calor. Para os cearences é o lugar perfeito para poder usar agasalhos, algo impensável na sempre ensolarada e quente orla marítma.  

Desse grupo de cidades, certamente a mais charmosa é Guaramiranga.

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Pequena, com pouco mais de 4 mil habitantes, foi moldada pelos prefeitos para ser essencialmente turística. Possui uma boa infraestrutura hoteleira, com muitas elegantes pousadas, e um povo afeito a receber as pessoas. Para alavancar o turismo, foi feito um grande trabalho para a preservação da cultura local, seu artesanato, culinária e festividades. Tivemos a sorte de que era a época de São Pedro, com ótimos grupos tocando forró e muitas delícias como o munguzá, cuscuz de milho e o baião de dois com feijão de corda. Delícia!

Para se ter idéia, num dos butecos, podia ouvir jazz e blues de alto nível jogando sinuca e bebendo a cachaça da região… Num dos eventos de jazz, um dos músicos que brilhou foi o excepcional guitarrista Stanley Jordan

E foi em Guaramiranga que nos encontramos com os cafeicultores da região e vários Companheiros de Viagem para o Simpósio de Revitalização do Cultivo de Café Agroflorestal do Maciço do Baturité.Mas, isto é o que vou comentar no próximo post

Café do Ceará: Baturité e outras belezuras

Daniel Kondo

O mercado de café é conhecido pela indomável paixão que desperta nas pessoas, compreendendo uma complexa cadeia de atividades, que inicia-se no campo desde o plantio das sementes e quase que finalizando no serviço numa xícara perfumada desse negro vinho.

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 Paixão. Este é o sentimento que move a todos nós neste mercado.  Muitos amigos e colegas dizem que trabalhar com café é casar com café.

Quem lida com a produção passa a manter um permanente diálogo com a Natureza, aprendendo a decifrar o que as folhas e frutos de cada planta querem comentar ou, ao olhar para o céu, perguntar aos ventos se a próxima chuva ainda está longe.

As pessoas que trabalham com o grão cru, selecionando e fazendo chegar até às bocas dos torradores, relacionam-se com cada grãozinho para tentar compreender o que se passou com sua vida, quase que como tentando abstrair cada momento, desde sua florada, os dias sob sol escaldante ou debaixo de refrescante chuva, até quando dedos lhe retiraram dos ramos para a secagem.

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Quem torra tenta fazer de cada lote de café um trabalho de artesão, conferindo cada alteração de cor e aromas. Finalmente, amadores ou profissionais, o preparar de uma xícara de um café que se considera muuuito bacana, torna-se o grande momento. Primeiro a expectativa ao moer os grãos, depois ao passar gentilmente a água pelas partículas, sentir o aroma que preenche o ambiente.

Para nós, Coffee Hunters, que temos o raro privilégio de poder trabalhar em todos segmentos, encontrar novas origens e diferentes cafés é tudo!

Saber de um novo grupo de produtores, de condições geográficas distintas e mesmo de um modelo de organização simples, mas eficiente, sempre nos instiga a ir atrás. E foi o que o Companheiro de Viageme também Coffee Hunter Sérgio Pereira, do IAC, SP, fez nesta semana ao explorar o Baturité e comentar sobre o Café do Ceará.

Gente, o Brasil é muito grandioso e cheio de surpresas, como diversos países e culturas como que mesclados num caldeirão…

Pessoas que fazem coisas impensáveis para outras de outras regiões, mas que por não saberem que se deveria ter como impensável, acabam fazendo e produzindo coisas maravilhosas. E uma das quais gostaria que tomassem conhecimento está no vídeo a seguir, que fala dos surpreendentes mais de 260 anos da cafeicultura cearence!

Vale a viagem e o aprofundar nesta paixão…