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São Paulo

The Coffee Traveler by Ensei Neto

ORIGEM

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Territórios – 2

Daniel Kondo

Escolher variedades de café não é tarefa tão simples quanto parece…

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Os pesquisadores brasileiros são considerados os melhores do mercado no trabalho de melhoramento genético e desenvolvimento de novas cultivares de café. Dentre as instituições mais importantes, certamente o centenário e venerando IAC – Instituto Agronômico de Campinas, de São Paulo,  aEPAMIG, MG, e o IAPAR do Paraná encabeçariam qualquer lista. Pela sua tradição e pelos grandes nomes que compuseram e compõe seus quadros, o IAC é a maior fonte de novas variedades de cafeeiros dentre eles o Bourbon Amarelo, Catuaís e Obatãs.

Dois temas sempre foram focos principais dessas instituições para a pesquisa genética: produtividade e resistência à doenças. A partir destas premissas, muitas das variedades modernas tem parte do robusta em seu DNA a partir do cruzamento com híbridos originários do Sudeste Asiático.

Na primeira foto, o Companheiro de Viagem Vagner Uliana, de Domingos Martins, ES, mostra um ramo de planta da variedade Catucaí, bastante difundida naquela área e nas Matas de Minas, região com a qual faz divisa. Esta variedade é um bom exemplo das que resultaram dos cruzamentos utilizando híbridos. Em geral, apresentam boa produtividade, porém algumas linhagens não são “boas de xícara”, ou seja, características de bebida típicas dos robustas se expressam como um sempre inconveniente toque picante na língua, devido ao maior teor de alcalóides, bem como certa aspereza. Mas, como deve ficar bem claro, esse tipo de resposta depende também em que Território a lavoura de café está!

Sendo um produto com DNAs de diferentes espécies, uma ou outra pode prevalecer em razão das condições climáticas. Ou seja, mais uma vez as características do Território tem influência decisiva “na xícara”.

Observe a segunda, foto com atenção!

Esta é uma flor de um cafeeiro Maragogipe de uma lavoura emPiatãChapada Diamantina, BA. Desta variedade, sua semente é conhecida como Grão Gigante ou Café Elefante, pois em geral tem um tamanho muito maior do que a média!

Estas plantas foram encontradas inicialmente na Bahia e é considerada uma, digamos, variação feita pela Natureza de variedades antigas como o Typica, que é a que foi inicialmente introduzida no Brasil via o Estado do Pará pelo folclóricoSargento-Mór Palheta.

A foto ao lado é de uma lavoura da variedade Typica, que costumo chamar de “Mãe de Todos”, em MulunguMaciço do Baturité, CE. Nesta região, que fica muito próxima à linha do Equador, o modelo de produção é o Agro Florestal, quando as lavouras são sombreadas. Apesar dos 800 m de altitude e do clima ameno, vale lembrar que a incidência dos raios ultravioletas é muito intensa e que sem o sombreamento feito por diversos tipos de árvores, o cultivo e produção do café seria praticamente impossível. Neste caso, houve uma adaptação do Território para a produção de uma variedade antiga.

Devido à busca da Produtividade combinada com Resistência a Doenças, a Qualidade na Xícara ficou quase esquecida. No entanto, um dos maiores geneticistas que o Mundo do Café já teve, Dr. Alcides de Carvalho do IAC, que deixou discípulos tão geniais quanto, como o Dr. Luiz Carlos Fazuoli, sempre teve uma queda particular pela “Qualidade na Xícara”. Algumas das variedades que hoje são consideradas verdadeiras “fábricas” de excepcionais bebidas como o Catuaí Amarelo 62 ou o Icatu Amarelo 3282,  fazem parte dessa maravilhosa história.

Ao lado, outra variedade que oferece excelentes xícaras: Mundo Novo Amarelo 4266. Planta com arquitetura (forma) muito parecida com o Mundo Novo Vermelho das linhagens 374, por exemplo, tem em sua carga genética muito do Bourbon Amarelo. A lavoura onde estas plantas estão é remanescente da geada de 75 e está em São Manuel, SP.

Ver estas plantas intactas e produtivas foi um dos grandes momentos para mim neste ano!

Cafés do Baturité: Da história e das variedades

Daniel Kondo

A história da cafeicultura no Maciço do Baturité tem um enredo particularmente interessante desde o seu princípio.

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Se lembrarmos que o café chegou ao Brasil via o Pará, é razoável pensar que Estados mais próximos se tornassem rota de propagação dessa preciosa planta, principalmente se levarmos em conta as condições de deslocamento que existiam na época. (Tudo bem, sabemos que em alguns Estados as estradas ainda continuam tão ruins como fossem ainda do tempo do Brasil Imperial…)

Imagine, então, uma linha traçada por um gigantesco compasso centrado no Pará, mais precisamente em Belém, e com abertura até a cidade de  Fortaleza, onde fica o Maciço. Ao girar para o Sul, percebe-se que este pedaço de circunferência mal passa pelo Oeste da Bahia e norte de Goiás. Ou seja, fica muito claro que dessa linha até o Rio de Janeiro a distância é enorme!

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Alguns levantamentos apontam que as primeiras sementes vieram da França diretamente para a Serra da Meruoca, já no Século XIX, o que faria supor que a variedade pudesse ser daIlha de Reunião: em outras palavras, o sempre veneradoBourbon. No entanto, outros asseguram que as primeiras plantas de café vieram do Pará diretamente para o Sitio Bagaço, que tivemos a oportunidade de visitar. Neste caso, seria muito mais provável que fosse a variedade Typica.

De qualquer forma, o microclima reinante no Maciço ajuda bastante a adaptação do cafeeiro a começar pela boa característica de solo que observamos. Por estar localizado muito próximo a linha do Equador (pouca mais de 4o Latitude Sul), o sol é impiedosamente escaldante, tornando-se necessária a adoção de sombreamento para a lavoura. Segundo registros, esta técnica foi adotada já nos primeiros plantios, porém descontinuada por volta de 1970 em razão da escolha de um modelo de cafeicultura intensiva, que requer maior uso de fertilizantes químicos. Ah, e detalhe: o plantio feito à pleno sol, contrariando, digamos, a sabedoria dos antigos cafeicultores.

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Dez anos foram suficientes para que os produtores decidissem retomar o plantio sombreado, dado o estrago que os raios solares muito intensos fizeram e ainda faziam no que restou das lavouras de café sob insolação direta.

Visitamos duas propriedades: os Sítios Bem-Te-Vi eBagaço. O Bem-Te-Vi, do Sérgio Patrício, empresário dedica-se mais à pecuária leiteira, mas tem no café uma nova paixão. Como toda pessoa nova no ramo, sem qualquer tipo de amarras anteriores nem tradição, vem testando soluções diferentes da praticada na região como o uso da irrigação para socorrer nos momentos de seca inesperada, variedades modernas (Paraíso, fruto de pesquisa da EPAMIG) e adubação química. A lavoura está sombreada em sua maior parte e justamente a pequena área sem o conforto que as copas do ingazeiro podem oferecer, literalmente foi dizimada pela insolação. Mesmo assim, sua produtividade ainda é baixa em razão da pequena quantidade de plantas por área, muito abaixo do recomendável e, também,  pela distribuição pouco homogênea das árvores para o sombreamento.

Enquanto isso, no centenário Sítio Bagaço, hoje do poderoso Grupo Edson Queiroz, as lavouras estão quase sob uma pequena floresta de grande biodiversidade. A casa sede é grandiosa, reflexo de um tempo de riqueza experimentada durante o auge da cafeicultura no Baturité. Máquinas de benefício muito antigas, construídas em madeira, ainda estão em funcionamento no pequeno armazém daquele sítio.

Para nossa surpresa, ao entrar na lavoura sombreada por árvores centenárias,  encontramos plantas cujos frutos nos parecem muito mais próximos à variedade Typica, dado seu formato ovalado e longo.

Ver esses frutos atiçou minha imaginação e paladar!

Mas, ficou evidente que o café não é a cultura a quem eles, do Sítio Bagaço, dão a maior atenção. Talvez receba menos até que o chuchu, que estava em plena colheita.

Para boa parte dos produtores do Baturité, o sentimento que se tem é o de que produzir café é algo que beira o sacrifício.