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São Paulo

The Coffee Traveler by Ensei Neto

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Sobre o tamanho da safra de café do Brasil

Daniel Kondo

A safra brasileira de café 2010/2011 está entrando em sua reta final de colheita. Tem espantado a muitos experientes comerciantes globais pelos solavancos das cotações nas Bolsas, tanto na NY/CSCE – New York Coffee, Sugar & Cocoa Exchange quanto na brasileira BM&F – Bolsa de Mercadorias & Futuros de São Paulo.

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Os preços do nosso amado grão há tempos não registram um movimento de valorização nesta época do ano, quando em geral os produtores entram fortemente no mercado vendendo os seus “periquitos” (= lotes de café com grande quantidade de grãos verdes…) ou outros com qualidade não tão nobre para fazer frente às despesas de colheita.

Este é um dos grandes gargalos financeiros dos cafeicultores: despesas constantes ao longo do ano-safra com adubações e tratamentos contra doenças e pragas, culminando com o alto fluxo de caixa exigido durante a colheita, que, devido ao intensivo uso de mão de obra e outros insumos energéticos, chega a representar até 40% das necessidades anuais. Isso em pouco mais de 90 dias!

Desde que as primeiras previsões desta safra começaram a ser divulgadas pelos mais diferentes agentes do mercado, ainda em 2009, num quase sempre exercício de xamanismo e futurologia, criou-se a expectativa de um número grandioso, muito devido ao fator bienalidade (= alternância de safras maiores e menores) que sempre envolve lavouras adultas do cafeeiro. Os números variaram de 43 milhões a até esticadíssimos 58 milhões de sacas de 60 kg líquidos. Mesmo com as posteriores revisões numéricas, o tamanho desta grande safra ficou estimada entre 45,8 milhões a 55 milhões de sacas de café, ficando a previsão oficial do governo, feita pela CONAB, em aproximadamente 47 milhões (este documento está disponível emDownloads).

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Com tanto café para ser produzido, havia um sentimento entre as casas de comércio de que os preços da commoditie deveriam se manter relativamente bem comportados, uma vez que saimos de uma safra conturbada pelo clima chuvoso durante a colheita em 2009 e que levou à uma queda na qualidade geral do café produzido no Brasil, mas com lavouras preparadas para uma grande produção.

As cotações nas Bolsas tem um comportamento peculiar: são extremamente sensíveis (ou “voláteis” como se diz no jargão do mercado) às especulações, principalmente as climáticas, e nem sempre tão rápidas quando de efeitos de prazo mais longo como o de uma seca, por exemplo. E aqui uma observação: o único país que dá essa “sensibilidade” às cotações nas Bolsas de Mercadorias durante o período de colheita é o Brasil porque o seu chamado Cinturão do Café está situado  entre os paralelos 12° e 24° de Latitude Sul, ou seja, em áreas onde eventuais geadas podem ocorrer. As outras origens de café estão muito mais próximas à linha do Equador do que dos Trópico, como acontece com a cafeicultura brasileira.

Bem, se tudo levava a crer que a safra seria grande, como está se configurando, qual seria a razão para que as cotações atingissem valores tão elevados?

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Fazendo uma memória do chuvoso clima de 2009, um considerado quase infindável número de floradas para padrões brasileiros fez notar o seu efeito durante a colheita que está acontecendo agora. Uma impressionante quantidade de grãos verdes, que, nesta época, quando estamos entrando nos últimos 30 dias do Inverno Brasileiro, não conseguirão amadurecer como deveriam!

Tradicionalmente, em algumas regiões cafeeiras é possível produzir de 35% a 45% de cerejas descadadas, conhecidas como CDs, do total da produção. Neste ano, observa-se que esse número deve ficar em modestos 12% a 20% . Os grãos verdes, por outro lado, ficam em torno dos 5% a 12% do total, dependendo da região; neste ano estes números poderão simplesmente dobrar!

Toda safra possui frações de cafés desde altíssima até baixa qualidade  sensorial, sendo cada uma destinada a mercados específicos. O ideal seria que a fração de baixa qualidade fosse pequena, ficando a maior parte com qualidade mediana a boa.

O grande problema nesta safra reside no fato de que uma menor quantidade de cafés de boa a alta qualidade serão ofertados, fazendo crescer substancialmente a distância com os de baixa qualidade, que neste ano serão a grande maioria. Já se observa em algumas regiões um descolamento de preços que chega a ultrapassar os 70% de diferença a favor dos cafés com boa qualidade.

Quando isto acontece, posso dizer que não é bom para ninguém, seja para o produtor, para o consumidor ou o para o próprio mercado. Afinal, não existe milagre: se faltar bons cafés e fartamente sobrarem ruins, o resultado não pode ser muito alentador…