Desvendando sabores…
Thiago Sousa
Desvendar os sabores dos cafés é coisa apenas para iniciados?
Esta é uma questão que constantemente as pessoas me perguntam, pois acham algumas descrições de bebida “muito surreais”….
Bem, para facilitar, vamos iniciar olhando o “Menu” atual da Stumptown, uma micro-rede premium de cafeterias do Oregon, USA.
Muito simpática a capa, não?
De cada Ano-Safra, sua equipe percorre diversos países produtores procurando por lotes de café que sejam absolutamente interessantes, especiais e, quase sempre, únicos.
Veja, agora uma seleção de cafés do Leste da África:
Foram listados um café do Kenya e dois da Ethiopia.
Os cafés do Kenya se caracterizam por serem muito ácidos devido à presença do ácido fosfórico. Tanto é que para alguns importadores conferirem se realmente se trata de um café kenyano, é feita a verificação do teor de ácido fosfórico.
O ácido mais comumente encontrado nos cafés de quase todo o mundo é o ácido cítrico, que é o que se encontra na laranja e no limão.
O ácido fosfórico é o que está presente na Coca-Cola.
Sendo produzido em elevadas montanhas, notas de sabor de frutas e flores são normais no café do Kenya. A presença do ácido fosfórico é indicada pela percepção do sabor de hibiscus.
O café etíope Limu de floresta já teve um comentário em post anterior.
O Harar é um café de sabor que apresenta notas achocolatadas combinadas com frutas vermelhas, geralmente de amora preta, que possui mais tanino. É isso que, muitas vezes, dá a percepção de que é um café de sabor pesado.
Observe, agora, a descrição do café de Sumatra:
Sim, você não leu errado. A segunda nota de sabor percebida pelo avaliador da Stumptown é a de “cannabis” !
Eu, particularmente, não saberia identificar esse sabor, mas o restante é bastante típico de um café de Sumatra: um toque de especiarias (representado pela aniz) e bebida encorpada.
Por vezes, um leve toque de terra se faz presente.
Qual a mensagem?
Deve ficar claro que para se fazer uma avaliação sensorial, ao menos três elementos são preponderantes:
- o primeiro é, sem dúvida, ter uma grande memória olfativa-gustativa. Esta é a sua biblioteca;
- o segundo é a capacidade de identificar as notas de aroma ou sabor que normalmente estão num conjunto complexo; e
- o terceiro é a capacidade de associar ou correlacionar as notas percebidas com os itens de sua “biblioteca”.
Portanto, é uma mescla de aptidão e treino, muito treino.
Você pode começar hoje: experimente a grande variedade de frutas e vegetais disponíveis nesta época do ano.
Cheire, mastigue e marque.
Memorize.
Pratique.
É muito estimulante!