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São Paulo

The Coffee Traveler by Ensei Neto

CIÊNCIA

Filtering by Tag: Vale dos Vinhedos

Nada será como antes – 2

Thiago Sousa

A capacidade do Homem para estabelecer novos caminhos nos diversos campos do conhecimento é inesgotável!

Quando se tem a impressão de que um determinado tema está definitivamente esgotado, surge alguém com uma leitura absolutamente nova e surpreendente, fazendo com que novas discussões possam ser feitas.

A Escócia mantém há muito tempo o áureo conceito de berço do Whisky (ou “o bom e velho” Scotch…), produzido em suas mágicas Highlands. Malteação impecável, destilação cuidadosa e uma grande dose de tradição construíram uma história de um dos mais emblemáticos destilados do mundo. Tanto é que aqueles produzidos em outros países, como o norte americano Bourbon, são obrigados a usar a grafia Whiskey!

No entanto, o Mundo do Whisky/Whiskey ganhou novos contornos com a impressionante conquista de Melhor Whisky do Mundo, 2014, pelo nipônico YAMAZAKISingle Malt Sherry Cask 2013, segundo a publicaçãoWorld Whisky Bible!

Uma bebida com tudo em seu devido lugar.

Esse foi o veredito, que deve estar provocando profunda reflexão nas cabeças pensantes das destilarias escocesas, além de uma provável grande cefaléia…

Um exemplo que é, sem dúvida, embasbacante. Mas muitos outros têm surgido aos borbotões.

Um dos mais festejados produtores de cacau fino, equivalente ao Café Especial ou de vinhos da categoria Grand Cru, é o brasileiro João Tavares Bisneto, duas vezes laureado pelo Salón du Chocolat de Paris. Imagine o que é desbancar um clássico cacau venezuelano, reconhecido como uma das iguarias desse doce mundo, principalmente pela diversidade de variedades Criollas (ou nativas, em geral resultado de mutação espontânea).

João, que é engenheiro, resolveu se dedicar à produção de cacau num momento em que essa era uma cultura fadada a um melancólico fim devido à força destrutiva daVassoura de Bruxa, que estava dizimando as lavouras baianas. Determinado, autodidata, altamente técnico e, além de tudo, criativo e de curiosidade sem fim, João estabeleceu novo padrão de produção de amêndoas através de processos fermentativos com maior controle, além da incansável pesquisa das inúmeras variedades de cacau. No Brasil um pouco de sua produção pode ser encontrada nas barras de chocolate da AMMA e da linha Harald UNIQUE, que mostram um resultado exuberante na degustação.

Vinhos maravilhosos são produzidos apenas no Velho Mundo ou, classicamente, a Europa?

Depois da famosa degustação comparativa feita pelo britânico Steven Spurrier em solo francês de vinhos daquele país ante os produzidos no Nappa Valley, USA, e que foi divertidamente retratada no filme Bottle Shock, que no Brasil recebeu o tonto nome O Julgamento de Paris.

Conhecido como Paris Wine Tasting 1976, esta degustação teve resultados surpreendentes ao alçar ao topo vinhos produzidos fora das nobres e tradicionais regiões de Bordeaux e Borgonha. Novamente tudo graças àobstinação dos produtores californianos como os Barrett do hoje venerado Chateau Montelena.

Da mesma forma, hoje o Brasil também se destaca na produção de magníficos espumantes, principalmente no Vale dos Vinhedos, primeira DO para vinhos de nosso país. Depois de muita insistência na produção de tintos, quase sempre no máximo medianos, os vitivinicultores da Serra Gaúcha descobriram a verdadeira vocação local, ao darem maior atenção às castas brancas. Condições geográficas tão perfeitas atraíram os grandes conglomerados vinícolas franceses, consolidando a região como polo produtor.

E como fica para o café?

Bem, muita coisa está acontecendo em velocidade frenética e em breve grandes novidades serão anunciadas… realmente, nada será como antes!

Subtropical, Serjão, Subtropical! – 1

Thiago Sousa

23º 27’.

Grave bem esse número!

Ele nada mais é do que o ângulo correspondente à inclinação da Terra em relação ao seu Eixo Norte-Sul. Essa inclinação é um fantástico truque da Natureza para criar um fenômeno chamado Estações do Ano!

Primavera, Verão, Outono e Inverno. Determinadas também pelo movimento de Translação do nosso planeta e que cria a percepção do Ciclo Anual em que se baseia o Calendário Gregoriano e seus 12 meses.

Caso essa inclinação da Terra não existisse, esta giraria em torno do Sol sempre com o mesmo alinhamento, de forma que o Equador corresponderia ao ponto de maior insolação de forma muito mais concentrada, enquanto que os pólos continuariam extremamente frios, porém sem o famoso efeito do Sol da Meia Noite, que acontece uma vez por ano.

O fato é que esse ângulo também corresponde à localização das linhas dos Trópicos de Capricónio e Câncer. Só para lembrar, o Trópico de Capricórnio passa na Grande São Paulo.

Assim, quanto mais distante da linha do Equador, mais evidentes são as Quatro Estações do Ano, principalmente entre as linhas dos Trópicos e dos Círculos Polares.

O cafeeiro foi descoberto nas florestas da Etiópia, onde parte de sua produção ainda continua da mesma forma, em modelo extrativista. Daí seguiu para o Yemen, onde começou o seu cultivo sistematizado. Logo, os yemenis descobriram que os locais mais adequados eram as suas regiões montanhosas, como Haraz (na foto ao lado) e Jabal Bura, entre estonteantes 1.800 m e 3.000 m de altitude. Se recordarmos um pouco das aulas de geografia climática, no Brasil existe uma faixa que tem o predomínio do Clima Subtropical de Altitude, tendo as Serras da MantiqueiraÓrgãos e Caparaó como eixos principais, além de um outro que segue em direção a Poços de Caldas. Sabe-se que, num determinado local, subir 100 metros em altitude em geral observa-se uma queda da temperatura por volta de 0,7º C. Em regiões de montanha, por vezes encontram-se variações de até 500 m de altitude, o que levaria a uma variação de temperatura em torno de 3,5º C. Isso tem grande impacto, sim, em qualquer tipo de planta!

Segundo os botânicos, as plantas podem ser agrupadas a partir de sua capacidade de adaptação ou de como seu metabolismo responde a determinados estímulos climáticos. O cafeeiro, por exemplo, é uma árvore frutífera cujos frutos tem um ciclo, que vai de sua florada até quando maduros, determinado inclusive pelo clima da região onde é cultivado. Isso acontece também com outras frutíferas, como a videira e a macieira.

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A região do Vale dos Vinhedos, no Rio Grande Sul, é reconhecida hoje pela qualidade de seus vinhos brancos, principalmente de uvas Chardonnay, e dos excepcionais espumantes, de tão boa estirpe quanto os vinhos franceses. Porém, essa vocação levou certo tempo para ser compreendida pelos produtores e técnicos da região, que tinha como propósito inicial a produção de castas vermelhas como o Merlot e Cabernet Sauvignon.

Para felicidade de todos, houve essa importante correção de rota, seguindo em direção às belas uvas brancas, e grande espumantes brasileiros já borbulham em muitas taças mundo afora.

Portanto, observar o conjunto que compõe um território é decisivo para compreender porque uma determinada cultura se impõe pela excelência de seus produtos.

Esse caso é emblemático para entender o que se passa com o café.