18 de junho de 2008: Cem anos por um grão de café
Thiago Sousa
100 anos de Imigração Japonesa no Brasil!
Foi o fluxo de imigrantes mais bem datado em nosso país, pelo fato de virem de um outro tão longínquo e com pessoas de traços muito diferentes dos ocidentais. Em 18 de junho de 1908 atracou no Porto de Santos o navio Kasato Maru, trazendo as primeiras 165 famílias japonesas para o Brasil.
E sabem quem foi o responsável por tudo isso?
Sim, se você respondeu o café, acertou em cheio!
Vamos lembrar: na segunda metade do Século XIX o Brasil já havia assumido o posto de maior produtor mundial de café, porém sua produção era toda conduzida por mão-de-obra escrava. Com a assinatura da Lei Áurea, pela Princesa Isabel, extinguiu-se a escravidão, após uma sucessão de leis que já prepararam o caminho para este desfecho, como a Lei do Ventre Livre.
Sem escravos, os fazendeiros de café tinham de repor a mão-de-obra, fazendo surgir com mais intensidade os fluxos de imigrantes, incialmente da Europa, e, depois, do Japão.
O Japão no início do Século XX estava com sua economia abalada por diversas guerras travadas no Oriente, além do que havia uma forte necessidade de iniciar sua integração à Revolução Industrial. Caso ainda não tenha visto, o filme O Último Samurai (The Last Samurai), de 2003, com Tom Cruise e Ken Watanabe, mostra um pouco desse período de transição no Japão, durante a Dinastia Meiji.
Firmou-se um convênio entre o Brasil e o Japão estimulando a imigração. Como mote, corria de boca em boca que num longínquo país chamado BU-RA-DI-RU (=pronúncia japonesa para Brasil) “o ouro dava em árvores”!
Era o que bastava para que muitos decidissem se aventurar num país desconhecido para conseguirem uma melhora na sua vida financeira. Obviamente, foi uma grande decepção ao saber que não era ouro que dava em árvores, mas uma frutinha vermelha chamada ko-hi (pronuncía-se ko – rrí, para o equivalente em japonês de ‘café”), cuja bebida eles consideraram mazui (= sabor ruim) por ser muito forte, tanto na cor quanto no sabor. Afinal, o chá sempre foi a bebida mais importante para o japonês.
Meus avós paternos, de quem herdei o nome, chegaram no fluxo de 1918, seguindo diretamente para o interior de São Paulo, para a fazendo da família Adhemar de Barros.
Vivenciaram toda essas histórias e, depois, compartilharam com os seus descendentes. A admiração do meu avô pelo país foi tão grande que no início da década de 30 ele se naturalizou brasileiro. De qualquer forma, minha iniciação no café foi um retorno às origens.
Os japoneses se instalaram principalmente no Norte do Paraná e na Alta Paulista e região central de São Paulo. Daí existirem tantas comunidades nipônicas nesses lugares.
E o café foi ganhando presença no mercado japonês, sendo este um dos mais importantes e sofisticados do mundo.
No Japão, há uma nítida preferência pelos Cafés do Brasil, quando você conversa com pessoas com mais de 40 anos, que consomem principalmente o café de coador.
O Japão hoje, também, já se rendeu ao movimento dos Cafés Especiais. A Starbucks possui já presença maciça e outras redes norte-americanas também mantém um bom ritmo de crescimento.
Por isso, o café é responsável pela vinda dos japoneses ao Brasil, formando a maior comunidade fora do Japão, sendo São Paulo a maior cidade de nikkeis (nome dados aos descendentes em geral) no mundo.
Incrível como esse grãozinho mexe com o mundo!