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São Paulo

The Coffee Traveler by Ensei Neto

HISTORIA

Filtering by Tag: Lavouras

Sobre os desafios da produção de café – 1

Thiago Sousa

Depois de um longo silêncio, devido a um período particularmente intenso de trabalhos, volto a escrever pedindo, antes de mais nada, desculpas pela demora.

Porém, o que chamou a atenção nessas últimas atividades foi a sempre angustiante pergunta feita por produtores e alguns pesquisadores sobre como lidar com os Desafios da Produção de Café. Resolvi dar minha contribuição com esta série.

Como se sabe, o café é uma bebida classificada como Produto de Território porque sofre influência direta de sua Localização (que leva em conta a Latitude, a Altitude e Modelo de Exposição ao Sol onde a lavoura está plantada), sua Botânica (porque cada variedade, devido à sua carga genética, tem um modo particular de, digamos, trabalhar…) e o Manejo (que são as técnicas e tecnologias empregadas pelo produtor).

Ao mesmo tempo, devido à sua gigantesca produção, colocando-se como o segundo produto mais comercializado no mundo, as sementes cruas do cafeeiro, conhecidas no mercado internacional como GREEN COFFEE, faz parte do grupo das chamadas Mercadorias Comuns ou Commodities.

As Commodities são regidas por duas leis implacáveis, formuladas por grandes pensadores da Economia: a primeira diz que “a incorporação de tecnologias permite o aumento constante da produtividade”, enquanto que a segunda lei, “em decorrência da Primeira Lei, os preços tendem a ficar mais baixos”.

Se observarmos a evolução da cafeicultura ou seu modelo de produção a partir dos anos 1970 sob a ótica da Primeira Lei, que se refere à incorporação de tecnologias, no Brasil  ela se comportou perfeitamente!

Naquela época, a Geografia da Cafeicultura do Brasil se concentrava entre os Paralelos 21o  e 23o Sul: Sul de Minas, Mogiana, Alta Paulista e o pujante Norte do Paraná. Em 1975 ocorreu uma das maiores geadas de todos os tempos, arrasando boa parte da produção do café brasileiro, principalmente das áreas mais distantes da Linha do Equador.

Cafeicultores do Paraná se deslocaram em massa para outras localidades, traumatizados com os estragos do frio invernal, começando a se fixar na pontinha mineira do Planalto Central, que ficou conhecida como Cerrado Mineiro. Cidades como Araguari e Patrocínio receberam grandes levas de produtores paranaenses e também da Alta Paulista, onde recomeçaram sua missão de produzir o Negro Vinho.

Áreas planas, extensas a perder de vista; clima estável com apenas duas estações, a chuvosa e a seca. Esse foi o ponto de partida do novo desafio: desbravar o Cerrado, a nova fronteira da cafeicultura.

O modelo de plantio mais comum de cafezais no Norte do Paraná e na Alta Paulista, regiões que são bastante próximas, era o chamado Quadrado: as covas onde as plantas eram fixadas formavam quadrados com lado em torno de 3,6 m a 4,0 m, sendo que colocava-se de 2 a 4 plantas de café em cada cova. Se fizermos uma conta rápida, verifica-se que a densidade populacional de cafeeiros (fazendo as contas pelo número de covas) era muito baixa: meras 625 covas por hectare (lembrando que 1 ha = 10.000 m2). Mesmo com 2, 3 ou 4 plantas por cova, o desempenho da lavoura não era tão bom porque problemas com as plantas invariavelmente aconteciam.

Foi quando ganhou importância os estudos com espaçamento e o aumento da densidade populacional saltou rapidamente: plantios mais modernos, conhecidos como Em Renque, ou seja, quando os cafeeiros formam uma fila, se tornaram predominantes, fazendo com que essa população por unidade de área passasse para números expressivamente maiores, como 2.500 plantas/ha, 3.500 plantas/ha e até 5.000 plantas/ha.

O Rearranjo Espacial foi suficiente para que a produtividade aumentasse dramaticamente em pouco mais de 15 anos, saindo de pouco mais de 6 sacas de 60 kg/ha para 16 sacas/ha. Já no final dos anos 90, a média de produtividade de café do Brasil começou a se aproximar das 20 sacas/ha.

O plantio Em Renque permitiu que rapidamente um Segmento de Apoio à produção se desenvolvesse: a Mecanização.

O final dos anos 1980 e meados de 1990 foi um período muito fértil no surgimento de tecnologias para os trabalhos de campos. Adubadeiras, aplicadoras de calcáreo, pulverizadores e até colheitadeiras surgiram a partir da percepção da indústria e seus “Professores Pardais” de que a mecanização nas lavouras era um caminho sem volta. Até porque, ainda que pontualmente, era notado um fluxo crescente de trabalhadores do campo para as cidades.

Os dados do IBGE mostram claramente que o Brasil naquela época estava consolidando seu perfil populacional como (quase) estritamente urbano, quando mais de 70% da população do pais vive nas cidades.

Aumentar a produtividade, atendendo à Primeira Lei das Commodities, naquele período se deu exclusivamente pelo Rearranjo Espacial.

Incrível, não?

Norte Pioneiro do Paraná sob um olhar nipônico

Thiago Sousa

A maior colônia japonesa do mundo encontra-se no Brasil e sua trajetória se iniciou com um chamado para os Campos de Café.

No final do Século XIX, o Japão estava com sua economia arrasada devido a seguidos confrontos bélicos com seus vizinhos continentais como a Coréia. Nesse mesmo período uma revolução social acontecia no Brasil com a Lei da Abolição da Escravatura, mais conhecida como Lei Áurea, assinada pela então Princesa Isabel, filha de D. Pedro II, encerrando por decreto uma das páginas negras da História Social do Brasil.

Com a alforria dos escravos, os fazendeiros produtores de café, juntamente com o governo republicano recém iniciado, foram em busca de trabalhadores em países que estavam passando por grave crise econômica como era o caso do Japão, no Extremo Oriente, e da Itália e Espanha, na Europa.

Foi no Japão que a notícia de que no Brasil o dinheiro dava em árvores repercutiu intensamente!

A primeira leva de imigrantes do País do Sol Nascente aportou em Santos em meados de 1908, esperançosos de fazer fortuna e retornar ao Japão.

O movimento imigratório japonês se reforçava a cada dez anos (meus avós paternos, por exemplo, desembarcaram em 1918) e, uma vez em solo brasileiro, eram conduzidos às fazendas de café no interior de São Paulo e do Paraná. No fluxo de 1927 veio um jovem de nome Haruo Ohara, ainda com 18 anos, que foi designado para trabalhar em uma fazenda no interior de São Paulo. Com grande capacidade de trabalho, conseguiu juntar dinheiro suficiente para comprar um pequeno pedaço de terra nos arredores de Londrina, Norte Pioneiro do Paraná.

Além da inevitável lavoura de café, plantou frutas diversas em sua Chácara Araras, onde criou sua família. Porém, quando tinha 29 anos mergulhou no mundo na fotografia.

Apesar de querer simplesmente fazer um relato fotográfico de sua família e seu dia a dia, Ohara revelou olhar de notável sensibilidade, capturando momentos que emocionam pela beleza plástica e rigor estético.

Com o passar dos anos, esses registros passaram a constituir parte da memória do Norte Pioneiro do Paraná e seus anos de glória. Até a nefasta geada negra de 1975, o Estado do Paraná reinava como o maior produtor de café do Brasil, responsável por quase metade de tudo o que se produzia. Porém a partir do inverno de 1975, o parque cafeeiro quase se extinguiu, restando menos de 10% da área cultivada e fazendo o Paraná perder 80% de seu faturamento.

Algumas geadas menores depois, apesar de uma assustadora em 1994, o Norte Pioneiro retomou seu caminho como Origem de grande importância não apenas pela sua saborosa história e sua incrível Terra Roxa, mas pelas características sensoriais redescobertas em excelentes lotes de café.

Ohara capturou e perpetuou alguns dos mágicos momentos desse rico período da cafeicultura paranaense como poucos. Na foto ao lado, tirada em 1965, está seu filho em primeiro plano, vendo-se uma bela lavoura de café ao fundo, no Sítio Hasegawa, Londrina, PR. Observe a belíssima composição e a delicadeza das sutis variações do cinza!

Ohara faleceu em 1999, com 90 anos.

Em 2008, sua família doou esse rico acervo para o Instituto Moreira Salles, que publicou nesse mesmo ano o livro Haruo Ohara – Fotografias (IMS, 2008, 159 páginas).

PSLondrina não faz parte da área com Indicação de Procedência NORTE PIONEIRO DO PARANÁ, cuja gestão estratégica é feita pela ACENPP – Associação dos Cafés Especiais do Norte Pioneiro do Paraná.

Treinando Caçadores de Cafés – PROJETO #1

Thiago Sousa

Chegou o grande momento!

Logo mais estarei iniciando o PROJETO 1 do Treinamento para Caçadores de Cafés (Coffee Hunters).

Disposição para percorrer lugares distantes, muitas vezes sem o conforto do lar, enfrentando poeira, chuvas e até situações inusitadas com animais ou mesmo com eventos da Natureza… assim é a vida de quem quer se dedicar a procurar cafés absolutamente incríveis!

Nessas buscas nem sempre há o glamour que todas as pessoas imaginam quando apreciam uma deliciosa xícara de café, cuja bebida pode apresentar notas de sabor deslumbrantemente realçadas por uma torra competente. Além de um preparo técnico impecável, com boa experiência nos aspectos botânicos, agronômicos e geográficos, ter a sensibilidade para perceber detalhes como o tempo médio de insolação, por exemplo, ou mesmo a trajetória do sol em relação a uma determinada lavoura, rigor no acompanhamento do processamento para a secagem dos grãos e grande dose de paciência para conferir os diferentes ajustes das máquinas de seleção dos grãos de café são predicados desejáveis e quase obrigatórios de profissionais que puxam para si a missão de encontrar essas jóias de aroma e sabor.

Assim, digo que é com grande satisfação que um seleto grupo de pessoas irá me acompanhar durante 10 (dez) dias, que certamente passarão num piscar de olhos, para conhecer e aprender a observar A CAMPO tudo o que pode tornar grãos de café em enredos de experiências sensoriais inesquecíveis quando servidos em xícaras.

Este grupo está inaugurando um novo segmento para os treinamentos de alto nível técnico e é composto por profissionais de empresas focadas em cafés especiais, preocupados em oferecer excelentes grãos para seus clientes. A grande recompensa para estes profissionais será ver pessoas felizes e entusiasmadas com belas xícaras de café com resultado dessa aventura!

Farei diversos posts durante a viagem para que todos possam acompanhar esses intrépidos Caçadores de Cafés!

Venha nos acompanhar!

Nos campos de café do Paraná: Norte pioneiro – 1

Thiago Sousa

O Estado do Paraná foi durante muitos anos o maior produtor de café do Brasil. Era pensar em café e lembrar do Paraná.

Mas as geadas foram as responsáveis por um forte movimento de migração dos cafeicultores rumo a outras paragens de clima mais quente, principalmente em meados da década de 1970. Foi nessa época que, por exemplo, a cafeicultura foi implantada na região do Cerrado Mineiro.

Dos que permaneceram nas tradicionais regiões cafeeiras paranenses, muitos optaram por mudar para outras culturas, típicas do clima subtropical, como o trigo e a aveia.

A crise de preços que aconteceu no final dos anos 90, combinada com as perversas geadas do início de 2.000, fez com que a produção de café do Estado ficasse abaixo de 500.000 sacas de 60 kg, número que nem de longe mostrava a pujança e importância que essa cultura teve.

Atualmente, duas são as áreas mais importantes na produção de café: o Norte do Paraná, que tem como cidades polo Apucarana e Maringá, e o Norte Pioneiro, um quadrilátero formado pelas cidades de Jacarezinho, Tomazina, Ibaiti e Cornélio Procópio, tendo influência de Londrina.

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A importância dessas regiões para a cultura do café era tão grande que atraia muitos investidores estrangeiros que se empolgaram com as possibilidades oferecidas. Grupos vindos da Suiça, Alemanha e dos Estados Unidos se instalaram ao longo da região com o objetivo de produzir café.

É possível encontrar  diversas fazendas com as estruturas originalmente levantadas por aqueles empreendedores, dando uma idéia do notável avanço tecnológico existente na época e alguns conceitos de visão de sociedade pelo layout das sedes.

Uma dessas fazendas emblemáticas é a quase centenária Fazenda Califórnia, em Jacarezinho, hoje nas mãos da família Rodrigues, de Ourinhos, SP. Luiz Roberto Rodrigues, que é um dos administradores, comentou-me que as instalações tem soluções que podem ser consideradas avançadas ainda hoje, sendo muitos dos projetos foram elaborados por técnicos ligados à Universidade da Califórnia, USA. Daí a razão do nome adotado pela fazenda.

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A primeira foto, ao alto, mostra o complexo de dutos que levavam os grãos colhidos de café para os terreiros após passarem pelo lavador.

A segunda foto nos dá uma idéia dos caminhos percorridos pelos grãos de café e como chegavam aos diversos pontos do imenso terreiro de tijolos. Impressionante!

Finalmente, a terceira foto mostra o conjunto de tanques utilizados para a demucilagem do café, num processo de preparo para secagem denominado fully washed, muitíssimo empregado nos países da América Central e Colômbia, por exemplo.

Isso nos dá a dimensão do que a região tem de história e estórias para contar…