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São Paulo

The Coffee Traveler by Ensei Neto

MERCADO

Filtering by Tag: Fair Trade

Comunicação universal: Embalagens de café – 1

Thiago Sousa

O nosso grãozinho de café percorre um longo caminho da lavoura até a xícara, passando por mãos que adubaram ou colheram,  outras que secaram cuidadosamente as sementes, aquelas que as torraram até as que fazem a extração do nosso desejado vinho negro.

Com o aumento da parcela de consumidores conscientes, pessoas preocupadas com questões sociais e ambientais, um dos grandes desafios tem sido o de fazer uma comunicação correta sobre os grãozinhos de café contidos em cada pacote. O consumidor consciente faz sua escolha de produtos segundo critérios filosóficos, tendo por referência selos indicativos de procedência, modelos de produção ou mesmo de um determinado conceito alternativo.

A primeira legião desse tipo de consumidor foi a que buscava nos produtos orgânicos certificadosuma alternativa aos que são produzidos segundo tecnologias por eles consideradas convencionais, que empregam adubos industriais e agroquímicos sintetizados.

Com o tempo, outros sistemas de certificação, que nada mais são do que um conjunto de práticas de produção organizadas em Protocolos, inspecionadas e garantidas por organizações de auditoria, surgiram, cada qual com um foco específico. Dentre os selos de certificação existentes no mercado, podemos apontar oFair Trade, que tem por princípio promover o chamado comércio justo entre pequenos produtores e a indústria, e o Utz Certified, que trabalha com um protocolo de procedimentos e rastreabilidade, comumente exigido no mercado europeu e japonês.

Daí p’ra frente, o grande nó é fazer a comunicação sobre esses selos ou mesmo procedimentos que a torrefação ou a cafeteria adota como parte de seu filosofia de negócio, pois ainda os consumidores conscientes fazem parte de uma minoria. A grande maioria busca, antes de tudo, o prazer de beber um belo café…. (como digo, Qualidade abre portas e conduz a caminhos muito prósperos!).

Um caso muito bacana é o do Union Hand-Roaster, UK.

Fundado em 2001 pela dupla dinâmica Jeremy TorzCupper e Green Coffee Buyer, e Steven MacatoniaRoast Master, essa pequena torrefação tem como filosofia buscar exclusivos e deliciosos lotes de café, preferencialmente auxiliando pequenos produtores certificados como Fair Trade ouRainforest Alliance ou Orgânicos. Portanto, juntam IDEALISMO com RAZÃO!

Para facilitar a comunicação de conceitos tão complicados como rastreabilidade e comércio justo, juntamente com a alta qualidade dos lotes escolhidos, adotaram uma comunicação visual fantástica para seus cafés, como pode ser observada na primeira foto, no alto. O café produzido em Rwanda, paupérrimo país africano, por exemplo, tem certificação Fair Trade (veja o selo estampado) e sua bebida é considerada equilibrada e “fácil” de ser bebida. O ícone da balança resume tudo isso!

Solução criativa!

Tradicionalmente as embalagens de café sempre tiveram cores fortes com predominância do marrom, vermelho e preto, que transmitem a sensação viva do grão torrado, da temperatura de serviço associada à bebida (afinal, é cultura brasileira beber o café “pelando” de quente…) e sua intensa cor como a noite (como descrito pelos poemas árabes sobre o café). No entanto, novas cores tem surgido para compor elegantes embalagens de café, tons pastéis e imagens, como o pessoal do Union fez.

Uma das novas cores que vem sendo empregada é o branco. Sim, branco!

Até pouco tempo era considerada um cor totalmente fora de cogitação para uso, porém com a busca pela transparência nas atitudes e negócios, pelo sentimento de solidariedade e compartilhamento entre as pessoas, a cor branca tem conquistado cada vez mais espaço. Num lance ousado, odesigner mineiro e Companheiro de Viagem Rodrigo Greco, considerado um dos mais talentosos da nova safra de criadores,  apostou no branco para dar vida a uma embalagem de um novo produto de um cliente, cujo foco estava na identificação da origem da matéria prima. Veja o destaque dado à lavoura de café de onde os grãos que primariamente compõem o blend sairam, numa bela composição.

Agora, o toque genial está na caracterização do código de barras, que ganhou uma inusitada aplicação da silhueta de uma pessoa secando o café no terreiro!

Na última foto, Greco posa à frente da impressionante cachaçoteca do boteco Via Cristina, de Belo Horizonte, MG, onde degustamos algumas simplesmente fantásticas…

SLOW FOOD: Em busca das raízes

Thiago Sousa

A combinação do crescimento da população urbana, da necessidade de atender a demanda por alimentos e dos avanços tecnológicos da indústria de alimentos fez surgir um tipo de comida que é conhecida como Fast Food. Na realidade, o nome Fast não vem apenas da raiz da palavra, que significa “rápido”, mas de todo um conceito de padronização de procedimentos, de processos e de produtos. O serviço final, que também deve ser fast, acaba sintetizando esse conceito.

Imagine só: quantos sanduíches são vendidos numa grande rede, seja do “M” amarelo ou do “B” vermelho?

Certamente são números grandiosos. Se cada sanduíche tem, digamos um hamburger de 120 gramas, que nem é apenas material cárneo, pense na quantidade de matéria-prima necessária para atender toda essa demanda!

Além disso, como a padronização de produto tem de ser rigorosíssimo, temperos e conservantes tem de ser adicionados incondicionalmente para que cheguem às centenas de lojas em todo país, partindo de pouquíssimas unidades fabricantes, com, digamos, características aceitáveis para o consumo.

O movimento SLOW FOOD iniciou-se na Itália, em 1986, como um manifesto contra a “Cultura de Massa” que o Capitalismo estava impondo na Europa. Sim, esse movimento começou com viés socialista liderada por pessoas da chamada Esquerda Italiana. Hoje, porém, politicamente a Esquerda Italiana está considerada acabada e o Slow Food alçou vôos mais amplos, muito além de uma simples ideologia política.

Contando hoje com mais de 100.000 membros de 132 países, tornou-se antes de tudo um movimento de busca e preservação das raízes culturais e, também,  de alimentos tradicionais. Imagine uma grande Arca de Noé onde os “passageiros” fossem os alimentos como frutas, legumes, folhas e mesmo cogumelos, alguns em risco de extinção: esta é um dos grandes projetos dessa hoje respeitada ONG.

Outro projeto muito bacana é o de Educação do Paladar, voltado para as crianças, que serão os consumidores conscientes do amanhã, bem como os futuros formadores de opinião. Não existe melhor caminho que a educação, principalmente dos “pequenos” para transformarmos o Mundo.

A Educação do Paladar é um grande laboratório sensorial, onde reuniões em sítios e fazendas permitem o contato com as coisas naturalmente produzidas. E aí é possível compreender o tripé que hoje sustenta a Missão Slow FoodBomLimpo e Justo.

Para se atingir esses objetivos (B + L + J), a conexão do produtor com o consumidor ou aquele que tem a facilidade de chegar ao consumidor é a chave mestra! Conexão real, sem intermediários, com total transparência. É o que encontramos no chamado Fair Trade (= Comércio Justo), principalmente nos projetos de produtosOrgânicos e Biodinâmicos ou, simplesmente, quando é feita a conexão de produtores que fazem excelentes trabalhos com pessoas que querem consumir coisas desse perfil.

Nesse ponto, gostaria que vocês vissem a série de posts onde comento sobre os Pequenos Grandes Competidores, produtores de café que tem esse perfil. Algumas histórias são emocionantes, como a da família da Isadora Reis, que muito gentil prepara e serve um cafezinho típico de roça a todos que visitam seu pequeno sítio já certificado pelo Governo de Minas Gerais.

Colocar produtores que procuram fazer tudo com excelência em contato com os consumidores e formadores de opinião é uma experiência incrível, que, felizmente, tenho tido em grande escala.

Todos estes sentimentos foram trazidos à tona depois de um frutificante e saborosíssimo encontro com o Chef Sauro Scarabotta (ao centro, nesta foto), com quem tive a honra de dividir mesa juntamente com o Companheiro de Viagem Gilberto Manso, da Belini Pães & Gastronomia, de Brasília, neste último sábado.

O Chef Sauro, proprietário do Friccó, em São Paulo, é famosíssimo pela maestria em preparar o tradicional prato que dá nome ao seu restaurante, além de um adepto e disseminador do Slow Food no Brasil. Ele esteve em Brasília para participar do Terra Madre Brasil 2010, evento ligado ao Slow Food, que iniciou-se no dia 19 e encerrou as atividades hoje, dia 22, e que trouxe o atual presidente do movimento, Carlo Petrini.

Para saber mais sobre o Slow Food, acesse www.slowfood.com e www.terramadre.slowfoodbrasil.com .