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São Paulo

The Coffee Traveler by Ensei Neto

SENSORIAL

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Sobre arabicas e robustas – 3

Thiago Sousa

Que o Conilon está definitivamente presente em nosso dia a dia cafeinado, disso não há mais dúvida.

No caso do mercado consumidor brasileiro, assim como em todo o mundo, o Conilon sempre esteve associado com o Café Solúvel ou, então, nos blends dos produtos mais competitivos, como comentei anteriormente. Salvo raras exceções, a quase totalidade dos cafés torrados e moídos na tradicional embalagem almofada tem presença notável de grãos da espécie robusta.

A produção de Conilon no Brasil vem crescendo rapidamente.

Sim, hoje o Brasil é o segundo maior produtor mundial de cafés dessa espécie, atrás somente do Vietnan, mas essa situação pode se reverter num futuro não muito distante. A produção de café no Brasil vem ganhando contornos de alta profissionalização há tempos, como acontece em todos os setores agrícolas. De forma acelerada a partir deste último período de elevação de preços, grupos empresariais decidiram se dedicar ao cultivo de Coffeas. Não importa qual, pois nas duas espécies dominantes no Brasil esses grupos enxergam excepcionais oportunidades. Muita tecnologia incorporada, profissionais competentes amealhados no mercado, gestão estratégica e sensibilidade para perceber as mudanças do mercado consumidor.

Historicamente, as lavouras de Conilon ficavam restritas às áreas baixas do Espírito Santo e em Rondônia. Hoje existem experimentos muito promissores em Minas Gerais, na região de Pirapora, na Bacia do “Velho Chico”, para onde vários produtores empresariais seguiram para produzir Mundo Novos e Catuaís. Bastou um ousado resolver a plantar Conilon, que possui alta produtividade e muito boa estabilidade para que paradigmas caíssem por terra. Com clima seco durante a colheita, o resultado em termos de qualidade surpreende.

A equação é matematicamente impecável:

Alta Produtividade + Produção Estável + Custo Baixo = Resulto Muito Positivo!!!

Por outro lado, um movimento para mostrar as qualidades sensoriais do Conilon vem sendo liderado pelo INCAPER – ES, além da iniciativa privada. Conilon Especial, simplesmente.

Para fortalecer o movimento de aprimoramento da qualidade, a capacitação de profissionais, de produtores a técnicos da torrefação e do comércio, sem esquecer do consumidor, obrigatoriamente deve acontecer, pois Educação e Conhecimento Compartilhado é a base do crescimento consistente do mercado. Mercado bom é feito de pessoas “sabidas”!

Vitória, ES, sediará o 2o Curso de Robustas Finos (2nd Fine Robustas Course) que será conduzido por técnicos ligados ao CQI  – Coffee Quality Institute, de 29 de novembro a 06 de dezembro próximo. Esse curso tem o objetivo de certificar profissionais que saibam avaliar cafés da espécie robusta a partir de adaptação daMetodologia SCAA de Avaliação Sensorial de Café, esta voltada para arabicas.

Considero este evento um marco, pois, novamente, é outro paradigma que está caindo por terra. Se há qualidade, ela pode ser mensurada e, no caso, a “régua” que está sendo usada, elaborada pela SCAA e CQI,  é  de aceitação internacional. Portanto, isto é um claro sinal de que o mercado definitivamente sempre pode ser surpreendente, pois a criatividade humana é inesgotável!


Sobre Joaninhas & Baratinhas: Variedades Híbridas – 1

Thiago Sousa

O escritor inglês Robert Louis Stevenson publicou em 1886 sua mais famosa obra, cujo titulo The Strange Case of Dr. Henry Jekill and Mr. Edmond Hyde, baseada em fatos reais, logo alcançou reconhecimento por sua narrativa de suspense e terror. O enredo tem como tema a transformação de um boa praça e educado médico, Dr. Jekill, através da ingestão de uma fórmula especialmente criada por ele, num violento e requintadamente perverso personagem, Mr. Hyde. Uma das grandes questões que esta obra aborda está em saber se a estranha poção que o Dr. Jekill desenvolveu provoca alterações genéticas (descontando, é claro, o efeito instantâneo que somente pode acontecer na ficção…), pois além de liberar seu terrível alter ego, seu corpo se transmuta, ficando maior e com algumas deformações (ou seria esta uma forma de reforçar a faceta maligna dessa personagem?).

Este tema, de tão bom, gerou muitas versões como a deliciosa comédia O Professor Aloprado, com o impagável Jerry Lewis, que décadas depois ganhou uma releitura por parte de outro grande comediante, Eddy Murphy. Vale a pena comparar estes dois filmes, observando os valores e cultura de cada época, bem como curtir a inesquecível trilha sonora da versão original!

Um dos grandes desafios que tem feito os pesquisadores da área de melhoramento genético se empenhado incansavelmente, principalmente nos melhores centros brasileiros, é o de se obter uma variedade de cafeeiro que seja mais produtivo, tenha maior vigor e resistência a determinadas doenças. Rendo aqui uma homenagem, destacando nomes que já fazem parte dessa incrível história da evolução dos cafeeiros, como IAC – Instituto Agronômico de Campinas & Fazuoli e MedinaEPAMIG – Empresa de Pesquisas Agropecuárias de Minas Gerais & TonicoIAPAR – Instituto Agronômico do Paraná &Sera.

Dentre alguns legados vale a pena mencionar o Acaiá, que é um aprimoramento de uma das melhores linhagens do Mundo Novo, que, tal qual ocorre com o Catuaí Amarelo 62, conhecido desde o início da década de 1990 pelos produtores como “Rebenta Tulha”, possui excelente desempenho com peneiras maiores; o Catuaí Vermelho 144 é um primor em termos de arquitetura de planta, pois a cada internódio os ramos fazem uma torção de 90° (isso mesmo, um perfeito ângulo reto!), melhorando a disposição espacial das folhas, no que resulta em alta eficiência na captação dos raios solares. Genial, não!

Nas minhas andanças pelas diferentes origens produtoras, um dos temas que mais me apaixona é a interrelação entre o tal do Terroir, que é a famosa palavra francesa que sintetiza o conceito de algo produzido sob influência dos fatores geográficos, da botânica e do toque humano, e os sabores que poderão ser percebidos numa xícara de café.  Monitorar sucessivas safras de algumas origens produtoras é uma das tarefas que mantenho há vários anos e os resultados mostram claramente o poder de intervenção do clima ou mesmo do toque humano.

Como se sabe, as duas espécies de cafeeiros comercialmente mais importantes são a arabica e acanephora, cuja base genética é bastante distinta. Se geneticamente são diferentes, entre outras particularidades, o formato dos grãos acabam sendo também diferentes: o arabica em geral é arredondado ou alongado, mas predominantemente simétrico em todos os sentidos, quase que lembrando umajoaninha; a do canephora lembra um coração ou umabaratinha, com um lado arredondado e outro pontudo, portanto simétrico em apenas um alinhamento.

Um processo natural de hibridização entre ambas, encontrado na ilha de Timor, levou a plantas que receberam genericamente o nome de “Híbridos de Timor”. As plantas do canephora apresentam resistência às doenças que normalmente devastam as do arabica, como a ferrugem, o que despertou pesquisadores para uma linha de trabalho focado em plantas com essas características. Catimor, Catucaí e Obatã são alguns dos resultados desses esforços.

Experimentando um Dolce Gusto…

Thiago Sousa

O preparo de café em casa ou no escritório vem ganhando contornos diferentes em razão da entrada de novas máquinas e equipamentos, para alegria dos “loucos” por tecnologia e café.

Há muitos anos atrás o tradicional coador de pano era sinônimo de preparo de café. Com o tempo, chegaram os primeiros sistemas diferenciados como as máquinas de sachetpara extrair um espresso, conceito conhecido comomonodose. Foram estas as primeiras máquinas para, digamos, democratizar o ato de beber um espresso em ambientes que não cafeterias.

Uma das empresas que reinou como referência desse mercado foi a italiana illycaffè, com sua elegante latinha para 20 saches, mas que, caso não fosse rapidamente utilizada depois de aberta, os últimos espressos ficavam sofríveis devido à oxidação que ocorria porque não eram embalados individualmente.

No final dos anos 90, a gigante suiça Nestlè resolveu entrar no seleto mercado de cafés especiais. Sim, Nespresso foi o nome e produto escolhido.

A partir de um conceito revolucionário de extração sob alta pressão, maior do que as até então conhecidas 9 bars (= 9 atmosferas), inaugurou-se o patamar de 15 bars, tendo de quebra as cápsulas em metal.

Com um surpreendente sistema de identificação de blends pela cor da cápsula,  junto com máquinas de elegantíssimo design, o seu cliente estava determinado: classe AAA e verdadeiros amantes do café. Mantendo um intenso namoro com a gastronomia e enologia, a Nespresso recentemente lançou oCodex, que é um impressionante trabalho de descrição e caracterização de seus produtos ou cápsulas, além de seu relacionamento com diferentes bebidas como a água e o vinho. Impressionante!

É claro que um produto dessa categoria não poderia descer do pedestal para não perder o glamuroso vínculo criado com seus consumidores.

Como alternativa, lançou-se a linha Dolce Gusto, pela sua divisão Nescafé. Como se sabe, Nescafé virou sinônimo de café solúvel no Brasil e em vários países, portanto, é uma marca forte. E café solúvel tem nos grãos de Coffea canephora(Robusta e Conillon) sua principal matéria prima.

No Brasil, em conjunto com a Arno, desenvolveu uma máquina muito simpática para uso exclusivo das cápsulas Dolce Gusto, como pode ser visto nestas fotos. Sua cápsula é bem maior do que a Nespresso, pois o pó do solúvel é expandido. E além do café, existem formulações para o cappuccino e outras bebidas.

No caso do espresso, que experimentei… é, não tem milagre. Uma extração de café com alta concentração de pó sob alta pressão (lamento pela eco…) pede sabores mais delicados, dada a potência da bebida resultante. Imagine então com apenas grãos primos do Arábica, ou seja, apenas Robusta. Fica minha dúvida se o consumidor continuaria comprando refis exclusivos Dolce Gusto, cujos preços não são nada baratos se comparados com as cápsulas Nespresso, até porque a distância entre a qualidade dos dois produtos é muito maior do que a existente entre seus preços.