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São Paulo

The Coffee Traveler by Ensei Neto

CIÊNCIA

Filtering by Tag: Pré Infusão

Como preparar a mais fantástica xícara de café – 3

Thiago Sousa

Dois sistemas são de longe os mais comuns no Brasil para preparar café em casa: o Coador de Pano e o Coador de Papel no Sistema Melitta. Gostaria de comentar neste post sobre o Sistema Melitta, que é muito comum em diversos países consumidores de café.

Na verdade cada sistema de preparo de café tem seus segredos para se extrair A Mais Fantástica Xícara de Café e é no mínimo precipitado tentar sepultar um modo tradicional em detrimento de um mais moderno. Grande parte do pré conceito existente sobre o café coado em casa como inferior ao espresso, por exemplo, é resultado de diversos fatores somados, incluindo o fato deste último ser um serviço que tem maior poder de aliviar o peso existencial de sua carteira do que o coado.

Ainda hoje, é raro encontrar cafés de boa qualidade nas gôndolas dos supermercados e padarias, principalmente fora das grandes capitais, sendo corriqueiro encontrar em sua esmagadora maioria cafés na embalagem tipo Almofada, em geral destinada aos produtos de preço mais competitivo (e deve ficar claro que não tem milagre… produto mais barato é sempre inferior!).  Infelizmente, há um pensamento nesses locais de que coisa barata é que gira mais rápido. É por isso que fica a percepção de que o café preparado em casa é quase sempre medíocre, uma vez que a matéria prima é sofrível proporcionalmente.

Algumas indústrias tem procurado oferecer cafés de melhor qualidade e ensaiam trilhar novos rumos, empurradas pela nova e crescente legião de  micro torrefações especializadas em cafés de alta qualidade. Já era tempo…

A melhoria do padrão de qualidade do café bebido no Brasil depende de um esforço generalizado, que deve ter, inicialmente, nos produtores os primeiros divulgadores,  devendo aprender a provar seus cafés e, assim, saber falar dos aromas e sabores que cada lote pode expressar numa xícara. Este é um dos grandes desafios a serem vencidos, pois ainda é um pequeno número de produtores que separa seus melhores lotes para torrar e servir em sua propriedade.

Indústria, cafeterias e seus profissionais tem papel fundamental, não apenas ao se aperfeiçoar no conhecimento e nas técnicas de avaliação sensorial, mas, a partir de um sólido saber, tomar a missão de  explicar aos consumidores o que esperar em cada xícara que está sendo servida.

Em resumo: Educação, Educação e mais Educação!

O sistema Melitta tem o porta filtro com formato oval de sua boca, enquanto que espacialmente é o que se chama de Seção de Cone, pois não tem o bico, lembrando o “Chapéu de Napoleão”. Este porta filtro em particular tem um único furo relativamente grande e as suas estrias na parede seguem o sentido reto de cima para baixo.

Com essa geometria, a água tende a passar preferencialmente pelo centro desse “cone cortado”. E aí vem outra recomendação: depois de “lavar” o filtro de papel (para retirar o gosto dos alvejantes…) e fazer a SEMPRE necessária Pré Infusão, quando as gotas começam a cair mais espaçadamente, coloque o restante da água em fio fino pelas laterais para compensar a passagem mais rápida que acontece pelo centro (isto porque aí o caminho é mais curto…).

Fazendo isso, ter Uma Fantástica Xícara de Café ao final é quase certo!

A moagem ideal para o Sistema Melitta é a Média-Fina. Um dos problemas comuns é o de se usar cafés torrados com moagem muito fina, que acaba exigindo muito mais tempo para a extração além do necessário, tornando, portanto, a bebida muito mais amarga do que deveria. Se você tiver condições de moer os grãos torrados antes do preparo, tanto melhor!

Empregar cafés de perfil sensorial Básico, como chamamos os que tem apenas grande doçura (e, por isso, Corpo!), chamando principalmente notas de Caramelo, em bom equilíbrio com acidez cítrica, conferem Fantástica Xícara, bem como outros de perfil Complexo com notas florais, de frutas amarelas ou mesmo especiarias. O importante é o ajuste da moagem para se obter um bom efeito.

Uma forma prática para saber se a moagem está adequada ou próxima do ideal é verificar quanto tempo se leva para prepara o seu café. Os sistemas com coador tem como tempo recomendado entre 3 e 4 minutos, dependendo da quantidade que você irá preparar. Se o seu preparo levar muito menos dos 3 minutos, certamente a moagem está grossa ou a quantidade grãos moídos em relação a água está bem abaixo do recomendado. A bebida resultante fica mais ácida, quase azeda, e pode apresentar pouco corpo, pois deverá ser menos adocicada.

Por outro lado, se ultrapassar de longe os 4 minutos, ou a tem mais café moído do que o ideal ou a moagem é excessivamente fina. O resultado na xícara: amargor que lembra jiló ou Dipirona Sódica, típico da Cafeína e seus colegas Compostos Clorogênicos, bebida que chega a ser encorpada, mas com menor doçura do que o esperado…

Mercados consolidados, que tem consumidores mais conscientes e exigentes, tem sempre oferta de diferentes apetrechos a todo momento. Nesse quesito, o Japão é um país em que o modelo de consumo é considerado muito sofisticado devido ao alto poder aquisitivo de sua população e o gosto quase nato pela estética (vide a Ikebana ou as famosas cerâmicas). Assim, é muito comum se ver lá produtos especialmente desenvolvidos para aquele mercado (tanto é verdade que em geral as indústrias mantém linha de produtos “para o mercado interno” e “para exportação”, estes menos sofisticados do que os primeiros!), como estas duas incríveis peças desenvolvidas pela Melitta Japan!

Sim, a Melitta mantém no Japão uma linha de porta filtros de porcelana, sendo este um dos mais bonitos que eu conheço!

E, para completar, uma chaleira com um longo, sinuoso e fino bico para que a dosagem de água seja muito bem controlada, que lembra a fabricada por outra empresa japonesa que se tornou febre no Ocidente, a Hario.

Como preparar a mais fantástica xícara de café – 1

Thiago Sousa

Que tal aprender a preparar A MAIS FANTÁSTICA XÍCARA DE CAFÉ?

Parece difícil à primeira vista, mas existem algumas regras básicas, sempre acompanhadas, é claro, do bom senso e das famosas Leis da Natureza (ou, simplesmente, Ciência…). Tenha sempre em mente que estas valem sempre, até a última gota!

Para preparar a primeira das Mais Fantásticas Xícaras de Café que você pode reproduzir em casa, escolhi o Sistema Hario.

A Hario Glass Co. Ltd. é uma tradicional indústria japonesa de vidros especiais para laboratórios e medicina, fundada em 1921 por Hiromu Shibata. No início dos anos 60 sua atual fábrica, localizada em Koga, Ibaraki,  entrou em operação. Com reputação feita no meio médico e científico, passou a desenvolver diversas linhas de produtos, atendendo desde o setor de automóveis até a chamada linha residencial (tableware). E neste segmento se destacou graças ao belodesign de suas peças somado às geniais soluções  para serviços deChá e Café.

Até o final dos anos 90 as peças para estes serviços eram conhecidos apenas pelo sofisticado consumidor japonês. Na virada do milênio, a empresa resolveu fazer sua estréia no mercado norteamericano. Bingo!

Rapidamente ganhou a atenção e o respeito dos descolados apaixonados pelo café da Costa Oeste.Design caprichado e grande conhecimento demonstrado na concepção de cada peça, sua estréia teve efeito fulminante entre os baristas das cafeterias mais vanguardistas de Seattle, WA, e Portland, OR. Hoje sua linha tem peças que são objeto de desejo de todos os apaixonados por café!

Observe este que é o clássico Porta Filtro Hario, confeccionado em porcelana, na foto acima. A geometria escolhida foi a de um cone baseado em um triângulo equilátero.  Parece pouco? Mas, tem alguns conceitos muito bem pensados por trás disso tudo…

O seu centro é aberto o suficiente para acomodar a ponta do filtro, que quando aberto forma um cone de triângulo equilátero. Mas o grande diferencial está no inspirado desenho das estrias, que como se vê, lembra um vórtex!

Tiveram o cuidado de criar estrias relativamente protuberantes e de dimensões avantajadas quando comparadas, por exemplo, com um portafiltro da germânica Melitta. A água flui na lateral do filtro mais facilmente se houver um espaço entre ele e a parede cerâmica, pois esse vão permite que parte da água ganhe mais velocidade na medida que se desloca de alto a baixo.

É por isso que, após a sempre recomendável escaldada do filtro de papel com água fervente (para retirar resíduos das substâncias usadas na industrialização e que podem afetar o sabor da bebida), coloca-se o café torrado e moído fazendo um furo no centro, como está na foto acima. Ah, um detalhe importante: a água deve ser preferencialmente mineral, com pH levemente ácido (entre pH 5,0 e pH 6,5 está ótimo!), com uma quantidade de minerais (basta somar a lista de minerais que deve vir estampada no rótulo da água) que fique entre 100 e 175 ppm (= partes por milhão) e com baixo teor de carbonatos.

E vamos ao show

A moagem para a Hario deve ser a que chamamos de média-fina, mas não tão fina quanto para preparar um espresso. Como a velocidade de extração é muito maior do que num sistema Melitta, por exemplo, para uma moagem média o resultado na xícara serápouco fantástico, com excessiva acidez e pouca presença de açúcares na bebida. Ou seja, será um café desequilibrado.

Fazer a Pré Infusão é obrigatória. Sempre!

A Pré Infusão tem a missão de umedecer todas as partículas dos grãos moídos, justamente para que a extração seja uniforme. Se houver um ponto em que o pó ficou seco, grumos serão formados, prejudicando a extração (menos será extraído!).

Veja que coloquei água apenas no centro, onde havia um buraco no pó seco. Espere que as gotas da bebida extraída durante a pré infusão comecem a diminuir para, então, colocar o restante da água controlando bem a dosagem.

É recomendável que seja um fio de água quando começar a adicionar, que seja de início um pouco mais grosso em relação  aode que está saindo para a jarra ou xícara, para, depois que o filtro estiver quase cheio de água, ter as vazões semelhantes.

Uma alternativa é esperar que o nível de água no filtre baixe um pouco para, assim, completar. Jamais adicionar a água em grande vazão!

Outro detalhe: parte-se do princípio que foram escolhidos grãos de um lote de café honestamente bacana e que sua torra tenha sido bem feita. Exuberante pode ser, mas equilibrado sempre!

E…. Voilà: sua Fantástica Xícara de Café está pronta!

Sendo uma extração relativamente rápida, turbinada pelas estrias em vórtex, uma Fantástica Xícara de Café feita no Sistema Hario irá destacar a acidez da bebida, característica sensorial que confere brilho e vivacidade numa bebida docemente especial.

No Brasil, você pode encontrar algumas das primorosas peças da Hario no website do Martins Café(www.martinscafe.com).

Pré-Infusão: por que é tão importante!

Thiago Sousa

Uma das discussões mais interessantes que tenho participado é sobre o “Por que fazer a Pré-Infusão?”.

A forma dominante de preparo de café é a Extração, que significa “tirar alguma coisa de algo usando uma substância para essa finalidade”, como são os casos do coado e do espresso. Entre as exceções está o preparo Ibriq, também conhecido como Método Turco, que usa uma moagem fina como talco, ficando o pó assentado ao fundo.

Na extração a Pré-Infusão tem importância muito grande. Pré-Infusão é a tradicional “molhadinha” inicial do pó, como está nesta primeira foto. Sua função é umedecer todas as partículas, tornando o pó moído umedecido num sistema único, ou seja, que as condições para extração de cada partícula seja praticamente a mesma.

Caso não seja feita a pré-infusão, podem ser formados grumos ou “pelotas” de pó ainda secos (principalmente quando as partículas são menores e houve uma certa compactação na saída do moinho), fazendo com que a água que é despejada em seguida não faça a extração nas mesmas condições em todo o sistema. Observe que quando a água é despejada de uma vez sobre o pó moído seco, muitas vezes há um “mini tsunami” no coador, que acontece quando as “pelotas” se deslocam pela água.

Depois que todas as partículas estiverem umedecidas, ao se despejar a água, a extração acontece de maneira uniforme, retirando de cada partícula o que cada uma tem de melhor em termos de substâncias de aroma e sabor.

Recentemente esta discussão chegou também aoespresso.

Seriam os resultados diferentes se a pré-infusão fosse mais longa? E sobre a temperatura de pré-infusão, mais baixa que o da água de extração, como fica o resultado?

Experiências com a Slayer, produzida na grunge Seattle, USA,  tem demonstrado que os resultados são incríveis!

Tanto quanto ao se fazer uma cuidadosa pré-infusão numa Hario ou num bom e tradicional filtro da Melitta.

Experimente!