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São Paulo

The Coffee Traveler by Ensei Neto

MERCADO

Café de baixa qualidade: O crime não compensa!

Thiago Sousa

Duas matérias muito interessantes sairam na FOLHA DE SÃO PAULO no dia de hoje, com as seguintes chamadas: Consumo per capita do café se aproxima do recorde (no Brasil) e Baixa Qualidade derrubou o Consumo.

Na primeira, há um clima de otimismo com a retomada do crescimento do consumo per capita de café no Brasil, que alcançou 4,65 kg de café torrado em 2009, bem próximo do recorde histórico, que é de4,72 kg em 1965. Segundo a ABIC – Associação Brasileira da Indústria do Café, esse retorno  pode ser creditado à maior oferta de cafés de alta qualidade, bem como de novas formas de consumo como cappuccinos e outras bebidas, muito difundidas pelas inúmeras cafeterias.

Será pouco ou muito?

Em geral, o Cafezinho, símbolo do consumo do café no Brasil, é preparado a partir de umaconcentração média de 10% m/v ou 100 g para 1 litro de água, que corresponde à tradicional receita de 5 a 6 colheres de sopa de café moído. Logo, esses 4,65 kg de café torrado equivalem a algo como 46,5 litros de café ao longo do ano consumido por um apreciador, o que corresponde a 930 xícaras de Cafezinho!

Na década de 60 o consumo caiu assustadoramente por diversos fatores: concorrência com novos produtos como refrigerantes, sucos, sport drinks (como o Gatorade) e, mais recentemente, água, simplesmente. E, como não poderia deixar de ser, havia uma percepção do consumidor de que o café vendido no supermercado era ruim.

Ou seja, foi a época em que tomar café era quase sinônimo de “tomar um susto…” como nesta foto do ex-Ministro da Economia da Argentina, peloImage Bank.

Cresci em meio à essa percepção geral; obviamente não bebia e, muito menos, gostava de café, até que me “converti” ao final da década de 80.

A questão da qualidade e sua percepção pode ser explicada pela Fisiologia Humana.

Os chamados Sabores  Básicos são o Doce, o Salgado, o Ácido, o Amargo e, o mais novo da turma, o Umami, descoberto pelos pesquisadores japoneses da síntese industrial do Glutamato Monossódico. São os sabores percebidos essencialmente na boca, mais particularmente na língua através de um incrível conjunto de Papilas Gustativas.

Podemos considerar os Sabores Básicos como super-hiper-importantes porque são sabores que podemos perceber mesmo quando estamos constipados. Os outros sabores precisam da ajuda no nariz para serem percebidos.

Observe esta tabela, que adaptei do Handbook of Physiology, de Pfaffman, Volume I, 1959, onde estão apresentados os Limiares de Percepção dos Sabores Básicos. Veja como somos muuuitomais sensíveis ao sabor amargo, que predomina quando existem problemas no café, inclusive no caso de grãos apodrecidos.

Portanto, haja açúcar para esconder os sabores ruins presentes num café com esse tipo de problema, principalmente o medicinal Fenólico, que é o principal responsável pela contrapropaganda de quebeber café ataca o estômago. Na realidade, beber café com fermentados fenólicos ataca o estômago!

O Crime não compensa: colocar café de baixa qualidade pode fazer uma determinada marca conquistar uma fatia do mercado devido a um preço mais em conta, mas os resultados perante o consumidor são desastrosos.

Chapada Diamantina & Cafés Biodinâmicos

Thiago Sousa

Foram alguns dias incríveis na Chapada Diamantina!

A Chapada cobre uma extensa área, abrangendo diversos municípios como Mucuge, Piatã, Bonito e Seabra, além do famoso Parque Nacional.

Encravada no Meio Leste da Bahia, o que destaca, além de seu solo por vezes típico arenito, por outras lembrando o cerrado, é a altitude média de 1.200 a 1.300 m.

Apesar da relativa proximidade com o Oceano Atlântico, cadeias de montanhas formam diversos microclimas, gerando vegetações de transição com a Caatinga, lembrada pela grande presença de mandacarus, Cerrado e Mata Atlântica.

Mas, desta vez, minha ida foi para um destino específico: Piatã.

Encontro marcado com Michael FreitasLuca Allegro e Nelson Ribeiro.

Que trio!

Sobre a qualidade dos cafés de Piatã já tinha conhecimento há tempos, inclusive porque algumas notas de sabor que tem nos seus grãos me agradam muito. Mas, havia um novo desafio: torrar alguns dos cafés com os três.

Antes de tudo, minha curiosidade maior foi para conhecer os cafés produzidos pela Dupla BioDinânmica Luca Allegro e Nelson Ribeiro, nesta foto ao lado comigo, seu Coffee Traveler, nas propriedades em Ibicoara, que fica  a cerca de hora e meia de carro distante. Aliás como no sertão em geral, as distâncias são sempre muito grandes…

Ambos iniciaram seu projeto de café, dez anos antes, com o objetivo de produzirem segundo normas da Cafeicultura Orgânica, passando, também, a adotar o sistema Biodinâmico, que leva o selo Demeter. Muita dedicação, esforço, dificuldades e barreiras, porém, hoje já se dão ao luxo de praticamente programarem sua pequena produção para os clientes já estabelecidos.

Segundo Luca, proprietário da Fazenda Aranquan e ao meu lado nesta foto, ele e o Nelson, da Fazenda Floresta, “fundaram” uma “cooperativa de 2 produtores”, pois trabalham efetivamente de forma cooperada. Dividem tarefas, ficando as operacionais sob a batuta do Nelson, enquanto que as burocráticas e comerciais, com o Luca, este usando sua experiência como trader de fibra de sisal.

Propriedades vizinhas, num belíssimo platô em Ibicoara, estão sentindo o processo de seleção intensivo que o mercado está impondo, dentro de um quadro de forte competição global.

A saída: aprimoramento dos processos, incluindo colheita seletiva com  até 4 (sim, QUATRO!) passadas, resultando num excepcional aproveitamento dos grãos independente das diferentes floradas que acontecem normalmente na região.

Num raciocínio bastante claro, tanto Nelson quanto Luca colocam que, por mais cara que fique a colheita seletiva em tantas etapas, ainda o resultado é muito satisfatório porque grãos defeituosos são minoria. Isso é ainda mais importante porque estão distantes demais de locais que prestam serviços com sistemas de padronização por mesa densimétrica e eletrônica por cor, o que ficaria inviável.

Os lotes são realmente muito bons, dando-lhes credenciais para projetos como este com a Riverford, da Inglaterra.

Para finalizar, veja uma reportagem bacana sobre os dois feita pela britânica The Guardian:

http://www.guardian.co.uk/lifeandstyle/2009/dec/06/biodynamic-coffee-in-brazil

Conexão Diamantina, Bahia

Thiago Sousa

A linha do Equador divide o mundo, imaginariamente, em dois hemisférios: Norte e Sul.

Distanciando-se do Equador, a 23. e mais um pouquinho de latitude, temos os Trópicos de Câncer e de Capricórnio, respectivamente ao Norte e ao Sul. Nesta grande faixa ficam os chamados Cinturões do Café, distribuidos no continente Americano (Central e Sul), África e Sudeste Asiático.

As estações do anos, PrimaveraVerãoOutonoe Inverno, são mais bem definidas conforme um local está mais distante do Equador, e tudo isso graças à engenhosa inclinação do eixo da Terra que a Natureza providenciou…

As estações ficam desfasadas exatamente em 6 meses entre os hemisférios, ou seja, quando é Verão no Brasil (Hemisfério Sul), um rigoroso Inverno pode acontecer na Alemanha (Hemisfério Norte).

A partir dessa constatação, fica claro porque enquanto no Brasil os frutos do cafeeiro estão em pleno desenvolvimento e iniciando o processo de maturação, na Guatemala a colheita está a pleno vapor.

Muitas variedades coexistem nos países dos dois hemisférios, como o Bourbon Amarelo que se vê na foto acima.

Agora, olhe bem a foto ao lado. Lavoura de café com certo adensamento e grevíleas (belíssima árvore!) dispostas estrategicamente para proteger os cafeeiros do vento e dos raios UV (ultravioleta) mais intensos porque essa área tem latitude relativamente baixa ou, pode-se também dizer, próximo ao Equador.

1001_DivinoES_Piatan.JPG

Isso mesmo: os raios UV podem se tornar particularmente intensos em duas situações. A primeira é quando um local está em Latitude baixa, menor que 15 graus. A outra é quando a altitude do local é expressivamente alta, bem acima dos 1.500 metros de altitude em relação ao nível do mar.

Na foto ao lado, podem ser vistas grevíleas mais crescidas. Mas, observe que parece um pouco diferente das que estão na segunda foto. Hum… até parece um joguinho dos 7 Erros!

A segunda foto tirei em Antigua, Guatemala, vendo-se o majestoso Vulcão de Água ao fundo. A altitude? Impressionantes 1.800 metros a 14 graus e 2′ de Latitude Norte!

A terceira foto foi tirada em PiatãChapada Diamantina, BA! São 1.350 m de altitude, 13 graus e 8′ Latitude Sul. Grevíleas são plantadas para fazer proteção contra ventos e também sombreamento.

Incrível similaridade, não?!

Starbucks: De altos e Baixos

Thiago Sousa

 hoje gigantesca Starbucks vem sentindo os solavancos provocados pelo estouro da “bolha” econômica que assola o mundo inteiro,  muito em razão, também, de seu processo de expansão que impressionava a todos. Nos tempos áureos, quando as bolhas ainda tinham resistência para se expandir, falavam em números quase estratosféricos de novas lojas, por vezes ultrapassando os 4 dígitos.

Em nota recente, comunicaram que fecharão 300 lojas neste ano, perfazendo um total de aproximadamente 1.000 lojas em menos de um ano. Mesmo com uma queda registrada de 9% nas suas vendas, seu lucro foi de quase 65 milhões de dólares. Nada mal, afinal quase todas as empresas financeiras e do setor automotivo norte-americano amargaram prejuízos bilionários…

De ” Baixos”, de notícias econômicas e questões administrativas que só a eles competem, gostaria de passar a comentar sobre o que posso chamar de “Os Altos” da Starbucks…

Por uma indicação do Companheiro de ViagemRodrigo Greco,  de Belo Horizonte, MG, visitei o renovado website da Starbucks (www.starbucks.com) e posso dizer que fiquei simplesmente feliz!

A grande questão para o desenvolvimento de qualquer mercado de estilo e inovação é a existência de programas educacionais e de difusão do conhecimento. Nada avança, quer para cima, quer para o alto,  sem essa poderosa ferramenta.

E a solução que eles apresentam para que você possa escolher o melhor produto parâ sua degustação em casa é simplesmente um “case” de educação!

Acompanhe comigo um pouco desse processo de escolha do “Seu Blend Perfeito”.

O nome é sugestivo e apropriado porque, na realidade, “o melhor” café é sempre uma escolha pessoal. É cada um de nós que sabe o que melhor combina conosco!

Parafraseando aquele velho ditado “cada cabeça, uma sentença”, podemos colocar algo como “cada boca, um paladar…”

Com base num recurso amplamente empregado por 10 entre 10 cafeterias de cafés especiais, toda a oferta é escrita em um quadro negro, como pode ser observado nas lojas da rede também no Brasil.

A primeira escolha, assim como sequencialmente fazemos ao avaliarmos um determinado café, inicia-se pelo AROMA. Qual você quer hoje?

Fiz minha marcação no FLORAL, cuja figura ganha colorido ao ser marcado.

Em seguida, vamos à ACIDEZ. Genialmente, a partir de uma escala móvel horizontal, você define a intensidade que mais lhe agrada. E quanto mais intenso, maior é o número de frutas cítricas que surgem dando sua contribuição visual.

Após a Acidez, é a vez do CORPO, cuja imagem não reproduzi aqui. Mas que vale a visita… (até para você ficar mais estimulado na brincadeira…)

Definida a intensidade do Corpo, surge o SABOR.

E esta fase me entusiasmou porque lembra os rabiscos que faço quando estou pensando no desenvolvimento de um novo blend ou com base no que encontrei num novo lote de café como ele pode ser aplicado.

Observe que conforme você define sua escolha, menos ou mais complexo, os “rabiscos” vão surgindo e sugerindo sobre o que é que você irá encontrar.

Próxima parada: a sugestão deles para sua escolha!

Observe que na barra inferior há um desfile dosblends regulares usando o mesmo conceito que a Apple aplica em seus Macs

Além da sugestão que corresponde ao seu “Perfeito Café”, surgem alternativas de escolha.

Certamente, essa ludicidade atrairá e formará novos “loucos” por café!

E, finalmente: lembre-se que o melhor café para você é aquele que lhe agrada e não o que alguém lhe diz que é.

Sobre variações de um Dolce Gusto…

Thiago Sousa

Logo após publicar o post anterior, recebi diversas mensagens sobre algumas colocações sobre oDolce Gusto, que gostaria de abordar aqui. A primeira, sem dúvida a mais importante, é a de que o conteúdo da cápsula não é de café solúvel e sim de grãos moídos. Faço a “Mea Culpa” aqui. Falha minha!

Outra: talvez tenha me expressado mal, mas as máquinas tem projeto global, sendo que no Brasil a fabricante escolhida foi a Arno, como pode ser visto sua famosa logo nas fotos do post anterior.

Bem, agora gostaria de continuar a comentar sobre aExperiência Dolce Gusto.

A grande questão, em meu ponto de vista, sobre as cápsulas de espresso reside no fato de que a diferença de preços entre as da Nespresso e Dolce Gusto é muito pequena para as experiências que podemos ter com elas, respectivamente. Como mencionei anteriormente, é uma clara questão de relação custo/benefício/qualidade. O emprego intensivo de grãos Robustas, mesmo de boa qualidade, faz com que o resultado final seja decepcionante devido a um pobre conjuntoAroma + Sabor, ou como digo, Nariz + Boca.

É o mesmo paralelo que podemos fazer, por exemplo, entre as impressoras a jato de tinta e a laser. Até  pouco tempo atrás, o diferencial de preço entre os equipamentos era de grandeza olímpica para a impressora a laser, mas hoje é algo muito pequeno. Pela qualidade e custo dos cartuchos ou toners, faz com que pensemos se não é o caso de, por bom senso, optar pela laser, pois ao se fazer as contas, o rendimento dos toners é francamente superior.

Ah, aqui um detalhe técnico que considero genial na confecção dessas cápsulas usadas na Dolce Gusto: a capa metálica superior tem resistência suficiente para suportar impressionantes 15 bars (= 15 atmosferas ou equivalente a 150 metros de coluna d’água!). Pois bem, por um pequeno furo nessa película “barreira” a água quente é injetada, preenchendo a parte inicialmente vazia. Há uma outra película que cobre o pó de forma tão justa quanto uma calça apertada, contando com alguns furos distribuídos com rigor geométrico que, com aquela notável pressurização, fazem a água passar uniformemente pelo café moído. É uma sofisticada solução de engenharia!

Se as cápsulas de espresso foram decepcionantes, as de cappuccino tiveram um resultado surpreendente, assim como as dechocolate quente para mim.

Creio que é aqui que reside o trunfo da Dolce Gusto, principalmente porque estas são bebidas que para quem irá desembolsar pouco mais de U$ 1 (um dólar americano) por cápsula certamente irá considerar estas experiências muito motivadoras para uma repetição. Ou seja, o grau de satisfação nas experiências com essas duas bebidas é francamente positivo, inclusive porque não existem outros produtos para uma comparação direta como existe com o espresso.

Foram diversas experiências ao longo de alguns meses e em diferentes locais, muitos dos quais em lojas com aparelhos de demonstração, justamente para que eu pudesse verificar a percepção dos potenciais compradores desse sistema. E, BINGO!, em todos as lojas, sem exceção, os vendedores disseram que as cápsulas que cativam os clientes são as de cappuccino e as de chocolate

Experimentando um Dolce Gusto…

Thiago Sousa

O preparo de café em casa ou no escritório vem ganhando contornos diferentes em razão da entrada de novas máquinas e equipamentos, para alegria dos “loucos” por tecnologia e café.

Há muitos anos atrás o tradicional coador de pano era sinônimo de preparo de café. Com o tempo, chegaram os primeiros sistemas diferenciados como as máquinas de sachetpara extrair um espresso, conceito conhecido comomonodose. Foram estas as primeiras máquinas para, digamos, democratizar o ato de beber um espresso em ambientes que não cafeterias.

Uma das empresas que reinou como referência desse mercado foi a italiana illycaffè, com sua elegante latinha para 20 saches, mas que, caso não fosse rapidamente utilizada depois de aberta, os últimos espressos ficavam sofríveis devido à oxidação que ocorria porque não eram embalados individualmente.

No final dos anos 90, a gigante suiça Nestlè resolveu entrar no seleto mercado de cafés especiais. Sim, Nespresso foi o nome e produto escolhido.

A partir de um conceito revolucionário de extração sob alta pressão, maior do que as até então conhecidas 9 bars (= 9 atmosferas), inaugurou-se o patamar de 15 bars, tendo de quebra as cápsulas em metal.

Com um surpreendente sistema de identificação de blends pela cor da cápsula,  junto com máquinas de elegantíssimo design, o seu cliente estava determinado: classe AAA e verdadeiros amantes do café. Mantendo um intenso namoro com a gastronomia e enologia, a Nespresso recentemente lançou oCodex, que é um impressionante trabalho de descrição e caracterização de seus produtos ou cápsulas, além de seu relacionamento com diferentes bebidas como a água e o vinho. Impressionante!

É claro que um produto dessa categoria não poderia descer do pedestal para não perder o glamuroso vínculo criado com seus consumidores.

Como alternativa, lançou-se a linha Dolce Gusto, pela sua divisão Nescafé. Como se sabe, Nescafé virou sinônimo de café solúvel no Brasil e em vários países, portanto, é uma marca forte. E café solúvel tem nos grãos de Coffea canephora(Robusta e Conillon) sua principal matéria prima.

No Brasil, em conjunto com a Arno, desenvolveu uma máquina muito simpática para uso exclusivo das cápsulas Dolce Gusto, como pode ser visto nestas fotos. Sua cápsula é bem maior do que a Nespresso, pois o pó do solúvel é expandido. E além do café, existem formulações para o cappuccino e outras bebidas.

No caso do espresso, que experimentei… é, não tem milagre. Uma extração de café com alta concentração de pó sob alta pressão (lamento pela eco…) pede sabores mais delicados, dada a potência da bebida resultante. Imagine então com apenas grãos primos do Arábica, ou seja, apenas Robusta. Fica minha dúvida se o consumidor continuaria comprando refis exclusivos Dolce Gusto, cujos preços não são nada baratos se comparados com as cápsulas Nespresso, até porque a distância entre a qualidade dos dois produtos é muito maior do que a existente entre seus preços.

O Cafezinho: Conhecendo a cadeia do café em 1 minuto

Thiago Sousa

Os filmes de propaganda tem na Síntese sua palavra-chave. Imagine, então, quando se trata de um tema complexo e amplo como o café.

Falar da cadeia do café, que se inicia nos interiores com as lavouras, passando pela indústria, controle de qualidade com a degustação, até chegar no consumidor, quando xícaras de cafezinho ou espresso são avidamente apreciadas, é um grande desafio para se condensar em apenas 1 minuto.

Um dos vídeos que considero mais bem produzidos nos últimos tempos sobre café no Brasil, num belíssimo trabalho de concisão, foi ao ar recentemente. Faz parte de uma série institucional do Banco Bradesco, sendo este sobre o nosso tema favorito o quinto da série.

Com uma fotografia maravilhosa, o vídeo mostra lavouras deVenda Nova do Imigrante, nas Montanhas do Espírito Santo, uma indústria de café em Viana, ES, terminando em Santos, SP, onde o sempre mestre Davi Teixeira, na ACS – Associação Comercial de Santos, comenta sobre sua paixão pela café e a barista fala orgulhosa do seu trabalho.

Para mim, o ponto alto foi a abordagem sobre a QUALIDADE em toda a cadeia, numa clara demonstração de que este é o atributo e modelo de trabalho que deve prevalecer para se alcançar o sucesso.

Xícaras de Conhecimento – 3: Café, o sabor e o prazer

Thiago Sousa

Início de ano é tempo de olhar gavetas e armários e fazer um “balanço do ano”. Revistas e jornais, material datado, roupas que talvez não sirvam mais (ou porque engordamos ou não emagrecemos…) e por aí afora…

Nessa mexida de caixas e gavetas, encontrei escondido este antigo livro de receitas usando café, CAFÉ: o Sabor e o Prazer, publicado em 1982 para a Cia. União dos Refinadores, que deteve memoráveis e líderes marcas comoPilãoCaboclo e União, hoje parte do portfolio da Sara Lee do Brasil.

Minha intenção em postar sobre esse livro é para resgatar lembranças, porque aquela era uma época em que eu não bebia e gostava sequer de café, porém meus pais sempre foram, como grande parte da população brasileira, ávidos consumidores matinais do cafezinho.

O livro tem um total de 76 páginas com uma introdução histórica e receitas de bebida de café, drinques e sobremesas, num total de 70, apesar de que, algumas são, eu diria, variações sobre o mesmo tema.. Tem boas “sacadas” como a cor escolhida para os textos, em marron escuro, para lembrar que é de receitas com café.

Numa época que o mercado brasileiro era fechado devido ao ambiente econômico dominado por uma inflação dita “galopante” porque tão grandes eram suas variações, o pouco de acesso às tendências do “mundo de fora” era possível através dos filmes e música. 1982 era um tempo em que o mundo experimentava um período econômico muito forte, principalmente com a privilegiada posição que o Japão ganhava. Era o momento pós Flower Power, da Dance Music e Star Wars, além da superação da Guerra Fria. Enquanto isso, no Brasil, Jorge Amado chegava à grande massa, ao mesmo tempo em que os “loucos” por futebol se lamentavam pela “Tragédia de Sarriá”, quando talvez uma das mais incríveis seleções canarinho amargou uma derrota frente aos italianos na Espanha.

Assim, alguns nomes de receitas seguem a aura dessa época como Melba Coffee e Rock Banana (ah, este é pra lá de engraçado…). Nomes bem brasileiros não ficaram de fora: Sacode a Poeira e Saci Manhoso!

Devido à dificuldade de acesso às coisas feitas em outros países, foi um período em que fazer “clones”, “covers” e simulações de estrangeiros era muito comum, como a “febre” dos carros esportivos feitos em fibra de vidro e motor VW 1600 cc usado na dinossáurica Brasília ou de conjuntos com nomes em inglês e cantando como tal. Era tudo muito divertido.

Como receita bizarra do livro, tem o Rock Banana, que está na foto ao lado.

Sim, não é ilusão de ótica: o drink é servido numa banana e deve ter um furo para passar o canudinho!!!

E observe os “pezinhos”. Sorria, porque vale o sorriso…

Vamos aos ingredientes?

Café quente, licor de banana, rum, açúcar, gelo e uma banana da terra para servir de, digamos, taça. Corte a ponta da banana e retire cuidadosamente sua polpa, deixando o vazio onde será colocado o drinque. Bata os ingredientes numa coqueteleira e coloque dentro da banana. E não se esqueça do canudinho…

Xícaras de Conhecimento – 1: Dicionário Gastronômico CAFÉ

Thiago Sousa

José Bento Monteiro Lobato, criador do mais famoso estereótipo do caipira brasileiro, o Jeca Tatu, além de romances como Cidades Mortas e  Urupês, escreveu a fabulosa coleção Sítio do Pica-Pau Amarelo que tinha em suas fileiras livros incríveis e divertidos como Reinações de NarizinhoA Reforma da Natureza e Serões de Dona Benta, entre outros. Foi um visionário ao criar a primeira editora brasileira, em 1918, quanto até então os livros eram impressos em Portugal, e defender que o Brasil tinha petróleo, questão que o levou a ser perseguido oficialmente. É dele a frase: “Um país se faz com homens e livros.”

Apesar das facilidades que a tecnologia nos traz (lembrando o post anterior…), principalmente através da internet onde hoje é possível encontrar versões integrais de diversos livros, sem falar na atual febre do Kindle, o livro eletrônico, ter em mãos um livro real, palpável, ainda é uma experiência muito bacana.

Lançado no final de 2009, o Dicionário Gastronômico CAFÉ Com Suas Receitas,  um belo projeto da Giuliana Bastos, inova pelo formato de dicionário, desvendando os significados de palavras e expressões usuais do mundo do café. Não são dispensadas sequer palavras do vocabulário popular como “chafé”, referente a um café muito fraco, ou mesmo “banando”, corruptela da palavra abanando.

Está recheado de bonitas fotos, alguns verdadeiros achados, como a da ilha de Bali, onde se vê uma improvável antena como interferência humana na paisagem, tendo ao fundo impressionantes montanhas.

Além da grandiosa pesquisa feita por longos meses, Giuliana procurou apresentar aspectos práticos como a elaboração de lattès contando com ajuda de tarimbados baristas. Há uma sequência primorosa de fotos com diferentes técnicas para se fazer divertidos desenhos sobre o leite vaporizado.

Como não poderia deixar de ter, isso pela sua vivência no mundo gastronômico, muitas receitas de drinques e pratos com café se fazem presentes fartamente ilustrados com deslumbrantes fotos.

Talvez só não dá para dizer que é um “livro de cabeceira” devido às usas generosas medidas, podendo, nesse caso, ser considerado um “livro de mesa”, perfeito para uma degustação visual.

Ou melhor, outras duas sensações podem ser estimuladas também: o tato e o olfato.

O livro vem com uma sobrecapa com um interessante jogo de texturas e relevos, além de uma surpresinha: esferas aromáticas fazem fundo, liberando adocicadas notas  mescladas de vanila, toffe e discreto chocolate ao serem esfregadas levemente.

Observe nesta foto, em close, as esferas.

Pode ser chamado, dessa forma, de Dicionário Olfativo-Visual

Nova turma: Curso avançado de avaliação de café

Thiago Sousa

E mais um Curso Avançado de Avaliação de Café, agora em sua 10a. Turma, vai acontecer em São Paulo, SP.

O local será o laboratório do CPC – Centro de Preparação de Café do Sindicafé de São Paulo, que fica na Praça Dom José Gaspar, 30, Centro, São Paulo, em frente à Biblioteca Municipal.

Este módulo, que aborda de forma intensiva os mecanismos de percepção sensorial, terá início no dia 19 e segue até o dia 22 deste mês de janeiro. São diversos exercícios e testes fundamentados em sólida base científica, o que ajuda no aprimoramento dos nossos sentidos, incluindo introdução à hoje universal Metodologia SCAA (Specialty Coffee Association of America) de Avaliação de Café. Em geral tem participado deste curso profissionais da área de Controle de Qualidade de importantes companhias exportadoras e torrefações, juízes certificados pela SCAA buscando reciclagem, baristas e até pessoas simplesmente apaixonadas por café.

Num ambiente de alta tecnologia, que é o laboratório do CPC do Sindicafé de São Paulo, o aprendizado se desenrola num clima divertido e de incrível troca de experiências com profissionais de diversos setores da cadeia do café.

Você pode se informar mais fazendo contato com a Adriana Freitas através do 11-3258-7443 ou cpcsp@sindicafesp.com.br .

Veja neste vídeo um pouco do curso:

Pop Up Cards Temáticos: Café & Cia.!

Thiago Sousa

Amo Tecnologia!

Afinal, quem não gosta das facilidades que ela traz? Internet, então, nem se fala…

As conexões estão mais fáceis e rápidas (é claro que existem bolsões de exclusão no Brasil e outras partes menos favorecidas…) e o acesso à informação ficou simplesmente aberto.

As telas dos computadores cresceram em dimensões como largura e comprimento, porém gradativamente vem encolhendo na espessura.

Fino é mais…

É interessante observar que com as novas tecnologias como a dos LED, as imagens estão impressionantemente realistas, ainda mais com o aperfeiçoamento do 3-D.

Até hábitos antes prosaicos como enviar bilhetes e cartas para os amigos e família tiveram grande mudança nestes últimos tempos, apesar de que, ainda, os Correios continuam enviando mais e mais envelopes mundo afora. Com um laptop na mão, mesmo um Blackberry ou iPhone, enviar e receber mensagens ficou muito natural.

Nunca recebi tantos cartões de Natal virtuais, alguns deslumbrantes, como neste último.

Sinal dos tempos.

Tudo no meio eletrônico é criado e movimentado num mundo não palpável, mas extremamente visual!

Quando recebi cartões de Natal entregues pelo carteiro, não dava para disfarçar que senti um prazer diferente.

Coisas palpáveis.

Foi isso que  tornou cada cartão ainda mais especial, por mais simples que fosse, mesmo um aerograma padrão. Palavras e assinaturas escritas à mão se transformam em coisas preciosas. Pensando bem, ainda precisamos das coisas com as quais podemos sentir texturas, cheiros e temperaturas…

Recebi da Companheira de Viagem Águeda Saéz Zabisky, sempre inspiradíssima designer, este link de onde pode-se fazer o download de modelos dePop-up Cards com o tema… Café & Cia.!

Este, por exemplo, é de um lattè com inscrição para o Dia das Mães. Com direito a biscottis!

Enviar um cartão como esse, certamente,  fará alguém muuuito feliz!

Estes e outros temas estão no website da Canon Co., que pode ser acessado por aqui:

http://cp.c-ij.com/en/contents/3055/c00013/index.html

Extração de café & moinhos – 2

Thiago Sousa

Na falta de um moinho manual com discos em cerâmica, podem ser encontrados com maior facilidade no Brasil os tradicionais modelos em ferro de superfície fresada.

Este modelo, que tem desenho desenvolvido no Século XVIII, possui uma gaveta para receber os grãos moídos. Observe que é possível também se fazer o ajuste de distância entre o elemento de corte, que fica junto ao eixo central que é movido pela manivela, e a parede fresasada com ondulações levemente cônicas. É com base neste design que são construídos 10 entre 10 dos torradores de prova feitos no Brasil com moinho conjugado. Uma das modificações que pode ser vista é no elemento de corte, aquele que fica no eixo central, que pode assumir forma cônica com fresas.

O perfil de moagem pode ser mais ou menos Gaussiano(gráfico com aquele formato que lembra um “sombrero”: extremidades baixas, centro bem pronunciado) dependendo do tipo de conjunto adotado e, é claro, o material empregado. O ferro fundido é o que se desgasta mais rapidamente, não permitindo, por isso, um refinamento em seu sistema de corte: portanto, é com esse material que o perfil de moagem fica, digamos “mais disperso”, com grãos superfinos até outros grosseiros numa mesma operação.

Outros materiais foram incorporados na medida que a tecnologia avançou. O moinho da foto acima, por exemplo, é de ferro com mais carbono, num interessante equilíbrio entre dureza eresistência, que são propriedades físicas importantes num metal. Para se ter idéia, a adição de carbono no ferro aumenta sua dureza, porém ele se torna mais quebradiço. Como se vê, como tudo na Natureza, aqui também se revela um celestial equilíbrio: nada é tão lá, nem tão cá…

Aço inox, aço com revestimento em titânio e ligas com molibdênio (incrível, não?!) fazem parte das novas tecnologias.

Com a facilidade que a eletricidade trouxe ao Homo urbanus, desenvolveu-se também o moedor elétrico. Vários modelos podem ser encontrados hoje, inclusive no Brasil, com as mais diferentes conceitos: moinhos de discos, cônicos, de faca e suas variações.

Para se ter em casa ou mesmo num pequeno escritório, devido à sua excelente relação custo/benefício, são recomendáveis os moinhos elétricos com sistema de faca, como o que está na foto ao lado.

É o desenho mais básico e simples da indústria: lâminas acopladas ao eixo de um motor.

Vejamos as variações sobre os temas: recipiente em plástico de alta densidade ou metal (no caso da foto, aço inox); câmara em formato oval, ovalado com corte reto ou circular; motores com potência de 80 watts a 250 watts.

Por razões óbvias, a melhor combinação adota como material o aço inox, formato circular da câmara e motor com potência de 250 watts, igualzinho ao da foto (modelo da Kitchen Aid). O material pode ser menos relevante neste conjunto, porém o formato preferencialmente deve ser o circular, pois todos os outros com ângulos criam pontos de retenção durante a movimentação do motor. Deve ficar claro que câmaras com formato, por exemplo, ovalada com corte reto foram projetadas com esse objetivo: criar pontos de turbulência na câmara melhorando o resultado final, que é um perfil de moagem com curva Gaussiana (a “curva” bonitinha…).

Porém, nem tudo funciona satisfatoriamente e, muitas vezes, justamente nesses locais ficam as partículas mais finas, descaracterizando a “curva” desejada. Para diminuir esse problema, deve-se acionar o motor de forma intermitente e dar chacoalhadas para uniformizar a distribuição das particular. Uma típica solução “caseira”…

Quanto à potência do motor, não existe milagre: quanto menos potente for, menor é sua vida útil.

Não parece, mas o grão torrado tem uma dureza relativamente alta, principalmente no que se chama deresistência ao cisalhamento (= ação de uma tesoura), que é o princípio que os moinhos de faca empregam.

Portanto, não se deixe enganar apenas por um belo design. Potencial é fundamental!

Extração de café & moinhos – 1

Thiago Sousa

Preparar um café para beber é, se olharmos pela ótica da ciência, fazer uma extração dos componentes dos grãos moídos com água. É claro que podem ser usados outros tipos de substâncias para esse processo de extração, porém o resultado certamente não seria delicioso e seguro para o consumo.

Assim, a extração depende de alguns componentes importantes como o ponto de torra, perfil de moagem dos grãos de café, natureza do material que fará a retenção do   pó umedecido e as características e temperatura da água usada, por exemplo. Na verdade, existem outros elementos mais, porém para nossa discussão fiquemos com estes (e que já dá um monte de coisa para se pensar…)

O gráfico ao lado, competentemente produzido pela empresa BUNN Corporation, USA, é um Gráfico de Rendimento de Extração, muito usado na indústria de torrefação e equipamentos, e, também, em algumas cafeterias e restaurantes, que orienta quanto aos ajustes para se fazer a extração do café de coador. Ele foi construído para um volume de café pronto para o consumo de 6 litros. Na sua parte inferior há uma escala que vai de 16% a 24%, que representa a chamadaEficiência de Extração ou seja, o quanto a água quente conseguiu arrastar, digamos assim, de material interno dos grãos moídos. Fica fácil de compreender que quanto maior o número, significa que mais foi extraído do pó de café.

À direita e na parte superior, existe outra escala com números que vão de 240 g a 600 g, representando a quantidade de pó de café usado para se fazer o café “bebida”. Observe que esses números seguem um alinhamento oblíquo. Se você dividir qualquer um deles por 6, o resultado é o equivalente de pó de café em 1 litro de água. Finalmente, à esquerda, há uma outra escala com números de 1,00% a 2,50%, que nos dá a quantidade de sólidos solúveis na bebida ou seja, o que foi extraído do pó de café.

As áreas coloridas no gráfico indicam as regiões que nos dão cafés de coador bem extraídos, de acordo com cada país. Veja que o trabalho considera o café de coador nos Estados Unidos, Europa e Brasil.

Por esse gráfico fica visível como o nosso cafezinho é muuuito mais concentrado do que o Coffee bebido na América do Norte, bastante próximo do consumido no Japão, também, e na Europa. Nisso, a moagem dos grãos tem um papel de primeira importância garantido!

E nesse processo, fundamental é se conhecer o Perfil de Moagem dos grãos de café. A moagem pode tender a fina ou a grossa, dependendo do tipo de preparo que se queira fazer. Esta é uma das “boas sacadas” do café: posso variar a forma de preparo de café a partir dos grãos que tenho ou simplesmente posso escolher pelo estado de espírito do momento.  As moagens mais grossas vão para sistemas como French Press, enquanto que a superfina, quase talco, para o Ibriq, que é o método turco. Nesse meio ficam moagens para coador, espresso e outras variações.

E por que o perfil de moagem é tão importante?

Simplesmente porque quanto mais uniforme for o tamanho das partículas, mais uniforme e eficiente será a extração!

Uma macarronada com spaghetti de um único diâmetro certamente fica muito mais fácil de preparar do que se você tiver uma miscelânea de diâmetros.

Hoje em dia percebo como vem crescendo o interesse das pessoas em preparar o café em casa de forma mais elaborada, adquirindo os grãos torrados e cada um fazendo sua moagem. A maior oferta de moinhos domésticos vem acompanhando o ritmo.

Antigamente praticamente só se encontrava os de ferro fundido de rosca a manivela, como se vê em muitos sítios e fazendas ainda. Ainda manuais, os de manivela com discos montados em simpáticas caixas de madeira com gaveta, inspirados nos modelos europeus, estão mais acessíveis. E com a vantagem adicional de ser possível regular a distância dos discos e, consequentemente, ter uma boa gama de moagem. Mas, não tem milagre: são instrumentos simples, rústicos, e muitas vezes não atende a um consumidor mais exigente.

Ganhei este moinho Hario, japonês, recentemente dos Companheiros de Viagem Ben KaminskyEdwin Martinez. Seu diferencial? Os discos são feitos em cerâmica, técnica que os japoneses dominam como ninguém.

Regulável quanto à distância dos discos, a uniformidade da moagem chegou a me emocionar!

Tenho feito vários testes mudando discretamente a distância dos discos e em todos os resultados pode se dizer que esse moinho Hario conseguiu impressionante uniformidade do tamanho das partículas, levando-se em conta o fato de ser manual.

Guia da qualidade: Sabores dos cafés do Brasil

Thiago Sousa

Você saberia dizer quantas são as origens produtoras de Cafés do Brasil?

São bem conhecidas algumas regiões tradicionais e outras que ganharam destaque nos últimos anos, indo do Paraná até a Bahia, de onde saíram lotes vencedores do último concurso do Cup of Excellence no Brasil.

Esta era uma idéia antiga, mas que somente agora foi possível tornar realidade. Mapear as safras brasileiras de café através de seus atributos sensoriais. Parece simples, não é mesmo? Mas, definitivamente não é!

Lançado em meados de novembro de 2009, durante oENCAFÉ, Encontro da Indústria de Café do Brasil, na paradisíaca Praia de Guarajuba, BA, o Guia ABIC da Qualidade dos Cafés do Brasil, cuja capa pode ser vista na foto ao lado, foi um trabalho incrível. Desde as primeiras “trocas de figurinhas” que Nathan Herskowicz, Diretor Executivo da ABIC, Fernando Giachini, Diretor do Instituto Totum, e eu, seu Coffee Traveler, em meados de março de 2009, até a entrega dos exemplares durante o Encafé, um batalhão de profissionais foi mobilizado. O Instituto Totum assumiu a Coordenação Executiva do Projeto, empregando sua especialização em processos de certificação, enquanto que assumimos a Coordenação Técnica, sob o “guardachuva” institucional da ABIC.

Planejamento, ajustes, reuniões, contatos, esclarecimentos, escolha dos protocolos, metodologia, local e etecetera e tal (ufa!), nada poderia ficar de fora. Por se tratar de um primeiro esforço, optou-se pela simplicidade e objetividade. Foram buscadas as entidades representativas das origens tradicionais e que efetivamente representam o mosaico de sabores dos Cafés do Brasil. Pioneiro, desafiador e, até certo ponto, inesperada iniciativa de  uma entidade da indústria do café, o convencimento para que as organizações listadas participassem foi relativamente tranquilo, apesar de uma ansiosa curiosidade demonstrada por todos os profissionais que serviram de conexão com suas origens.

Enquanto isso, convidei Juízes Certificados SCAA e Q Graders Licenciados para tomar parte desse projeto. Foram listados profissionais que não mantinham vínculos com as entidades que forneceram as amostras para dar maior idoneidade ao processo. Em razão dos acordos mantidos pela ABIC com a SCAA – Specialty Coffee Association of America e o CQI – Coffee Quality Institute, os protocolos de avaliação de café adotados foram os da SCAA.

Se você quiser conhecer quem são os Juízes SCAA e Q Graders brasileiros, faça o download da lista completa no menu ao lado.

Quando finalmente chegou o momento de avaliar os cafés, o time se emocionou!

André Wagner de BritoProf. Flávio BorémGerson Giomo,Monica Leonardi (nossa primeira Juíza SCAA do Brasil),Messias LimaRubens Lucas (pessoal que devo muita gratidão pela “ralação”, bem como a equipe de apoio do CPC – Centro de Preparação de Café do Sindicafé SP)e eu tivemos longas discussões e ponderações sobre cada café, escolhendo as palavras e expressões mais corretas para identificar os sabores e aromas que encontrávamos. Instalou-se um clima de “sarau literário” regado a café, entremeado de inspirações e bochechos.

O resultado: cada café teve seus atributos postos num gráfico para facilitar a compreensão de sua essência.

O Guia pode ser adquirido através da ABIC, bastando fazer um pedido pelo endereço abic@abic.com.br , colocando como assunto Guia ABIC da Qualidade dos Cafés do Brasil.

Posso dizer que ficou muito bacana!

Produtores de um só sucesso…

Thiago Sousa

Você já observou que raramente em concursos há um vencedor que repete o feito várias vezes?

Pois bem, foi essa uma pergunta que me fizeram nesta semana e que achei interessante abordar neste post.

Hoje existem diversos concursos em nosso país, alguns de âmbito regional e outros até internos como os promovidos por cooperativas. Concursos estaduais são realizados com o apoio da ABIC, que recebem os respectivos vencedores para um grande final que geralmente acontece durante o ENCAFÉ, que é um dos mais importantes eventos anuais do mercado.

Recentemente, foram incorporados concursos de cafés certificados como os de fazendas com certificação Rainforest Alliance, criando um modelo interessante, pois os cafés selecionados em cada país são avaliados numa final internacional por Juízes SCAA e Q Graders e os vencedores declarados durante a Feira da SCAA – Specialty Coffee Association of America. Certamente o concurso mais tradicional e abrangente em nosso país é o da torrefação italiana illycafé. E, finalmente, deve ser mencionado o Cup of Excellence, de propriedade da empresa ACE – Alliance for Coffee Excellence e que é representada no Brasil pela BSCA – Associação Brasileira de Cafés Especiais.

Afinal, por que é que no geral não se repetem os vencedores?

Bem para responder esta questão devem ser levado em conta alguns aspectos importantes como os elementos estatísticos, as sutilezas climáticas e o grupo de pessoas que irão avaliar os cafés.

É claro que existem produtores que aprenderam a escolher lotes de café especialmente para os concursos, assim como existem nos campeonatos de produção de leite, de gado e etecetera e tal. Mas, mesmo assim, muitas vezes por maior que seja o cuidado e esforço, pode ocorrer uma alteração climática que modifica todo o seu resultado. A conjunção celestial pode fazer diferença…

Por outro lado, dependendo do grupo de profissionais que irá avaliar os lotes de café, pode ocorrer um discreto delineamento de resultados. Por exemplo, se você tiver um grupo de japoneses avaliando os cafés, por questão cultural, irão preferir cafés com grande doçura, menor acidez, notas de sabor florais e chocolate (aliás, são apaixonados pelas notas achocolatosas…). Portanto, um grupo de jurados de diferentes culturas e perfeitamente calibrados conduzirão a resultados mais consistentes.

Finalmente, os elementos estatísticos também são de grande importância. Quanto maior o grupo de inscritos e maior a diversidade de origens, menor a chance de repetição dos resultados. Toda essa combinação acaba levando aos casos dos “Produtores de Um Só Sucesso”…

Para terminar, veja neste interessante link o caso dos “Artistas de Um Só Sucesso”:

http://veja.abril.com.br/videogalerias/artistas-unico-sucesso-520280.shtml

Renovar para permanecer…

Thiago Sousa

O Porto de Santos é o maior porto do Brasil pelo movimento e diversidade de mercadorias que passam pelas suas docas.

O chamado “Miolo” do Centro Velho de Santos, onde fica  a maior parte das casas de comércio de café, tem nas ruas XV de Novembro, retratada nesta foto, Frei Gaspar e do Comércio como referência. É certo que a pauta de exportação do Brasil se diversificou com outros produtos agrícolas, industrializados e minérios, mas a referência para Santos ainda é o café, que foi sua origem.

Para se ter uma idéia, nesta foto onde vemos o trecho final da famosíssima Rua XV de Novembro, aos conhecedores, estão instaladas empresas que juntas exportam próximo de 9 milhões de sacas de café (!!!) por ano, mais que o dobro, por exemplo, do que produz a Guatemala.

Um dos grandes méritos das empresas instaladas nessa região, e aqui vale a pena mencionar o papel desempenhado pela veneranda ACS – Associação Comercial de Santos, foi o de manter muito da arquitetura original dos prédios, muitos deles seculares.

Ponto obrigatório para visitas é o atual Museu do Café, no belíssimo prédio onde funcionava anteriormente a Bolsa de Café.

Um grupo de trabalho foi formado para cuidar desse incrível pratrimônio histórico e cultural, restaurando centímetro por centímetro, revitalizando móveis e os impressionantes vitrais que podem ser vistos em quase todas as janelas. Observe nesta foto o Brasão do Brasil e os vidros trabalhados de cada célula da porta de entrada do Museu.

Uma das iniciativas vitoriosas do grupo que administra o Museu foi a instalação da Cafeteria do Museu, que inclusive faz a torra no local. A cafeteria possui uma variada oferta de cafés, além do blend do dia. Surpresa foi encontrar uma versão doChapadão de Ferro como um dos cafés diferenciados.

Segundo o Companheiro de Viagem Eduardo “Duda” Carvalhaes, ativo participante do grupo gestor, existe um programa formal de treinamento dos baristas e que vem gerando grande movimentação de jovens carentes, que acabam sendo, após passagem pela Cafeteria do Museu, pinçados por outras empresas do mercado. Belo projeto, não?!

A revitalização do Centro Velho de Santos tem apoio da ACS – Associação Comercial de Santos, pois sua diretoria entende que atraindo jovens em busca de entretenimento diferenciado e de qualidade, cria-se um círculo virtuoso, gerando novos projetos e, assim, valorizando toda a região. Até há pouco tempo o cais sempre teve sua imagem no período da noite ligada à prostituição e o alto risco.

Projetos como o Bikkini Barista que envolve diferentes ambientes que oferecem serviços para quase o dia todo, como cafeteria e restaurante, além do badalado Lounge que “bomba” nos finais de semana, atraem inclusive gente de São Paulo. Veja nesta foto a parede de LEDs que fica noLounge… impressionante, não?

Restaurantes e bares com ótimo ambiente e serviços (ah, não deixe de experimentar o prato de resistência em Santos:Meca Grelhada!) dão o ar da graça durante o dia, mas assim que a Lua passa a dominar o firmamento, é hora de agito em casa como o belo espaço da Typographia Brasil. Música brasileira, samba de primeira.

Por outro lado, voltando ao comércio de café, existem além das casas exportadoras diversas empresas de serviços de suporte como laboratórios, despachantes e armazéns, num ambiente de alta tecnologia.

Vale uma visita a Santos para conhecer mais sobre a História dos Cafés do Brasil e toda a impressionante cadeia em que o café está estruturada. Por certo, apenas com visão de cadeia pode-se ter maior compreensão da lógica desse mercado e, aí, encontrar muitas e boas oportunidades.

Previsão dos Astros para 2010!

Thiago Sousa

Há muitos anos atrás frequentemente fazia mapas astrais. Isso mesmo! Mapas astrais.

Astrologia e etecetera e tal.

Cientificamente, as pessoas estudiosas diziam que haviam feitos testes medindo o ângulo que é formado pelos átomos de H (Hidrogênio) e O (Oxigênio), na famosa estrutura H-O-H (H2O), sob as diferentes fases da Lua.

Como se sabe o ângulo formado entre as ligações do átomo de Oxigênio com cada um dos de Hidrogênio é de um pouco mais de 104.. A incrível capacidade polar da água lhe confere propriedades que são essenciais para a vida como conhecemos, como a elevada tensão superficial, grande capacidade térmica e nas condições ambientais pode ser encontrada nas 3 fases (sólida, líquida e gasosa).

Pois bem, alguém fez medições do ângulo da molécula da água e observou que ocorria uma discreta alteração, por vezes aumentando o ângulo, outras vezes diminuindo. Como o nosso corpo é constituído por mais de 70%  (m/v) de água, conclui-se que somos “influenciáveis” pelas forças planetárias. Não se sabe onde foram feitas essas pesquisas e nem mesmo que as fez, mas a estória é essa. O interessante é que ao fazermos os cálculos dos mapas astrais, os resultados levam a algumas conclusões interessantes, muitas das quais chegam a ser surpreendentes dada a sua “precisão”.

Estatísticamente, o nível de acerto é relativamente baixo (menor que 40%), ficando, então, a atmosfera divertida.

Lembrando que no café a água é também o componente com maior presença (mais de 97% m/v em geral), podemos concluir que nossa bebida predileta também é influenciada pelos astros…

Assim, deixo a “leitura” que fiz dos astros para 2010!

FELIZ NATAL & UM EXCELENTE 2010

Cafeteria: Bikkini Barista, Santos, SP

Thiago Sousa

Para onde vai o mercado de cafeterias?

Pois é, o mercado consumidor de café vem ganhando novos contornos numa velocidade que está deixando muita gente experiente de queixo caído. Na verdade, na minha opinião, o que se passa é que uma nova geração de empreendedores está tomando a direção dos negócios, justamente uma geração que aprendeu e conviveu com novos códigos e ferramentas como a internet, Google, Twitter, Orkut, MSN, celulares, torpedos e etecetera e tal.

E, é natural, muitos dos experientes acabam por não acompanhar todas as inovações que acabam literalmente caindo no colo.

O Bikkini Barista, um delicioso blend de  cafeteria, restaurante, lounge, bar e espaço de eventos, é uma dessas propostas multimidiáticas e, certamente, uma das mais ousadas que surgiram no Brasil.

Imagine um local, apesar de um importante centro comercial de Cafés do Brasil, que vinha convivendo com tecnologia de ponta de informação, alguns dos mais belos laboratórios de avaliação de café e uma certa degradação. Apesar da longa história que o Centro Velho de Santos tem, toda formada pelo café, os ares, flora e fauna acabam por muitas vezes não resistir ao tempo.

Um grande esforço de revitalização, capitaneado por um grupo de empresários ligados ao café, teve início há alguns anos atrás, inicialmente com  a reforma do Museu do Café de Santos, onde funcionava originalmente a Bolsa de Café, hoje local obrigatório para visitação e que comentarei num próximo post.

Porém, esta seria apenas uma ação isolada. Com o tempo, além da repaginação de diversos restaurantes no chamadoMeião do Centro, que tem como referência as famosíssimasRuas XV de Novembro e do Comércio, locais para o agito das noites começaram a pipocar. E o Bikkini Barista seguiu essa onda…

Concebido pelo pessoal do Clã Wolthers, tradicionais comerciantes de café que tem hoje o Rasmus à frente, o Bikkini Barista, na Rua XV de Novembro, é uma fusão de conceitos, tendências e serviços, num antigo prédio de 4 andares.

Uma Cafeteria, primorosa, diga-se de passagem, no térreo.  Com cafés selecionados por amigos especialistas como o sempre Mestre Davi Pinto, posando junto às escadas na foto acima, e o Edgard Gomes.

Seguindo tendência internacional, conta com o que existe de melhor: máquina de espresso La Marzocco, bem como moinho Mahlkönig.

Excelentes cafés devem ser extraídos por mãos treinadas e olhos e ouvidos sensíveis. Sim, uma barista de primeira linha, apesar de jovem, estava a me tirar os espressos: a bela Martha. Lembrem-se deste nome, pois ainda será foco de muitas luzes…

A lógica da seleção de cafés é muito simples: apenas excelentes micro lotes de cafés. Segundo o Edgard a idéia é a de não ter um blend da casa que seja único, mas que a diversidade seja a marca registrada. Bacana, não: é o conceito de “excelente e eterno enquanto dure…”

O café que experimentei e que está sendo oferecido desde a inauguração é um Bourbon Amarelo da região de São Sebastião da Grama. Simplesmente perfeito: notas aromáticas incrivelmente florais com leve fundo de baunilha, grandiosa acidez adocicada e um sabor de grande complexidade. Repeti mais 2 vezes!

É claro que a torra tem de ser primorosa para que todas a riqueza de aromas e sabores possa ser mostrada. Foi uma feliz surpresa ao ver o resultado do minucioso trabalho genuinamente germânico doCompanheiro de Viagem Paul Germscheid como Mestre de Torra. Não existe milagre, gente: tem de ter um bom equipamento para torrar café, profundo conhecimento das técnicas de torra, treinamento e experiência, para poder extrair as mais belas notas de um grão de café.

Se você imaginar os grãos de café como uma partitura, sua leitura é feita pelos juízes de café e mestres de torra, para terem sua interpretação final pelos baristas.

Observe nesta foto a síntese do que acabo de comentar!

O terceiro andar é onde fica o Lounge do Bikkini, com um painel de LEDs que é simplesmente estonteante! 500 pessoas tem marcado presença nas noites em que está aberto, sem falar de outro tanto que fica do lado de fora do prédio aguardando uma oportunidade para entrar.

O restaurante fica no segundo andar e que já está sendo bem freqüentado pelo pessoal das empresas de café no almoço. A estratégia de marketing viral para preparar o público para o lançamento da casa merece um post também, pois é o que está fazendo do Bikkini um grande tsunami de sucesso. Vale a pena conhecer!

Comida Peruana: entre Causas & Leches de Tigre…

Thiago Sousa

A gastronomia peruana é impressionantemente rica!

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E para que excelentes pratos possam ser elaborados, matérias-primas de qualidade devem estar disponíveis. Neste caso, o Peru é o berço de dois vegetais amados em todo o mundo globalizado de hoje: o milho e a batata.

O milho em sua fase, digamos, ancestral, se apresentava em espigas pequenas, levemente “desdentado” , até porque seus “dentes” não eram muito uniformes e, originalmente, de cor negra. Variedades modernas que preservam a cor arroxeada recebem o nome de Maiz Morada. Daí vieram também grãos de dentes amarelos e os alaranjados.

Já em relação ao tubérculo mais consumido no mundo, o Peru é certamente o campeão da diversidade. Existem dezenas de variedades de batatas… avermelhadas, levemente marrons, quase negras, amarelas, douradas e vai por aí afora. Quanto aos formatos, também uma diversidade impressionante: compridos, arredondados, de casca lisa, por vezes áspera…

Por isso esses dois vegetais são componentes quase que obrigatórios na alimentação diárias do povo peruano.

Existe uma divisão entre as culinárias em razão da localidade: a litorânea, que se privilegia dos excelentes pescados, a da serra,  uma vez que o país é cortado pela Cordilheira dos Andes, e a do interior, conhecida como criolla. É possível encontrar versões de um mesmo prato a partir da localidade.

Nesta fotos iniciais apresentei as Causas, pratos elaborados com batata assada e amassada para formar o equivalente a discos de pão, com “recheios” que indicam  a procedência cultural. Como estava em Lima, capital peruana, o Companheiro de Viagem Oscar Gonzalez pediu uma degustação de causas que tinham como recheio frutos do mar. Todos incríveis, mas o meu favorito foi o que está na segunda foto: uma causa com recheio de caranguejo, secundado por finas lâminas de abacate e cobertura de maracujá. DI VI NO!

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O milho é parte de um dos pratos peruanos mais conhecidos: o ceviche, peixe cru cortado em cubos ou tiras, marinado em molho que tem em sua base o limão.

O ácido cítrico do limão ataca as fibras dos pescados, que lentamente se desfazem e criam um fundo de molho, um exsudado que possui um rico sabor e que recebe o exótico nome de Leche de Tigre.

A partir dos diferentes tipos de pescados ou frutos do mar, cria-se um delicioso mosaico de cores e sabores!

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Imagine peixes de firme textura, ostras, camarões, caranguejos e polvos… com algumas pimentas típicas, os ajis,  mais alguns temperos como o coentro e a salsinha.

Nesta degustação de diferentes Leches de Tigre, um em particular se destacou.

Adivinhe qual?

Sim, é o que está em evidência nesta foto.

Feito com ostras negras, o sabor era simplesmente fantástico. E por essa coloração negra, esse leche recebe o nome deLeche de Pantera. Intenso, quase aveludado e de grande complexidade de sabor…

Como sempre digo: somos seres essencialmente sensoriais. Vivemos de experiências e desejamos sempre repetir aquelas que nos foram cheias de prazer.

É isso: boas experiências são para ser repetidas!

E com causas e leches de tigre, essa é minha recomendação.

Cada safra tem sua própria História…

Thiago Sousa

Você sabe dizer onde está a grande “graça” do mercado de café?

É o fato de que nenhuma safra se repete!

Na verdade, como todo produto agrícola, o café é resultado de uma grandiosa soma de atividades executadas pelo homem como a adubação e colheita, além de inúmeras outras ações da Natureza como chuvas e períodos de estiagem.Parece algo muito inusitado?

Os grãozinhos que vão se transformar em deliciosas bebidas em todo o mundo tem um curso natural de sua história, que começa com a florada, seguindo-se o vingamento das frutinhas até o momento de sua colheita, que deve ser feita preferencialmente quando estiverem perfeitamente maduros.

Como um autêntico produto de Terroir, palavra de origem francesa que significa extensão territorial e as influências que o clima, solo e o toque humano podem influenciar nas características sensoriais de um produto, os grãos são muito sensíveis às variações climáticas, por exemplo. A safra brasileira de 2009 sofreu bastante com as quase initerruptas chuvas. O ideal é que o tempo de colheita, que coincide com o final do outono e o final do inverno, seja seco e com temperaturas, no mínimo, amenas.

Os principais fundamentos para se definir o que é qualidade dos grãos de café, dentro de uma visão técnica, são dois: Pureza e Uniformidade.O mercado de café trabalha com 3 segmentos muitos bem definidos, a partir da qualidade dos grãos empregados: Cafés Especiais ou Gourmet, Cafés Superiores ou de Boa Qualidade e cafés, digamos, de preços mais competitivos. (Sobre a questão da qualidade dos grãos, comentarei num outro post.)

O conceito de Pureza significa que não deve existir nenhum intruso que tenha furtivamente se juntado aos grãos de café como paus, pedrinhas, cascas ou cevada, milho, e outros “maus elementos”. Da mesma forma, espera-se que grãos que tiveram problemas com fermentações indesejáveis estejam nesta lista de “excluídos”…

A Uniformidade leva a imaginar que os grãos, após uma rigorosa seleção que chega a envolver 3 diferentes processos, são bastante parecidos entre si, seja em tamanho, formato, densidade, teor de umidade interna e, principalmente, ponto de maturação. É, realmente é bastante difícil preparar lotes de cafés especiais, aqueles de mais elevado padrão de qualidade.

Assim, conforme a Uniformidade começa a diminuir, a qualidade global da bebida cai igualmente.

Um dos aspectos mais interessantes é a sutil mudança que é possível perceber nas notas de aroma e sabor, principalmente quando se tem lotes de café de mais elevada qualidade. É que quando se tem maior Pureza e Uniformidade, perceber esse mosaico de sabores é facilitado para o paladar das pessoas.

Mas, não se preocupe caso você não consiga perceber notas de aroma ou sabor que parecem tão claras para outras pessoas. Cada um de nós é diferente, alguns mais “nariz”, outros mais “boca”, outros, ainda, “boca e nariz”, além do que isso faz parte de um treinamento contínuo. Dedilhar num teclado de computador fica mais fácil à medida que você pratica todos os dias…

Além disso, esclarecer o consumidor, compartilhar conhecimento e experiências faz com que mais pessoas possam consumir e apreciar melhor o café.

Por isso considero o trabalho educativo desenvolvido pelo Ritual Coffee Roasters de San Francisco, CA, um grande modelo: há um primoroso texto explicando “porque o café do Brasil que bebi nos últimos 6 meses está diferente agora…”

Explicar sobre a não repetibilidade das safras, que alterações climáticas podem fazer com que grãos colhidos numa mesma gleba de uma mesma fazenda acabem por beber sempre diferente, muitas vezes sutilmente diferente, mas… diferente, é transmitir o precioso conhecimento de que a “graça” do café é que podemos esperar sempre passar por uma experiência diferente a cada ano!

Portanto, não se preocupe se o sabor de seu café predileto mudou de uma safra para outra. Apenas experimente e busque identificar o que de bom pode ser encontrado na bebida.

Excelentes xícaras!