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São Paulo

The Coffee Traveler by Ensei Neto

ORIGEM

Bebi e gostei! – 4: Café Orfeu.

Daniel Kondo

O jequitibá é uma das árvores mais imponentes entre as nativas do Brasil, com uma arquitetura muito particular: tronco irretocavelmente reto e a copa que se abre de forma elegante. Atinge até 50 m de altura, conferindo um visual sempre exuberante.

E foi justamente a fácil de se reconhecer silhueta do jequitibá a escolhida para compor a inconfundível logo do Café Orfeu, como pode ser visto nesta foto ao lado. 

Originalmente, Orfeu faz parte de um dos mais interessantes mitos populares da cultura ocidental. Filho da união de uma musa, Calíope, com o deus Apolo, Orfeu tinha o dom da música, encantando a todos com os sons que tirava ao cingir as delicadas cordas da harpa dada pelo seu pai.

Preparado pelo Paulinho, uma pessoa que surpreende pelo carinho com que tira cada dose de espresso e funcionário antigo da Fazenda Sertãozinho,  experimentei um curto  e fiquei simplesmente cativado.

As primeiras notas aromáticas vieram rápidas e intensas com toques cítricos adocicados e um elegante fundo a nozes e avelãs.

O crema estava consistente e tinha coloração delicadamente avermelhada com belo tigrado.

O sabor tinha um primeiro ataque cítrico adocicado, lembrando um pouco o limão galego, seguido de um complexo de frutas secas como amêndoas e nozes, talvez ressaltado pelos óleos que estavam presentes em profusão, e fundo a caramelo que lembrou a casca deliciosamente quebradiça de um creme brulle.

Encorpado, além  de demonstrar muito equilíbrio com a acidez adocicada e o complexo sabor. Ah, e o mais importante: sem amargor.

Pedi novamente um segundo shot, novamente curto (que é o meu preferido neste serviço), e a experiência se repetiu.

Ao conversar com a Ana Cecília, da Fazenda Sertãozinho, que produz e faz a torrefação do Café Orfeu, sobre o que percebi na xícara, ela me confidenciou que se tratava de um lote muito especial, cujoblend continha parte de um lote que foi finalista no último Cup of Excellence Brasil.

Segredo revelado, bebida coerente.

Bem, diria que foi uma experiência sinestésica, ou seja, quando você sente algo com mais de um sentido em combinação!

Visão, Olfato e Paladar foram devidamente estimulados.

E, pelo fato de ter o nome Orfeu, até os aromas e sabores ganharam função de notas e andamento de uma peça musical.

Nesta foto, Zé Renato e Ana Cecília posam com um pacote do Café Orfeu desse precioso lote.

Que recomendo que seja apreciado, tão logo saiba que ele está sendo servido. Assim, peça ao barista para inspiradamente tirar um espresso.

Garanto que será uma bela experiência!

Relationship coffees by ritual

Daniel Kondo

Um dos conceitos que melhor representa o segmento dos Cafés Especiais é o chamado Relationship Coffee ou Café de Relacionamento.

Afinal, “dar um rosto” a uma bebida é dar transparência sobre o trabalho que uma torrefação faz, é mostrar que existe alguém de verdade por trás dos grãos que irão emocionar em cada gole degustado…

O fundamento deste conceito é estabelecer uma conexão entre produtores e os torrefadores de especiais, que, por sua vez, farão a conexão final com os consumidores.

Hoje, por exemplo, dia 06 de fevereiro, está sendo apresentado pelo Ritual Coffee Roasters(www.ritualroasters.com), uma micro-rede premium de cafeterias da região de San Francisco, os cafés produzidos pelo já famoso Mr. Zinho, que produz o Café Zinho, nos espinhaços de Campos Altos, MG. Na realidade, o sempre divertido Sr. Sidnei Souza é pai do meu super Companheiro de Viagem Bruno Souza, que  hoje está baseado em Portland, OR, USA.

Ritual Coffee Roasters iniciou suas operações em maio de 2005 e desde 2007 vem despontando como um celeiro de grandes profissionais, com destaque especial para seus baristas.

Ryan, nesta foto com feição iluminada após a visita à Fazenda São João, do pequeno produtorReginaldo Silvoni, em Coromandel, MG, é um dos responsáveis pela criteriosa seleção de cafés que compõe o menu do Ritual. Por exemplo, este lote de café foi particularmente muuuito elogiado por Kenneth Davis em sua avaliação registrada em maio de 2008, que pode ser conferida através do www.coffeereview.com.

Conviver com o produtor é parte de um importante roteiro de trabalho para melhor conhecer o café que será servido e degustado por ávidos “loucos” pelo nosso “pretinho básico”. Pois sim, o café é muito mais do que uma simples bebida,  podendo incorporar cultura, estórias e muita emoção em cada xícara. É essa a essência do relacionamento…

Para finalizar, veja um vídeo sobre espresso com Chris Bacca, um dos grandes baristas do Ritual:

Bebi e gostei! – 3: Transcend Coffee, Priscila do Cerrado

Daniel Kondo

A palavra “Transcender”, segundo o Dicionário Aurélio, pode significar “Exceder, Ultrapassar, Distinguir-se, Evidenciar-se ou Passar além”.

Nesta última semana estive com um jovem casal, em plena Lua de Mel, vindo da região dos Prados Canadenses, Chad e Thea.

Numa viagem mesclando “Pleasure & Business”, Chad Moss, que é o Roaster Master do Transcend Coffee (veja nos Links), de Edmonton, Canada, escolheu o Brasil para conhecer algumas das origens com as quais ele magistralmente trabalha.

Chad viveu alguns anos em Adelaide, Australia, onde conheceu a doce Thea e desenvolveu diversos trabalhos na indústria do café especial. De retorno ao Canada, foi convidado pelo Poul Mark para integrar o time do Transcend Coffee. Após acumular vitórias no Campeonato Barista do Sul da Austrália, chegara o momento para experiências na região dos Prados Canadenses. Sua experiência no espresso aproximou-o também da Gastronomia, chegando a lecionar sobre preparos de espresso no Adelaide Culinary Institute.

Quando iniciamos uma série de degustações com diferentes origens brasileiras que eu havia selecionado para esta ocasião, Chad presenteou-me com um pacote de Transcend Coffee Priscila do Cerrado.

Fiquei particularmente surpreso com a torra que o Chad aplicou nesse lote de café, com ponto próximo a #55 SCAA-Agtron. Decidi preparar o Transcend Coffee Priscila do Cerrado comoBrewed Coffee via coador de papel. Ao colocar a primeira água, a expansão dos óleos sobre o pó foi muito expressiva, denotando a perfeita conservação proporcionada pelo filme.

O aroma com toques de frutas amarelas e um caramelo de fundo era muito intenso. O sabor teve como primeiro ataque deliciosa fruta amarela, com predominância do maracujá, seguido de aveludado caramelo e delicada presença cítrica junto com um arrebatador chocolate ao final.

Doce e encorpado, sem nenhuma aresta, extremamente agradável. Apenas senti que sua finalização era inesperadamente curta devido à estrutura que se apresentara, com um corte que considerei abrupto. Como nota global, sem dúvida 85 pontos SCAA sem pestanejar!

Belo café.

Para finalizar, uma curiosidade: o nome “Priscila” tem origem no nome da filha de um grandeCompanheiro de ViagemWaldimir Sousa, da Blaser Trading, Miami, FL, USA. 

E Priscila tem sua figura estampada em cada saca de café contendo esse padrão de café.

Temporada de concursos de qualidade de café

Daniel Kondo

O mês de novembro no Brasil é pródigo na realização de concursos de qualidade de café, que, na realidade, têm sua fase inicial já em setembro.

Um dos concursos de grande impacto é o promovido pela ABIC – Associação Brasileira da Indústria do Café e que movimenta cafeicultores de todas as origens produtoras.

Sua mecânica é muito interessante: são realizados concursos regionais em cada Estado produtor. Por exemplo, São Paulo teve mais de 6 certames em áreas produtoras como na Alta Mogiana e na Alta Sorocabana, enquanto que Minas Gerais organizou nas suas 4 regiões já bem conhecidas, Matas de Minas, Sul de Minas, Cerrado Mineiro e Chapadas de Minas.

Os melhores cafés de cada regional segue para uma final estadual e daí é escolhido o representante para a grande final nacional que é o 5. Concurso Nacional ABIC de Qualidade de Café, realizado durante o 16o. ENCAFÉ – Encontro Nacional do Café, em Porto de Galinhas, PE. Os cafés, separados em duas séries em razão de seu preparo, Natural e Cereja Descascado, são pontuados pela sua qualidade global.

Ao mesmo tempo que os vencedores são conhecidos, através de provas sucessivamente realizadas durante o Encontro, são também formados grupos de compradores por torrefadores que farão chegar ao varejo em todo o Brasil desses excelentes cafés.

Afinal, o consumidor brasileiro precisa conhecer e apreciar cafés vencedores de concursos!


stes são os vencedores:

NATURAL:

1. Lugar – Fazenda Santana, de Francisco Luiz Costa – Jacuí, MG;

2. Lugar – Sítio Ravello, de Anésio Contine – Espírito Santo do Pinhal, SP.

CEREJA DESCASCADA:

1. Lugar – Fazenda Recreio, de Homero Teixeira de Macedo Jr. – São Sebastião da Grama, SP;

2. Lugar – Fazenda Serra do Boné, Carlos Sérgio Sangland – Araponga, MG.

Outro concurso importante ocorrido foi o 1. Concurso de Cafés Certificados Rainforest Alliance – Brasil.

A certificação Rainforest, conhecida pela sua logomarca com a pererequinha verde, tem crescido fortemente em todo o mundo, principalmente no Japão e América do Norte. Os consumidores rapidamente identificam pela logomarca que estão colaborando para a manutenção de vegetação nativa em cada um dos locais de produção certificada.

Há alguns anos, sempre em cooperação com a SCAA – Specialty Coffee Association of America, a RA, como é conhecida também esta ONG, organiza uma competição de cafés originados nos diversos países onde ela está presente e cuja final é anunciada num disputado jantar durante o SCAA Show, que em 2009 será em Atlanta.

O IMAFLORA – Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola, que representa a RA no Brasil, teve por iniciativa organizar o primeiro certame no Brasil, cuja participação é restrita às unidades certificadas Rainforest. Os cafés foram avaliados por Juízes Certificados SCAA, empregando exclusivamente a plataforma SCAA de Avaliação Sensorial.

Conheça os vencedores:

1. Lugar – Fazenda Santa Therezinha, de Antônio Beltran Martinez (Cereja Descascado) - Espírito Santo do Pinhal, SP;

2. Lugar – Fazenda Conquista, da Iapnema Agrícola S.A. (Cereja Descascado) – Alfenas, MG;

3. Lugar – Fazenda Estância Lecy, de Antônio Beltran Martinez (Natural) – Espírito Santo do Pinhal, SP;

4. Lugar – Fazenda Recanto, de Afrânio José F. de Paiva (Cereja Descascado) – Machado, MG.

Fuee nu Kama Café, Naha, Okinawa

Daniel Kondo

A Província de Okinawa era anteriormente conhecida como Ryu Kyu e destaca-se das outras províncias japonesas pela sua impressionante fusão cultural. Em parte, devido ao seu clima Sub-Tropical, mas praticamente Tropical, revelado pela Latitude Norte 26. 30′, possui uma agricultura que lembra em grande parte a do Sul e Sudeste Brasileiro, com plantio de cana-de-açúcar (sim, fazem até rapadura!), diversos tipos de batata doce, frutas como goiaba e abacaxi, e, como postei anteriormente, até café!

 Naha, Capital da Província, possui diversos sítios históricos com castelos e diversas outras construções antigas.

Porém, devido à uma grande influência da cultura chinesa, presente nas fortes cores tanto nos tradicionais kimonos quanto na alimentação, também muito do dialeto okinawano possui uma sonoridade particular. Além disso, o artesanato tem uma expressão especial.

Duas são as principais expressões artísticas como “handcraft” em Okinawa: a arte em vidro e a cerâmica.

A técnica de vidraria lembra a praticada na ilha italiana de Murano.

Ciceroneado pela minha prima Erica, conheci uma rua onde ficam diversos estúdios de famosos ceramistas de Okinawa, os quais produzem fantásticas peças com colorido muito diferente. 

Esta rua, conhecida como Tsugoya Yachimun Doori (Doori = Rua; Yachimun = Yakimono [palavra no japonês oficial] = Cerâmica), concentra muitos estúdios de famosos artesões okinawanos, especializados em dar forma ao barro, que pode ser tanto ao natural, quando fica com a coloração avermelhada, típica do alto teor de ferro, quanto na técnica de alto forno, quando as peças ganham colorido especial.

Depois de caminhar por toda sua extensão, conhecendo cada atelier, aproveitamos para descansar um pouco no Fuee nu Kama Café, que significa “Vulcão do Sul”, e é um misto de cafeteria e atelier. Na primeira foto está a fachada, onde se destaca o dragão. O dragão é uma importante figura do folclore okinawano, uma vez que representa proteção. Na realidade, sempre estão em casal, sendo que o macho se apresenta com a boca aberta, enquanto que a fêmea está de boca fechada.

Sem exceção, todas as casas possuem seu casal de dragões na entrada.

Observe as belas peças expostas junto às janelas.

Pedi um café Jamaica Blue Mountain, fornecido por uma grande indústria de torrefação japonesa, enquanto que a minha prima Erica pediu um Iced Coffee, pois a temperatura em Naha nesse dia era de impressionantes 32.C !

O Blue Mountain, graças a um forte trabalho de marketing promocional, é conhecido no Japão como o “Rei dos Cafés”, muito mais pela sua pequena disponibilidade, pois é cultivado numa única montanha na ilha da Jamaica. Possui grande acidez, apesar de estar blendado com outra origem, e leve sabor com toques herbáceos, além de ser muito encorpado. Aliás, esta é sua marca registrada.

Observe nesta foto a bela apresentação do serviço: os copos de vidro são típicos trabalhos dos artesões de Okinawa, enquanto que as xícaras revelam a fina arte da cerâmica desta ilha. As cores presentes, ressaltadas pela técnica de alto forno, são muito vistosas e com particulares toques de vermelho, pigmento de elevado grau de dificuldade para sua obtenção.

Ah, para finalizar: como adoçante, um sachê de rapadura japonesa!

Okinawa: Café Blue Ocean

Daniel Kondo

Você já imaginou beber café literalmente debaixo do mar?

Em Okinawa, grupo de pequenas ilhas que fica no extremo sul do arquipélago japonês, fica um dos mais completos e impressionantes aquários do mundo.

Deslumbrante!

Apenas isso…

Sua ilha maior, onde também fica a capital Naha, possui um litoral belíssimo, caracterizado pelas grandes formações de coral, que conferem um ton-sur-ton surpreendente. Por essas magníficas paisagens, Okinawa é considerada como o “Hawaii do Leste Asiático”. 

Aqui temos uma vista da entrada do Ocean Expo Park, um enorme conjunto científico e cultural com gigantescos aquários,  um parque botânico com um grande coleção de orquídeas e uma reconstituição de um antigo vilarejo.

Estas instalações foram construídas para a Expo 75, uma grande exposição internacional de tecnologia, e ficam na área próxima a Nakijin, onde existem ruinas de um castelo da época do shogunato, e a bela ilha de Iejima.

O destaque, sem dúvida, é o imenso aquário, que está literalmente dentro do Mar da China e onde é possível ver o impressionante bailado de uma fauna marítma que deixa a todos extasiados: diversos tipos de arraias, incluindo-se uma gigantesca manta do tamanho de carro compacto, tubarões e outros peixes.

Mas, o toque genial foi a instalação de uma cafeteria chamadaCafé Blue Ocean. Disputadíssimos lugares junto à parede de vidro permitem uma viagem submarina degustando uma xícara de café.

O café é fornecido por uma grande torrefação japonesa, honesto, preços acima da média, obviamente, mas nada surpreendente. Porém, é apenas um belo pretexto para se ver a quase etérea dança dos peixes a partir de um ângulo muito privilegiado.

Para finalizar, veja em close o bailado das águas vivas…

Green Coffee made in Okinawa, Japan

Daniel Kondo

Tradicionalmente o café é uma cultura típica de países tropicais, na ampla faixa localizado entre os Trópicos de Capricórnio e de Câncer.

No caso das origens mais próximas à linha do Equador, em geral as lavouras situam-se em grandes altitudes, algumas até próximas de incríveis 1.800 m acima do nível do mar.

Durante esta viagem ao Japão, encontrei preciosidades que inicio com este post.

Em Okinawa, grupo de pequenas ilhas no extremo sul do arquipélago japonês, com uma cultura resultante de uma singular mescla de diversas influências, como a chinesa, por exemplo, encontrei o que foi uma das grandes surpresas: uma lavoura de café.

Sim, uma lavoura de café no Japão!

Cultivado sob estufa para evitar danos com os costumeiros tufões, a pequena plantação é obra de um “louco” por café chamado Yagi Seigi san (lê-se “gi” como “gui”), na região de Nanjo, Wakinaguri-shi, não muito distante da capital Naha. O prefixo “shi” equivale a “Prefeitura”, como são divididos os municípios no Japão.

Observe o porte das plantas nesta foto a seguir.

Mesmo sendo uma região Sub-Tropical, pois localiza-se a 26. Latitude Norte, sua distância em relação ao Trópico de Câncer é pequena. Para se ter idéia, posição equivalente no Hemisfério Sul seria a região de Itajaí, em Santa Catarina, cujo clima é muito parecido. Daí, a quantidade de luz durante todo o ano é muito bem distribuida. 

O fato de ter um leve sombreamento fez com que as folhas adquirissem aspecto típico, com dimensões maiores e um proeminente “costelamento” em relação às plantas cultivadas a pleno sol. Observe que as folhas novas têm uma coloração tendendo para o marron, que entre os pesquisadores é chamada de “ponta roxa”, lembrando linhagens da variedade Mundo Novo.

Pelo fato de estarmos no Hemisfério Norte, as estações são defasadas de 6 meses, ou seja, enquanto que no Brasil é o meio da primavera, em Okinawa, tomando-se por exemplo, é meados do outono. Assim, é o momento em que os frutos já estão em sua fase final de maturação.

Observe, nesta foto, que os frutos já estão começando a entrar em sua fase de amadurecimento.

Com pouco mais de 200 plantas nesta estufa,Yagi san produz em média algo como 4 sacas de 60 kg por ano, que ele colhe com seus filhos e esposa, seca e depois vende para algumas lojas da região. 

Infelizmente, não pude adquirir nem um grãozinho da safra passada para provar e comentar sobre a bebida…

Porém, fica aqui o supreendente registro de uma lavoura de café no Japão!

Akisamiyo! (Esta expressão de espanto típica do dialeto de Okinawa significa “Oh!, Que coisa!”)

Green Coffee made in Okinawa, Japan

Daniel Kondo

Tradicionalmente o café é uma cultura típica de países tropicais, na ampla faixa localizado entre os Trópicos de Capricórnio e de Câncer.

No caso das origens mais próximas à linha do Equador, em geral as lavouras situam-se em grandes altitudes, algumas até próximas de incríveis 1.800 m acima do nível do mar.

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Durante esta viagem ao Japão, encontrei preciosidades que inicio com este post.

Em Okinawa, grupo de pequenas ilhas no extremo sul do arquipélago japonês, com uma cultura resultante de uma singular mescla de diversas influências, como a chinesa, por exemplo, encontrei o que foi uma das grandes surpresas: uma lavoura de café.

Sim, uma lavoura de café no Japão!

Cultivado sob estufa para evitar danos com os costumeiros tufões, a pequena plantação é obra de um “louco” por café chamado Yagi Seigi san (lê-se “gi” como “gui”), na região de Nanjo, Wakinaguri-shi, não muito distante da capital Naha. O prefixo “shi” equivale a “Prefeitura”, como são divididos os municípios no Japão.

Observe o porte das plantas nesta foto a seguir.

Mesmo sendo uma região Sub-Tropical, pois localiza-se a 26. Latitude Norte, sua distância em relação ao Trópico de Câncer é pequena. Para se ter idéia, posição equivalente no Hemisfério Sul seria a região de Itajaí, em Santa Catarina, cujo clima é muito parecido. Daí, a quantidade de luz durante todo o ano é muito bem distribuida. 

O fato de ter um leve sombreamento fez com que as folhas adquirissem aspecto típico, com dimensões maiores e um proeminente “costelamento” em relação às plantas cultivadas a pleno sol. Observe que as folhas novas têm uma coloração tendendo para o marron, que entre os pesquisadores é chamada de “ponta roxa”, lembrando linhagens da variedade Mundo Novo.

Pelo fato de estarmos no Hemisfério Norte, as estações são defasadas de 6 meses, ou seja, enquanto que no Brasil é o meio da primavera, em Okinawa, tomando-se por exemplo, é meados do outono. Assim, é o momento em que os frutos já estão em sua fase final de maturação.

Observe, nesta foto, que os frutos já estão começando a entrar em sua fase de amadurecimento.

Com pouco mais de 200 plantas nesta estufa,Yagi san produz em média algo como 4 sacas de 60 kg por ano, que ele colhe com seus filhos e esposa, seca e depois vende para algumas lojas da região. 

Infelizmente, não pude adquirir nem um grãozinho da safra passada para provar e comentar sobre a bebida…

Porém, fica aqui o supreendente registro de uma lavoura de café no Japão!

Akisamiyo! (Esta expressão de espanto típica do dialeto de Okinawa significa “Oh!, Que coisa!”)

Café Kaian, Ginza, Tokyo

Daniel Kondo

Ao andar pelas ruas de Ginza, Tokyo, encontrei esta cafeteria, de nome Café Kaian.

Ambiente “clean”, com poltronas muito confortáveis em couro, fazendo composição com o tom creme das paredes e o aço inox que domina as áreas da cozinha e estação de serviço de café.

Numa área dominada por lojas de artigos esportivos, o Café Kaian, cujo nome provavelmente veio de um dos grandes escritores do Oriente Médio, se mostra uma ilha de conforto e qualidade dentre as cafeterias de rede.

Os cafés servidos são torrados na própria loja num torrador japonês Royal de 5 kg.

Na entrada da loja, há uma ante-sala onde funciona um balcão para a venda dos grãos torrados, bem como de diversos tipos de tortas e bolos. Todos com um visual de dar água na boca…

O serviço é o de café de coador, que você pode melhor observar nesta foto, onde a simpática atendente prepara o nosso pedido.

Juntamente com os amigos Juba e Careca, pedimos um Kenya, do Leste Africano, e um da Guatemala, América Central, este provavelmente um Antigua pela suas características sensoriais.

O café do Kenya se destaca pelo fato de apresentar um grande diferencial em relação às outras origens: é o único café que reconhecidamente apresenta um elevado nível Ácido Fosfórico. Este ácido é o que compõe a Coca-Cola.

O ácido mais usualmente encontrado nos cafés das diversas origens internacionais é o Ácido Cítrico, que está presente no limão, laranja e abacaxi, por exemplo.

Além disso, em geral, um bom representante kenyano possui sempre um intenso aroma floral, e sua acidez, devido ao Ácido Fosfórico, muito intensa, perfeitamente perceptível ao provocar o mesmo efeito nos dentes como quando você bebe uma Coke.

O outro ponto que gostaria de destacar é: os cafés servidos estavam excelentes, tanto devido aos grãos, de alta qualidade, quanto ao serviço.

Isto é importante ter em mente, pois desde que o serviço seja bem executado, um excelente café sempre irá proporcionar uma grande experiência para quem bebe. Veja que não é apenas o espressoque é sinônimo de um Café Especial.

Café Especial é um lote de café de alta qualidade, além de se associar a um determinado tipo de serviço que deve ser primorosamente executado, depois de corretamente torrado.

O ritual que um café de coador tem é muito atraente e pela sua necessidade de maior tempo para a extração nos ajuda a nos “desacelerar” no nosso dia-a-dia.

More from Kopi Luwak

Daniel Kondo

Sendo um dos posts mais visitado do blog, talvez pelo aspecto totalmente inusitado de sua produção, The Animal Coffee, como é conhecido e comercializado o café produzido pelo “gatinho” indonésio, dá muitas asas à criatividade para a postagem de comentários.

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Dentre os diversos comentários postados, escolhi este, doCompanheiro de Viagem Arthur Diniz, pela finíssima análise sobre o produto e seus consumidores:

“No livro clássico ” A teoria da classe ociosa”, o genial economista Thorstein Veblen descreve o que chama de “Consumo Ostensivo” . Este café de cocô de gambá é um exemplo genial!!!!Além de ser caríssimo(o que satisfaz o esnobismo)é um castigo, melhor dizendo, uma gozeira aos deslumbrados – é cocô mesmo!kkkk! Adieu!! “

Porém, o ser humano é extremamente inclinado às experimentações; portanto, controvérsias à parte, o que vale para o que denomino de “Prática Sensorial” é ser agradável ou não. O restante segue muito os aspectos culturais da região de cada consumidor.

Cafeicultura dos pequenos – 2

Daniel Kondo

Ainda sobre os Pequenos Produtores de Divinolândia, vale a pena comentar sobre a família do Silvio Minussi.

Divinolândia é um município que se caracteriza por sua micro-região montanhosa, encravada entre a mineira Poços de Caldas e a paulista São Sebastião da Grama. A altitude média das lavouras é de 1.200 metros, chegando a 1.400 m, conforme viu-se no post anterior. Esta grande altitude, que a princípio traz algumas dificuldades operacionais aos cafeicultores, é, também, o seu grande trunfo, pois não há outra origem que combine grande Latitude com Altitudes tão elevadas no Brasil.

A Família Minussi tem pequenas lavouras de café, em torno de 10 hectares totais, numa escarpa que oferece uma deslumbrante visão, sendo que eles optaram por se certificarem como produtores orgânicos.

Silvio comentou que a opção para essa certificação foi que, pelo tamanho da propriedade, ele e o irmão entenderam que seria um dos elementos que poderiam agregar valor à sua produção. No entanto, desde o princípio, se conscientizaram de que, apesar da demanda crescente para produtos orgânicos, não poderiam se descuidar da qualidade.

Sim!

Essa visão foi surpreendente, pois vindo de pequenos produtores, que teoricamente possuem menor conhecimento e acesso ao mercado, sempre se espera uma atitude mais passiva. Mas, o conjunto de produtores de Divinolândia tem uma motivação diferente e é onde eles podem alcançar grande sucesso.

Para mostrar que estão profundamente comprometidos com a qualidade, Silvio mostrou seu pequeno terreiro suspenso coberto.

Tudo foi feito pelos próprios irmãos e a qualidade dos grãos esparramados sobre as telas demonstram o cuidado e senso de observação no momento da colheita.

Outro detalhe: são as próprias esposas que mexem o café (!), com um carinho e atenção que é peculiarmente feminino.

E preocupados com todos os detalhes, os irmãos se revesam nas tarefas, mas sob a batuta do Silvio.

Esse seu terreiro suspenso, que é o primeiro da região, já provoca grande interesse entre os outros produtores, que estão enxergando uma poderosa ferramenta para auxiliar na obtenção de cafés de excelente qualidade.

Apesar da “pirambeira” que é a pequena propriedade, cujo retorno à entrada sempre é feito de trator, quando não a pé, de tão íngreme é a topografia, os espaços foram muito bem aproveitados pelos Minussi.

Os cafés secos ficam armazenados num pequeno depósito recém-construído, todos com sua umidade verificada para que não aconteçam problemas nos grãos.

Outro detalhe: todos os pequenos lotes são identificados e todos os processos e operações registrados num caderno. Simples, porém eficiente porque é feito imediatamente!

Os Minussi se monstram muito esperançosos com os esforços, pois comentaram que “acreditam que o mercado quer mais qualidade porque, na verdade, todo mundo gosta de coisas melhores…”

Essa observação pode ser conferida com o orgulho estampado no rosto do Silvio ao apresentar uma amostra beneficiada de um dos lotes reservados da sempre excelente variedade Catuaí Amarelo – 62.

Como já comentei, rimar sustentabilidade com prosperidade é a chave. Mas, para acioná-la, a “cabeça” tem de estar preparada…

Carinho e criatividade: cafeicultura dos pequenos - 1

Daniel Kondo

Com a disseminação de conceitos que são levados pelas certificações, os produtores agrícolas, em geral, estão se familiarizando com as diversas normas de produção, que envolvem aspectos referentes às Boas Práticas Agrícolas (BAP).

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Estas chamadas Boas Práticas recomendam o criterioso emprego dos defensivos agrícolas, que são principalmente os herbicidas (“os que matam ervas”) e inseticidas (“os que matam as pragas = insetos”), além dos eventuais fungicidas (“os que exterminam os fungos = fontes de doenças”). Outros aspectos, como o uso de equipamentos para proteção no momento da aplicação desses produtos, bem como o equilibrado emprego dos adubos e dos cuidados durante a colheita, acabam influindo positivamente na obtenção de produtos agrícolas de melhor qualidade.

No caso do café, as principais certificações em voga como a Rainforest, que possui um rigoroso protocolo para os aspectos ambientais, a Utz Certified, que funciona semelhante a um modelo ISO de processos, além da Produção Orgânica eFair Trade (= Comércio Justo) também são muito atentas aos procedimentos agronômicos, pedindo, por exemplo, a separação de produtos alimentícios, que no caso são os grãos de café, dos defensivos.

Observe que é o simples emprego do “Bom Senso”… não se mistura, por exemplo, sabão em barra com um pacote de açúcar numa mesma sacola!

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A micro-região onde está o município paulista de Divinolândia caracteriza-se pela sua cafeicultura de pequenos produtores, onde a média é da ordem de 5 hectares por produtor.

Para se ter idéia, chega a ser muito menor do que muitas das áreas médias de glebas (frações identificadas de lavouras) de grandes produtores. Na região do Cerrado Mineiro, por exemplo, as glebas ou talhões em média têm de 15 a 20 hectares!

Localizada na mesma escarpa onde está a mineira Poços de Caldas, as altitudes de produção de café em Divinolândia são possivelmente as mais elevadas do Brasil, pois sua média situa-se em torno de 1.200 m acima do nível do mar, 100 metros a mais, por exemplo, que as lavouras da Serra da Mantiqueira, MG. Assim, um clima privilegiado com efeitos amplificados pela altitude propicia cafés excepcionais.

Mesmo tendo em sua quase totalidade pequenos produtores, os cafeicultores de Divinolândia procuram atender os requisitos das principais certificações.

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É o caso do Ivan Santos, cuja lavoura de café está a quase inacreditáveis 1.400 metros de altitude.

Com um capricho imenso, Ivan pessoalmente conduz a colheita, junto com o seu pai, e cuidadosamente faz o descascamento dos cerejas, que seguem para a seca nos terreiros concretados. A primeira foto mostra os grãos ainda envoltos por uma fina casca denominada “pergaminho”, que é constituída basicamente por celulose.

Para melhor preservar o seu café seco, Ivan forrou literalmente o pequeno cômodo de madeira que funciona como armazém com embalagem de leite longa vida. Incrível, não?

Ou seja, o Ivan conseguiu um excelente resultado usando sabiamente sua criatividade…

Aliás, por falar em criatividade, observe esta foto abaixo. É uma pequena vila ou “Corrutela” (como dizem os locasi) próximo ao Ivan. Para que a seca dos grãos, algumas famílias usam a própria rua como terreiro literalmente asfaltado!

Eu diria que, neste caso, já se trata de um abuso de criatividade…

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Sustainable Coffees: Negócios integrados – 3

Daniel Kondo

Como fazer os negócios agrícolas rentáveis?

Talvez a resposta esteja no processo denominado “Integração”. Os técnicos ligados à Economia Agrícola chamam de Processos Integrados quando há uma forte interação entre os diferentes processos produtivos dentro de uma mesma propriedade ou mesmo região, propiciando maior eficiência nos trabalhos, bem como no aproveitamento dos recursos em geral.

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Esta propriedade, dentro do Distrito de São Roque, em Venda Nova do Imigrante, sintetiza esse conceito.

Numa área menor que 10 hectares (1 hectare = 10.000 m2), equivalente à área quase 20 campos de futebol, o que para a agricultura é considerada pequena, este produtor possui lavoura de café, em pouco mais de 2 hectares, além de gado leiteiro, grãos e mandioca.

Parece pouco?

Pois é, além de tudo, tem também uma área com cana-de-açúcar!

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Em pequenas salas adaptadas da antiga sede da fazenda, existem diversos setores de agro-indústria instalados, desde obenefício de café, uma pequena torrefação que atende a região, produção de farinha de mandioca, um pequeno laticínio onde são produzidos queijos curados ao estilo da região de Parma (o aroma estava simplesmente inebriante…) e um pequeno alambique.

A casca do café, rica em potássio, serve de adubo para o cultivo de grãos e parte do pasto que alimenta as vacas que produzem o leite. Este leite, com grande teor de gordura, se transforma em belíssimos queijos ao estilo “Parma”, cujos pedidos são feitos antecipadamente!

Sim, os queijos são numerados e possuem o nome do comprador, que aguarda longos meses para poder saborear esses excelentes exemplares. Parece conto de fadas: vender a produção antecipada!

O esterco do gado serve de fonte nutricional para as lavouras de café, grãos e cana de açúcar. E desta sai a já conhecida cachaça “Temosinha” (isso mesmo, sem o “i”…).

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Veja ao lado, a “cave” onde a Temosinha descansa em tonéis de madeiras nobres e, também, pode ser degustada.

Isto é Sustentabilidade Próspera!

 

Elegant Coffee: Ristretto

Daniel Kondo

Elegante. Simplesmente.

É assim que pode ser definido o ambiente do Ristretto Roasters, uma cafeteria e micro-roaster que fica na área NorthEast de Portland, OR.

Guardem este nome.

Idealizada e comandada pelo simpático Din Johnson, esta cafeteria se destaca pelos belíssimosespressos servidos num ambiente acolhedor e que emana muita elegância.

Apesar de estar numa área da cidade de Portland onde a maior parte das Coffee Houses são bastante alternativas, Din imprimiu à ambientação atmosfera lounge, que se reflete no serviço com baristas que transmitem vibração zen.

Din comentou que adora a alquimia do café e tem feito suas escolhas com origens como Ethiopia, alguns da América Central e, como classifica, essenciais Naturais do Brasil.

A torração é feita pessoalmente por Din, fazendo questão de ressaltar que faz parte do novíssimo movimento dos “Hand Crafted Coffees” ou “Cafés Artesanais”. As discussões técnicas sobre torra de café que Din gosta de acalorosamente participar mostram seu entuasiasmo e perfil de artesão.

A lado, Din e eu, seu Coffee Traveler, diante de seu torrador.

Finalmente, uma composição com um café de filtro e um belo espresso que Din nos serviu:

Um museu do café…do outro lado do mundo

Daniel Kondo

Fica no Japão um dos mais completos e impressionantes museus sobre o café do mundo.

Instalado numa ilhota onde fica um grande complexo industrial em Kobe, o UCC Coffee Museum é uma visita obrigatória para todos os “loucos” por café que estiverem passando por aquela região.

Kobe é uma das principais cidades portuárias japonesas, tendo sido a que recebeu as primeiras visitas de naus portuguesas, que desde o final do Século XV já singravam os mares em busca das cobiçadas especiarias que somente o Oriente possuía. Desta série de visitas originou-se uma série de palavras e até um bolo com nomes que têm a sonoridade da língua portuguesa. “Castera” (pronunciando-se kas-te-ra sem acentuação), som que lembra castelo,  é o nome dado a um bolo que é parecidíssimo com o mais básico dos bolos brasileiros, o “Pão-de-Ló”, pois quando os portugueses ofereceram aos japoneses esta sobremesa, estes lembraram-se do formato dos tradicionais castelos japoneses.

A cidade de Kobe possui uma área histórica localizada em sua parte mais alta, enquanto que junto ao mar a cidade possui uma arquitetura arrojadamente futurística, como se tem nas grandes cidades japonesas. Parte dessa arquitetura, que ainda cheira a novo, deve-se à reconstrução que se seguiu ao mais violento terremoto que a região já sofreu, em 1995.

A UCC – Ueshima Coffee Co. é a maior indústria de café do Japão, líder nesse mercado. Além da sua linha de café, possui uma série de diferentes redes de cafeterias, tipicamente japonesas, e restaurantes de refeições rápidas.

No entanto, é justamente a paixão pelo café que move essa empresa, presidida pelo dinâmico Mr. Tatsushi Ueshima. A UCC possui uma divisão agrícola, que coordena os trabalhos em fazendas próprias na paradisíaca ilha de Kona, no arquipélago de Hawaii, e na mítica região do Blue Mountain, na Jamaica.

O museu fica ao lado da principal planta da UCC, como pode ser vista na primeira foto. Sim, por incrível que pareça, aquela torre de vidros azulados é a área industrial, que prima pela altíssima tecnologia desde a recepção do café cru, o processo de torra até o empacotamento. É uma planta simplesmente impressionante.

O museu procura oferecer uma visão sobre a cultura do café, sua história e desenvolvimento, além de diversos vídeos que mostram a forma de consumo em diversos países.

Abaixo, uma foto da área histórica, vendo-se em primeiro plano os diversos tipos de torradores:

Com uma excepcional infra-estrutura, o museu conta, além de uma curadora, local para pesquisas históricas e bibliográficas. Inclusive, todos que se dispuserem a conhecer o museu, ao preencherem uma ficha cadastral, são levados a caminhar pelas diferentes áreas temáticas, do plantio até as diferentes formas de consumo.

Como boa surpresa, ao final você recebe um cartão e um pequeno certificado de que você é, agora, um “Entendido em Café”!

Apesar de fora do tradicional circuito turístico que os ocidentais fazem no Japão, este é um local que os “loucos” por café não podem deixar de visitar.

Semelhanças & diferenças: vinho e café 1

Daniel Kondo

Hoje há uma percepção maior sobre as Semelhanças e Diferenças entre o Vinho e o Café, em parte reforçada pelo movimento dos Cafés Especiais, que conferiu ao nosso “Negro Vinho” um novo status.

Vou iniciar comentando sobre algumas semelhanças entre estas duas bebidas que hoje são consideradas “fashion”…

AGRONÔMICA 1: as uvas e os frutos do cafeeiro são frutas que fazem parte do grupo, segundo os botânicos, das Não Climatéricas, ou seja, que para atingirem o seu ponto de maturação completo devem permanecer ligadas às plantas.

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Isto quer dizer que se o fruto for retirado da planta antes de atingir sua plena maturação, esta não acontecerá.

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Ao contrário, as chamadas frutas Climatéricas, como é o caso da banana, atingirão sua maturação completa mesmo que sejam colhidas verdes. É por isso que a banana chega ainda verde nos centros de distribuição, pois a velocidade de sua maturação é lenta o suficiente para que ela chegue madura quando estiver nos balcões dos supermercados ou nas feiras livres. O fator que pode acelerar este processo é o calor, de forma que nas estações mais quentes, como o Verão, as bananas amadurecem mais rapidamente.

Portanto, tanto para a obtenção de um excelente vinho como para um excepcional café, os frutos devem ser colhidos perfeitamente maduros, preferencialmente.

AGRONÔMICA 2: A velocidade de maturação depende da variedade escolhida.

Na foto acima pode-se ver uma belíssima “roseta” (coroa de grãos formados nos internódios de um ramo de café) de uma planta da variedade arabica Mundo Novo em sua maturação plena.

Nesta foto ao lado, frutos da sempre muito procurada variedade Bourbon Amarelo com sua característica tonalidade alaranjada que denota o amadurecimento completo.

Estas duas variedades são consideradas Precoces, ou seja, naturalmente possuem um ciclo entre a florada até a plena maturação menor do que as variedades ditas normais ou até as tardias.

Entre as duas apresentadas, o Bourbon Amarelo é a variedade mais precoce. Apesar do seu sabor potencialmente fantástico, o local de seu plantio acaba sendo determinante para a obtenção de toda a gama dos aromas e sabores.

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Com as uvas para vinho, o conceito é exatamente o mesmo!

Veja que belo cachinho de uvas Chardonnay num parreiral no Columbia Valley, Oregon.

Uvas que conferem grande complexidade nas notas aromáticas e de sabor, em geral, precisam de um clima mais frio para que todo o seu potencial possa se expressar.

É por isso que em áreas mais quentes há uma predominância de elaboração de vinhos espumantes. No caso do Brasil, as vinícolas estão mudando suas plantações para áreas na divisa com o Uruguai, além do paralelo 30, para que o clima possa interagir beneficamente com excelentes variedades.

Um dos vinhos Chardonnay mais interessantes do Brasil é produzido pela Casa Villa Francioni na Serra Catarinense, próximo a São Joaquim, região conhecida pelo seu inverno rigoroso.

AGRONÔMICA 3: Uvas e Café são produzidos apenas em ramos novos.

Para a produção de uvas, após o período em que as parreiras descansam, quando os galhos ficam nus e as podas são feitas, os gorgulhos lançam os ramos que formarão os novos cachos.

Nesta foto tirada no outono, é visto um típico parreiral espaldado na fase em que as folhas já estão adquirindo tons amarelos e dourados, pois a clorofila, que dá a cor verde, já se desnaturou.

No caso do café, há uma grande preocupação em manter o “lançamento” vigoroso dos ramos, pois é nos internódios, como são chamadas as interseções, que os frutos surgirão, podendo formar rosetas idealmente cheias. 

Paisagens das origens brasileiras 2

Daniel Kondo

Nesta série, duas origens merecem destaque devido à exoticidade.

Comecemos por uma micro-região do Cerrado Mineiro denominada Chapadão de Ferro, em Patrocínio, MG. Observe esta imagem elaborada pelo CNPM-EMBRAPA:

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Há um círculo cujo contorno está muito bem definido, compondo as escarpas laterais do que pode ser uma grande depressão ou um vulcão extinto.

Dos diversos polígonos que compõem um caleidoscópico mosaico dentro desse círculo, aqueles que possuem coloração verde escura são as lavouras de café, enquanto que os que apresentam coloração avermelhada são lavouras cujos solos estão preparados para plantio e, portanto, estão nus.

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Na parte superior central desse  círculo há uma formação cuja coloração é escura e que é como os satélites “exergam” o lago.

De qualquer forma, o lago apresenta um teor de metais muito elevado, tanto é que as bússolas ficam “desnorteadas” literalmente nessa região.

Alguns cientistas ponderam que esse lago surgiu depois que as atividades vulcânicas cessaram e a água, digamos, “preencheu” o vazio.

Outros pesquisadores alegam que o que supostamente é um vulcão, na realidade pode ter sido gerado pelo choque de um meteoro!

Talvez seja esta uma das explicações plausíveis para a grande quantidade de metais existentes no solo desta área. Um banho nessa lagoa provoca grande coceira na pele, certamente fruto da alta concetração de metais e podem causar uma sensação de coceira, que nada mais é do que o efeito de osmose.

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Veja nesta foto tirada dessa parte “interna” do círculo. Os cafés produzidos nesta área se destacam pelo sabor diferenciado, provavelmente resultado da rica combinação dos metais existentes em seu solo.

E agora,…

Bela paisagem, não?

Esta área fica na divisa dos estados de  São Paulo e Minas Gerais, na mesma escarpa onde fica o município de Poços de Caldas.

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Divinolândia possui lavouras acima de 1.400 m de altitude, em regime de cafeicultura de montanha, que pode ser enfatizada por esta bela visão…

Paisagens das origens brasileiras 1

Daniel Kondo

Em geral, no imaginário das pessoas, ao se comentar de origens de cafés surgem imagens de exóticos e longínquos lugares como as selvas da África Oriental ou das matas tropicais do Sudeste Asiático.

No entanto, as origens brasileiras também dão um grande show de beleza. Montanhas distribuídas da Bahia até São Paulo próximo à divisa com o estado do Paraná, junto ao Trópico de Capricórnio, abrigam lavouras de café que encantam os torrefadores do mundo inteiro.

Acompanhe um pouco dessas paisagens…  

Veja que maravilhosa vista da Serra do Caparaó, Manhuaçu, MG!

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Deslumbrante paisagem em Sarutaiá, Sorocabana, SP, com cafezal no primeiro plano. 

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Macchiato a la Blue Gardenia

Daniel Kondo

Blue Gardenia.

Belo nome para uma cafeteria, não?

No setor noroeste da cidade de Portland, OR, USA, que passa hoje por um impressionante processo de revitalização, diversas casas estão sendo abertas, com destaque para a profusão de novas coffee shops.

A Blue Gardenia além de micro-roasterie (micro-torrefação), torrando artesanalmente preciosos lotes de café numa Diedrich de 30 kg, é também uma bakery, oferecendo diversos tipos de pães e tortas, folhados e muffins, entre outros.

Diversos cafés estão relacionados numa lista, renovada frequentemente.

São os chamados Single Origin, que significa que tratam-se de cafés produzidos numa propriedade identificada.

Certamente, este é o diferencial mais forte do mercado de Cafés Especiais, onde há uma preocupação em apresentar ao consumidor a maior quantidade de informações sobre o café, as condições de produção e o produtor, juntamente com as características da bebida.

Geralmente, nas seleções encontram-se cafés da África, América Central, Sudeste Asiático e, ultimamente, excelentes cafés brasileiros.

Mas, o que me impressionou no Blue Gardenia foi o perfeito macchiato servido.

macchiato é elaborado com leite vaporizado, mas diferentemente do lattè ou cappuccino a quantidade adicionada ao espresso é pequena, o suficiente para “manchar” o creme.

Uma das explicações correntes sobre a origem do nome macchiato é justamente a mancha que a alva cor do leite vaporizado provoca no amendoado creme do espresso.

Veja ao lado a impressionante consistência do leite vaporizado pelo barista do Blue Gardenia, cuja porção lembra um pico dos Alpes ou o majestoso Mont Hood, imponente montanha de mais de 4.000 m de altitude próximo a Portland. A xícara em delicado tom azul pastel permite uma elegante composição.

Cidades polo de café 2 – Patrocínio-MG

Daniel Kondo

A região do Cerrado Mineiro compreende 55 municípios do Triângulo Mineiro, Alto Paranaíba e parte do Noroeste de Minas Gerais, num altiplano que é parte do Planalto Central do Brasil.

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É uma das mais jovens regiões produtoras de café do Brasil, pois seu início, segundo registros do extinto IBC – Instituto Brasileiro do Café, se deu em 1972 na cidade de Patrocínio, hoje conhecida como cidade-pólo do Cerrado.

O que impulsionou produtores de café do Norte do Paraná, Alta Paulista e alguns do Sul de Minas foram três aspectos: área sem ocorrência de geadas, topografia plana e, principalmente, terras muito baratas.

As terras do cerrado brasileiro até a década de 70 eram consideradas de baixa fertilidade, sentimento reforçado pela típica vegetação com árvores retorcidas, de no máximo médio porte. Naquele momento, o governo brasileiro, sob a visão de conquista de território dos militares, estabeleceu um grande plano estratégico para o desenvolvimento dos cerrados em parceria com o governo japonês.

Em plena crise do petróleo e com ecos da Guerra Fria, o Japão, país-arquipélago altamente dependente de importações de alimentos, através de seu governo decidiu investir no Brasil especificamente nos cerrados porque entenderam que este poderia ser um grande fornecedor de alimentos. O conceito básico para que essas novas áreas fossem desenvolvidos consistia em estabelecer assentamentos dirigidos com agricultores tecnificados e, ao mesmo tempo, dispostos a assumirem posição de desbravadores.

Isso explica porque, nessa fase inicial, os diversos assentamentos eram coordenados por cooperativas que tinham origem na colônia japonesa do Brasil, como as extintas Cooperativas Agrícolas de Cotia e Sul-Brasil.

Os empreendedores em geral se norteiam pelo seu instinto e para muitos este funcionou muito bem quando se decidiram em iniciar a cafeicultura na nova região.

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Com o tempo, perceberam que havia um trunfo escondido no Cerrado: seu clima particularmente bem definido ao longo do ano.

Se observarmos de onde se originou a grande parte dos cafeicultores, em média o Norte do Paraná, a Alta Paulista e o Sul de Minas estão relativamente alinhados se considerada a latitude de Londrina, PR,  Garça e Marília, SP, e Varginha, MG, com algo em torno de 22°Sul. Patrocínio, cuja foto ao lado mostra sua entrada principal, está a 18°Sul, portanto, gerando uma diferença brutal em termos de quantidade de luz durante o ano.

Tempo chuvoso e quente de outubro a março, e ameno e seco de maio a setembro, que coincide com o período de colheita, desencadeou a percepção de que algo era diferente. Já no início dos anos 90,  qualidade do café despertou os compradores, no exato momento em que a indústria italiana illycaffè iniciou o seu hoje tradicional Concurso de Qualidade de Espresso. Nas primeiras edições deste concurso, praticamente todos os 10 finalistas eram do Cerrado Mineiro.

Ao mesmo tempo, os produtores começaram a se organizar em associações, vindo a constituir suas cooperativas posteriormente. Esta é uma das fortes características organizacionais da região: uma rede de cooperativas independentes em diversas cidades trabalhando em conjunto.

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A maior cooperativa fica em Patrocínio, cuja praça movimento aproximadamente 60% do café do Cerrado Mineiro, primeira região demarcada de café do Brasil, que produz no total algo como 4 milhões de sacas de café por ano.

Outro mérito é todo um trabalho estruturado de marketing, com marcas, selos e um programa de certificação de origem regional, que segue a tendência do mercado.

Hoje, o Café do Cerrado possui imagem ligada à qualidade como origem brasileira nos diversos destinos dos Cafés do Brasil.

Praticamente todas as importantes casas de comércio exterior possuem filial em Patrocínio, que conta com uma complexa estrutura especializada em café, como diversos armazéns, corretores e casas de insumos em geral.