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São Paulo

The Coffee Traveler by Ensei Neto

HISTORIA

Renovar para permanecer…

Thiago Sousa

Porto de Santos é o maior porto do Brasil pelo movimento e diversidade de mercadorias que passam pelas suas docas.

O chamado “Miolo” do Centro Velho de Santos, onde fica  a maior parte das casas de comércio de café, tem nas ruas XV de Novembro, retratada nesta foto, Frei Gaspar e do Comércio como referência. É certo que a pauta de exportação do Brasil se diversificou com outros produtos agrícolas, industrializados e minérios, mas a referência para Santos ainda é o café, que foi sua origem.

Para se ter uma idéia, nesta foto onde vemos o trecho final da famosíssima Rua XV de Novembro, aos conhecedores, estão instaladas empresas que juntas exportam próximo de 9 milhões de sacas de café (!!!) por ano, mais que o dobro, por exemplo, do que produz a Guatemala.

Um dos grandes méritos das empresas instaladas nessa região, e aqui vale a pena mencionar o papel desempenhado pela veneranda ACS – Associação Comercial de Santos, foi o de manter muito da arquitetura original dos prédios, muitos deles seculares.

Ponto obrigatório para visitas é o atual Museu do Café, no belíssimo prédio onde funcionava anteriormente a Bolsa de Café.

Um grupo de trabalho foi formado para cuidar desse incrível pratrimônio histórico e cultural, restaurando centímetro por centímetro, revitalizando móveis e os impressionantes vitrais que podem ser vistos em quase todas as janelas. Observe nesta foto o Brasão do Brasil e os vidros trabalhados de cada célula da porta de entrada do Museu.

Uma das iniciativas vitoriosas do grupo que administra o Museu foi a instalação da Cafeteria do Museu, que inclusive faz a torra no local. A cafeteria possui uma variada oferta de cafés, além do blend do dia. Surpresa foi encontrar uma versão doChapadão de Ferro como um dos cafés diferenciados.

Segundo o Companheiro de Viagem Eduardo “Duda” Carvalhaes, ativo participante do grupo gestor, existe um programa formal de treinamento dos baristas e que vem gerando grande movimentação de jovens carentes, que acabam sendo, após passagem pela Cafeteria do Museu, pinçados por outras empresas do mercado. Belo projeto, não?!

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A revitalização do Centro Velho de Santos tem apoio da ACS – Associação Comercial de Santos, pois sua diretoria entende que atraindo jovens em busca de entretenimento diferenciado e de qualidade, cria-se um círculo virtuoso, gerando novos projetos e, assim, valorizando toda a região. Até há pouco tempo o cais sempre teve sua imagem no período da noite ligada à prostituição e o alto risco.

Projetos como o Bikkini Barista que envolve diferentes ambientes que oferecem serviços para quase o dia todo, como cafeteria e restaurante, além do badalado Lounge que “bomba” nos finais de semana, atraem inclusive gente de São Paulo. Veja nesta foto a parede de LEDs que fica noLounge… impressionante, não?

Restaurantes e bares com ótimo ambiente e serviços (ah, não deixe de experimentar o prato de resistência em Santos:Meca Grelhada!) dão o ar da graça durante o dia, mas assim que a Lua passa a dominar o firmamento, é hora de agito em casa como o belo espaço da Typographia Brasil. Música brasileira, samba de primeira.

Por outro lado, voltando ao comércio de café, existem além das casas exportadoras diversas empresas de serviços de suporte como laboratórios, despachantes e armazéns, num ambiente de alta tecnologia.

Vale uma visita a Santos para conhecer mais sobre a História dos Cafés do Brasil e toda a impressionante cadeia em que o café está estruturada. Por certo, apenas com visão de cadeia pode-se ter maior compreensão da lógica desse mercado e, aí, encontrar muitas e boas oportunidades.

Cafeteria: Bikkini Barista, Santos, SP

Thiago Sousa

Para onde vai o mercado de cafeterias?

Pois é, o mercado consumidor de café vem ganhando novos contornos numa velocidade que está deixando muita gente experiente de queixo caído. Na verdade, na minha opinião, o que se passa é que uma nova geração de empreendedores está tomando a direção dos negócios, justamente uma geração que aprendeu e conviveu com novos códigos e ferramentas como a internet, Google, Twitter, Orkut, MSN, celulares, torpedos e etecetera e tal.

E, é natural, muitos dos experientes acabam por não acompanhar todas as inovações que acabam literalmente caindo no colo.

O Bikkini Barista, um delicioso blend de  cafeteria, restaurante, lounge, bar e espaço de eventos, é uma dessas propostas multimidiáticas e, certamente, uma das mais ousadas que surgiram no Brasil.

Imagine um local, apesar de um importante centro comercial de Cafés do Brasil, que vinha convivendo com tecnologia de ponta de informação, alguns dos mais belos laboratórios de avaliação de café e uma certa degradação. Apesar da longa história que o Centro Velho de Santos tem, toda formada pelo café, os ares, flora e fauna acabam por muitas vezes não resistir ao tempo.

Um grande esforço de revitalização, capitaneado por um grupo de empresários ligados ao café, teve início há alguns anos atrás, inicialmente com  a reforma do Museu do Café de Santos, onde funcionava originalmente a Bolsa de Café, hoje local obrigatório para visitação e que comentarei num próximo post.

Porém, esta seria apenas uma ação isolada. Com o tempo, além da repaginação de diversos restaurantes no chamado Meião do Centro, que tem como referência as famosíssimasRuas XV de Novembro e do Comércio, locais para o agito das noites começaram a pipocar. E o Bikkini Barista seguiu essa onda…

Concebido pelo pessoal do Clã Wolthers, tradicionais comerciantes de café que tem hoje o Rasmus à frente, o Bikkini Barista, na Rua XV de Novembro, é uma fusão de conceitos, tendências e serviços, num antigo prédio de 4 andares.

Uma Cafeteria, primorosa, diga-se de passagem, no térreo.  Com cafés selecionados por amigos especialistas como o sempre Mestre Davi Pinto, posando junto às escadas na foto acima, e o Edgard Gomes.

Seguindo tendência internacional, conta com o que existe de melhor: máquina de espresso La Marzocco, bem como moinho Mahlkönig.

Excelentes cafés devem ser extraídos por mãos treinadas e olhos e ouvidos sensíveis. Sim, uma barista de primeira linha, apesar de jovem, estava a me tirar os espressos: a bela Martha. Lembrem-se deste nome, pois ainda será foco de muitas luzes…

A lógica da seleção de cafés é muito simples: apenas excelentes micro lotes de cafés. Segundo o Edgard a idéia é a de não ter um blend da casa que seja único, mas que a diversidade seja a marca registrada. Bacana, não: é o conceito de “excelente e eterno enquanto dure…”

O café que experimentei e que está sendo oferecido desde a inauguração é um Bourbon Amarelo da região de São Sebastião da Grama. Simplesmente perfeito: notas aromáticas incrivelmente florais com leve fundo de baunilha, grandiosa acidez adocicada e um sabor de grande complexidade. Repeti mais 2 vezes!

É claro que a torra tem de ser primorosa para que todas a riqueza de aromas e sabores possa ser mostrada. Foi uma feliz surpresa ao ver o resultado do minucioso trabalho genuinamente germânico doCompanheiro de Viagem Paul Germscheid como Mestre de Torra. Não existe milagre, gente: tem de ter um bom equipamento para torrar café, profundo conhecimento das técnicas de torra, treinamento e experiência, para poder extrair as mais belas notas de um grão de café.

Se você imaginar os grãos de café como uma partitura, sua leitura é feita pelos juízes de café e mestres de torra, para terem sua interpretação final pelos baristas.

Observe nesta foto a síntese do que acabo de comentar!

O terceiro andar é onde fica o Lounge do Bikkini, com um painel de LEDs que é simplesmente estonteante! 500 pessoas tem marcado presença nas noites em que está aberto, sem falar de outro tanto que fica do lado de fora do prédio aguardando uma oportunidade para entrar.

O restaurante fica no segundo andar e que já está sendo bem freqüentado pelo pessoal das empresas de café no almoço. A estratégia de marketing viral para preparar o público para o lançamento da casa merece um post também, pois é o que está fazendo do Bikkini um grande tsunami de sucesso. Vale a pena conhecer!

Café del Peru: Selva central – 2

Thiago Sousa

Chanchamayo é região que tem a cidade de La Merced como polo, situada a 750 m de altitude rodeada por uma impressionante cadeia de montanhas, braços amazônicos dos Andes Peruanos, sendo conhecida como a maior produtora de café do Peru.

As propriedades que visitamos cobriam parte de La Florida,Perené e Miguel Grau, sempre com lavouras sombreadas, em latitude sul que variava de 10.30′ e 11.15′, o que justifica e pede o sombreamento.

Partindo de carro, iniciamos a viagem por sinuosas estradas de terra depois de 30 minutos por boas rodovias. E, aí começou a subida da serra…

As propriedades que visitamos eram de produtores que fazem parte das cooperativas das regiões e era perceptível um bom nível técnico na condução das lavouras. O Peru tem produzido em média 3 milhões de sacas de 60 kg por ano. Considerando-se que sua franca maioria é de cafés certificados, principalmente como orgânicos, mostra porque a média de preços que os cafés vem obtendo situa-se na faixa de US$ 2.20 por libra-peso FOB Porto de Lima.

O consórcio com plantas frutíferas, principalmente a banana, é muito comum para viabilizar comercialmente a operação. Ah, uma coisa que aprendi: usam o nome “banana” quando é a fruta de mesa, e “plátano” para culinária, como cozida ou assada.

Haroldo explicou que como as propriedades estão em locais muito acidentados e distantes das cidades, todo o transporte de coisas mais pesadas é feita no lombo de animais, e muitas vezes o chacrero prefere levar alimentos a adubos para a suachacra (= sitio). Com isso, além da natural dificuldade para a utilização de máquinas e equipamentos, optou-se por empregar técnicas da agricultura orgânica. Observe na primeira foto a quantidade de árvores leguminosas, cujo objetivo de seu plantio é o de prover sombra e ao mesmo tempo capturar nitrogênio para fertilização natural dos solos.

As variedades mais plantadas, nas fincas visitadas, eram a Caturra, como nesta foto, com sua tradicional “ponta roxa”, Catimor e Típica, junto de um eventual Bourbon. Vi que a população de cafeeiros, que pode ser considerada baixa, é algo que ainda está em discussão. No geral são colocadas 2 plantas em cada cova. Comentei sobre mudanças benéficas que a separação pode trazer para a produtividade, além de uma melhor distribuição espacial dos ramos produtivos das plantas.

A 1.300 m de altitude fica a Finca Santa Carmen, da Sra. Ilda Mariño, em Miguel Grau,Chanchamayo, que aqui posa ao lado de sua lavoura.

Ela faz parte de um programa de aperfeiçoamento técnico oferecido pela sua cooperativa e que inclui a renovação das lavouras. Em média, as lavouras peruanas, segundo informações do agrônomo Haroldo, tem 20 anos, algumas com variedades não tão adequadas, outras que tiveram problemas em seu plantio e que seguem com baixa produtividade. Daí um programa de renovação de lavouras tem como objetivo aumentar a produtividade das lavouras peruanas, além de outros benefícios.

A Sra. Ilda, como boa parte dos produtores da região, tem sua finca certificada como orgânica, já atendendo os principais destinos de Café del Peru.

Depois de visitar diversos produtores, alguns com produtividade que  impressionam, seguimos para a sede da Cooperativa de Perené.

No laboratório da cooperativa estava acontecendo um curso de introdução de avaliação de café, especialmente desenhado para filhos de produtores. Eram 14 jovens com idade média de 18 anos e muuuito interessados!

Segundo a direção do Café Peru, capacitar os produtores ou a nova geração de produtores faz parte de seu plano estratégico para que os processos produtivos e, também, os de controle de qualidade e comercialização ganhem em profissionalismo, consistência dos produtos e sua qualidade, juntamente com agregação de preço e valor. O objetivo é ter produtores que saibam provar seus cafés segundo a Metodologia SCAA, através de convênios firmados com o CQI – Coffee Quality Institute, ligado a SCAA – Specialty Coffee Association of America, para que aprimorem seus trabalhos de campo e na comercialização. Fantástico!

Tive a oportunidade de provar alguns cafés, dividindo a coordenação de uma rodada com o instrutorElias Coronel. E 2 cafés da região Sul, de Incahuasi, próximo a Cuzco, me deixaram entusiasmado com seus sabores exóticos!

Cafés del Peru: Selva central – 1

Thiago Sousa

O Peru é conhecido hoje como o maior produtor mundial de cafés orgânicos certificados.

Foi uma viagem surpreendente para mim, pois várias questões que até então eram míticas começaram a fazer sentido. Por exemplo, a área de café é dividida em três grandes territórios, ligados às chamadas “Selvas”: Selva del Norte, Selva Central y Selva del Sud. (Ooops, já incorporei o español aí…).

A parte Norte tem como referência as províncias de Cajamarca e Jaén, enquanto que ao Sul, Cuzco e o sagrado Machu Pichu.

Devido ao curto tempo, a convite do Café Peru – Central de Organizaciones Productoras de Café y Cacao del Peru, pude conhecer apenas uma parte das áreas cafeeiras da Selva Central. Café Peru trabalha como uma federação de cooperativas e organizações locais, promovendo o desenvolvimento da produção e comercialização do café e cacau do Peru através de programas de capacitação técnica, extensão rural e outros serviços.

De Lima até La Merced, cidade que serviu de base, são aproximadamente 350 km. Porém, me disseram, durante os preparativos no dia 06 de novembro, que a viagem dura em média 8 horas de ônibus. Pensei comigo: “puxa, os ônibus daqui devem ser muito lentos….”

Às 22h, juntamente com o engenheiro agrônomoCarlos, cuja família vive m La Merced e que seria o meu guia, tomamos um confortável ônibus de 2 andares. Carlos se espantou quando me viu apenas com uma camiseta, enquanto ele estava com um casaco relativamente, eu diria, “pesado”. “Você vai passar frio”, ao que respondi “Mas todos me disseram sobre o calor da Selva”. E foi aí que me dei conta (aham… nada como dar uma olhadinha mais detalhada nos mapas!) de que teríamos de atravessar a cordilheira dos Andes Peruanos para alcançar a Selva Central. E assim foi.

Depois de quase 1h e 30m por autopistas modernas, iniciamos a subida da cordilheira. Ao passar por Casapalca (mais de 4.200 m de altitude!), era visível o gelo por sobre as áreas mais elevadas e, é claro, uma rápida sensação de frio. Digo rápida porque logo o motorista do ônibus ligou a calefação tão forte que quase assou o povo…  Ficou entendido, também, porque a viagem é demorada, pois a estrada é sinuosa, muito movimentada e com impressionantes conjuntos de aclives/declives.

Eram 6h30m da manhã quando chegamos em La Merced.

Depois de um merecido banho no hotel, dei uma rápida volta pela praça central, a Plaza de las Armas, onde fica a igreja matriz. E logo ouvi um zunido como enxame de vespas: diria que quase literalmente era um “enxame de vespas”!

Diversos mototaxis rondavam a praça em busca de passageiros. Lembrou-me a lendária Romi-Iseta, dos anos 60, porém com algo mais: entreeixo mais largo, permitindo acomodar 2 pessoas, mais o piloto, como numa “moto limusine”. São todos transportes oficiais e cada um dos donos acaba caprichando mais que o outro no visual dos seus mototaxis, com diferentes adornos e itens de conforto!

Logo reencontrei o Carlos e fomos tomar um desayuno tipicamente criollo (que é como pode ser chamada a cultura do interior): uma sopa com pedaços de carne de porco, arroz e mandioca cozida; um tipo de banana da terra cozida, um tipo de batata doce e suco de guanabana, fruta que lembra a pinha. Foi um “pequeno almoço”…

E daí, com o agrônomo Haroldo, coordenador regional pelo Café Peru, fomos visitar as áreas produtoras de café.

TNT: Tá ou Não tá no jogo…

Thiago Sousa

Lembram-se da brincadeira do “Rodar o Leite” que acontece em toda a última quinta-feira do mês?

Pois é, aproveitando minha ida a São Paulo para mais um Curso Avançado, no dia 29 segui com os alunos para essa competição que está ficando cada vez melhor!

Novamente, a casa escolhida foi a cafeteriaSupliy da Rua Renato Paes de Barros, no Itaim Bibi.

Noite quase fria, depois de um dia nublado e de chuva fina. Temperatura ótima para beber lattès!

No total, foram 19 participantes, inclusive eu, seu Coffee Traveler, para poder completar as chaves. Diria que minha participação foi brilhante como um corisco, que dura poucos segundos… 

Afinal, concorri com um dos mais hábeis baristas do Suplicy nessa arte.

O pessoal foi chegando aos poucos, “aquecendo-se” atrás do balcão “rodando leite”. Momentos de descontração e ao mesmo tempo de certo nervosismo.

Afinal, não deixa de ser uma competição.

E como bem disse o Marco Suplicy, onde o ator principal é o café!

Veja o empenho do Bruno Ferreira, nesta foto, para executar seu lattè. Na realidade, os baristas iniciam a participação de forma descontraída, mas conforme as duplas vão sendo refinadas, o clima muda radicalmente, respirando-se o ar de disputa. Belíssimos desenhos foram executados.

Sugeri que o nome mudasse para TNT: Tá ou Não Tá no jogo…

Foi uma das competições mais acirradas e o grande campeão foi o Eder Ferreira, da Blendexpress, representante La Cimbali, e a vice foi a Fernanda, do Suplicy Café.

Veja a vibração dos campeões!

Vale a pena assistir e se você estiver na região numa última quinta-feira do mês, participe!

No mínimo, você terá a oportunidade de ver muitos desenhos caprichados sobre o espresso

Campeonato regional barista de Minas Gerais

Thiago Sousa

Durante a feira da AMIS – Associação Mineira de Supermercados, aconteceu como parte das atividades, a Etapa Regional de Minas Gerais do Campeonato Brasileiro de Barista, que foi de 20 a 22 de outubro agora.

O evento contou com 9 baristas competindo, sendo que a esmagadora maioria participou pela primeira vez do certame.

Bacana, não?

Isso é sinal de que está crescendo o número de profissionais no Estado que mais produz Cafés do Brasil. Sinal de que mais casas estão surgindo e investindo num negócio que cresce a passos largos em nosso país, a exemplo do que ocorreu e ocorre no exterior.

O nervosismo dos competidores era natural, muitos tremendo bastante, o que deve ter “facilitado” na hora de preparar o cappuccino… Brincadeirinhas à parte, o que deve ser destacada é a coragem de cada um deles de subir ao palco, se submeter ao crivo de juízes sensoriais e técnicos, de um mestre de cerimônias que precisa manter o pique das apresentações, de gente curiosa para saber do que se trata o evento, de cumprir a execução de 4 espressos, 4 cappuccinos e 4 bebidas de assinatura em muitas vezes parcos 15 minutos!

À exemplo do que ocorre em outras localidades, houve uma preocupação por parte dos baristas em levar cafés com origens determinadas, onde muitos dos lotes escolhidos foram cuidadosamente selecionados nas fazendas produtoras. Outra tendência apresentada foi a criação de bebidas que privilegiaram algum tipo de experiência sensorial interessante, seja mesclando sabores às vezes antagônicos, seja trazendo combinação diferente de ingredientes.

E a grande campeã de 2009 foi a bela barista Daniela Capuano, que está nesta foto comigo com o seu merecido SuperChecão…

Aos que participaram, temos que saudar pela coragem e determinação. E torcer para que mais e mais profissionais façam parte desse vibrante circuito.

Victoria Arduino: A evolução do design

Thiago Sousa

As máquinas de espresso tiveram o seu desenvolvimento a partir do final dos anos 20 do século passado a partir da inspiração de diversos inventores italianos verdadeiramente “loucos” por café.

Veja que evolução aconteceu, por exemplo, com uma das linhas da prestigiada empresa Nuova Simonelli: a Victoria Arduino.

A máquina que pode ser vista nesta foto faz parte do acervo daFresh Cup Magazine, ficando em seu hall de entrada e que, devido ao belo design em chapa martelada chama a atenção de todos.

Observe que esta máquina tem a saída do vaporizador cujo controle fica à direita do grupo errogador. A águia que fica no topo da redoma superior se tornou um ícone, que acabou sendo incorporado por diversas outras empresas fabricantes.

O fluxo de água pressurizada para o grupo é controlado por um botão de giro à esquerda, próximo ao bico de saída do vapor.

Este é o modelo atual da Victoria Arduino. Impressionante, não?!

Nesta máquina de dois grupos, as saídas de vapor ficam localizadas nas duas laterais, enquanto que a saída de água quente posta-se do lado esquerdo.

Imponente, este modelo tem um ar que eu diria como um retrô moderno, pois mescla o minimalismo do seu lay-out com toques retrô nos ícones dos controles iluminados em azul, e mesmo do  design da carcaça.

Possibilita uma série de programações quanto a alguns parâmetros de serviços, porém todo o acionamento pode ser feito manualmente através do botões tipo push botton.

Observe nesta foto, que traz em close um dos grupos,  o belíssimo design da carenagem dele, arredondada, transmitindo ao mesmo tempo sensação de suavidade e robustez. Os ícones dos botões, como mencionei, tem uma grafia divertida, mas com um efeito muito bacana dado pela retroiluminação azul.

Recentemente a Nuova Simonelli colocou-se como fornecedora da máquina oficial para competições do WBC – World Barista Championship, porém com o modelo Aurelia.

Beleza e marcas à parte, a escolha das máquinas de espressopara uma cafeteria acaba envolvendo aspectos mais técnicos e administrativos, estes principalmente no Brasil. Como nosso mercado ainda está em evolução, a presteza e eficiência dos serviços de assistência técnica acabam tendo grande peso no momento da escolha do equipamento, muitas vezes sobrepondo-se sobre o critério técnico. No entanto, com a crescente profissionalização do mercado, os representantes nas nossas paragens estão melhor estruturados, garantindo que nenhuma cafeteria fique sem oferecer excelentes espressos e lattès pelo fato da máquina de espresso estar parada à espera de manutenção.

Ben Otto & Maria & Tom Owens

Thiago Sousa

Tom Owens é um daqueles divertidos amigos típicos do mercado de café, excelente cupper (= degustador) de café,  e um grande Coffee Hunter (= Caçador de Café).

Tom, que já foi tema de um post, é o dono com a sua Sweet Maria do Sweet Maria’s, uma das referências do comércio via internet.

O que você imaginar sobre produtos para os “loucos” por café, no www.sweetmarias.com você encontra!

O que considero muito bacana é que Tom procura didaticamente passar o máximo de informações sobre cada um dos itens que estão em sua vasta lista de produtos. Seus comentários são muito divertidos e com forte base técnica.

Esse tipo de comércio vem crescendo muito rapidamente, porém é necessária uma azeitada equipe  para organizar os pedidos, um bom sistema de logística e, é claro, tudo isso a partir de bons produtos.

Um dos destaques são os cafés de altíssima qualidade que Tom busca, muitos dos quais adquiridos em concursos e outros de um longo relacionamento com os produtores. Exato, uma das atividades do Tom é viajar frequentemente às origens para buscar os melhores lotes de produtores caprichosos. Observe nesta foto, tremida por ter sido tirada com câmera de celular,  a interessante estampa desse café de El Salvador. Traços simples, ao estilo ingênuo, mas que refletem riqueza cultural.

Para criar maior interesse de cada origem que oferta, Tom procura mostrar um pouco da cultura local. Desta vez, por exemplo, mostrou as bolas de futebol (nosso futebol, o de pés…) com a sua logo e que, segundo ele, se tornou um dos produtos mais vendidos. Ele é torcedor de alguns times brasileiros como o Atlético Mineiro…

Mas o que me deixou mais contente foi reencontrar Maria e o pequeno Ben, que está com quase 3 anos!

É, pensei comigo, o tempo passa rapidinho, e só nos damos conta quando vemos as crianças crescendo ou quando vemos fios brancos se mesclando com os castanhos ou negros de nossas cabeças.

Ao fundo, dá para se ter idéia de como vem crescendo o movimento da “lojinha” Sweet Marias’s, como ele mesmo diz…

Este é um dos mercados sem crise!

Coffee shops: Bob Dylan & Ristretto Roasters

Thiago Sousa

Ristretto Roasters é uma microrrede premium de coffee shops de Porland, OR, sob a batuta do sempre gentil e elegante Din Johnson. Sua primeira loja fica na Belmont, NE 42nd Avenue, onde também são torrados os cafés.

A segunda loja, num belo projeto arquitetônico, fica na 3808 N Williams Avenue.

Esta foto retrata seu aconchegante interior. O charme fica por conta da grande janela basculante que, uma vez recolhida, dá a sensação de integração da loja com a avenida.

Tem também um espaço com duas mesas de prova de café giratórias, que servem de palco para os programas educativos com os consumidores. Provas (cupping) abertas ao público para mostrar os cafés que estão sendo oferecidos, explicando diferenças nas notas de aroma e sabor.

Educação, pessoal: aulinhas e batepapos esclarecedores.

É isso que faz o mercado crescer: conhecimento e experimentação.

Uma La Marzocco de 4 grupos domina o centro da bancada e é de onde saem os espressos e caprichados lattès.

Din é um dos Mestres de Torra que é fã de café brasileiro, do qual não abre mão para compor alguns de seus já reconhecidosblends. O Ristretto foi uma das primeiras cafeterias a servir como Single Origin(Origem Única, sem blend) o genuninamente vulcânico Chapadão de Ferro, de Ruvaldo Delarisse, e que foi um dos grandes sucessos da casa, segundo Din.

Nesta visita conheci um dos baristas mais inusitados: Dylan.

Figura, figuraça!

De chapéu e uma longa barba, ele é no mínimo singular.

Ou um típico Single Barista

Preciso nos movimentos, serviu-me um corretíssimo espresso com grãos da Guatemala e depois um belo lattè.

E é claro, como não podia deixar de ser, uma pose para a foto. Dylan e eu, seu Coffee Traveler.

Figuras como ele fazem novas e divertidas estórias, que acabam movimentando o mercado de cafés de alta qualidade. Encontrar um barista como ele, desperta, no mínimo, o interesse em puxar uma conversa que vai se prolongando no porque aquele café tem um sabor floral, sua acidez é intensa sem ser desagradável, tudo isso devido porque vem de uma região montanhosa, que a colheita é feita seletivamente e que, ao final, convence o consumidor a levar um pacotinho de 1 libra (452 gramas) para casa depois de deixar satisfeito US$ 14 no caixa da loja…

Saiba mais pelo www.ristrettoroasters.com

Girando o leite: Vaporização por Bruno Ferreira

Thiago Sousa

Bruno Ferreira, que recentemente sagrou-se campeão da etapa São Paulo do Campeonato Brasileira de Barista, profissional dedicado do Café Suplicy, é um dos mais talentosos na arte do latté.

Nesta foto impagável tirada no Restaurante Liguria, em Santiago, ele faz dupla com a Cleia Junqueira, ambos doBrasil Barista Team.

O café lattè é uma das bebidas preparadas com espresso que cativa os jovens pelo sabor, combinando a textura do leite e seus delicados componentes de sabor com a força do café. Levando-se em consideração de que o espresso usado é fruto de uma bela combinação de origem selecionada, torra cuidadosa e extração técnica, o elemento de maior importância passa a ser o leite.

E aí tem uma série de coisas importantes: a quantidade de gordura do leite, o seu teor de açúcar e o seu frescor. Ah, é claro que o tipo de gado acaba tendo grande influência nisso tudo.

Vou comentar uma curiosidade. Sou um bebedor inveterado de leite e às vezes ficava refém de marcas industrializadas tradicionais e de, digamos, muita “tecnologia”. No período em que morei na região de Paracatu, MG,  era fã do leite e derivados comercializados pela cooperativa local. E sempre me perguntava: puxa vida, como é que eles conseguem um leite tão cremoso e doce?

Anos depois tive a resposta com pesquisadores da EMATER – Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais que desenvolviam trabalhos com o queijo produzido na famosa região da Serra da Canastra, cujo gado tem certa semelhança, bem como as condições de pasto. Um dos motivos que fazem a fama do Queijo Canastra é a sua cremosidade interna enquanto a casca se torna “curada” (= ressecamento natural da parte externa), obtido pelo parco leite produzido por gado muitas vezes SRD (= Sem Raça Definida, como dizem os veterinários…). Como o animal produz pouco, isso em relação às raças de alta produtividade, o leite é mais concentrado. Ou seja, tem mais gordura!

Tendo uma boa matériaprima, no caso o leite, são necessários ainda uma boa máquina (em resumo, uma boa caldeira) e treino, muuuito treino.

Uma máquina com uma boa caldeira fará avaporização do leite de forma adequada, sem perder pressão e, consequentemente, a temperatura do vapor. Isto é imprescindível para que a quebra das partículas de gordura ocorra dentro de um tempo razoável, garantindo excelente consistência do “colchão” formado pelo leite vaporizado.

Veja neste pequeno vídeo, como o Bruno Ferreira faz este processo:

Um novo mercado de café no Chile

Thiago Sousa

O Chile vem experimentando um impressionante momento econômico, que pode ser perfeitamente captado pelas inúmeras construções e expansão dos diversos tipos de negócios.

Aproveitei para visitar as cafeterias chilenas em Santiago depois de quase 2 anos depois de minha última viagem.

A evolução nesse tempo foi muito grande.

Anteriormente, a não ser pelas já instaladas 11 lojas da Starbucks e uma ou outra loja pequena, o que havia era modelos definidos pelas duas maiores redes do país, Café Caribe e Café Haiti, ao estilo “Café y Piernas”.

OK, as máquinas Gaggia e Cimbali de 4 grupos, sempre douradas, impressionam, pois cada casa tem no mínimo 3 dessas, o que nos dá uma idéia do que o pessoal gosta de café…

Mas, como sempre digo, o mercado de café tem um típico ambiente globalizado, onde as tendências acabam se esparramando por todo o planeta, desde que uma boa idéia seja lançada.

No caso específico do movimento dos cafés especiais, o Chile também já experimenta os primeiros passos. Devido a uma cultura voltada para a gastronomia, fortemente influenciada pela indústria do vinho, diversas escolas de alta gastronomia se espalham pelo país, sendo uma das referências o INACAP, que se assemelha ao SENAC no Brasil, com cursos em nível de tecnólogo e superior pleno.

Vinho e Café possuem muitas similaridades, o que permite um trabalho muito estreito. E se o país tem uma trajetória estupenda com o vinhos, certamente para a entrada do café esta relação pode ajudar bastante.

Com a melhoria econômica, os chilenos passaram a viajar e trazer consigo novos conceitos na área do consumo de café, daí hoje existirem pessoas com bom trânsito no nosso mundo, como os baristas Matias Lama, proprietário do Espresso Bar, e do Juan Mario Carvajal, que mantem o centro de treinamento Sierra de los Andes, que participou como convidado  de uma das edições do concurso Cup of Excellence.

De novo, como sempre digo, a dupla dinâmica: educação e experimentação. Juan Mario, por exemplo, participou ativamente das oficinas para baristas oferecidas durante aSemana do Café Gourmet do Brasil sob as batutas da Cleia Junqueira e do Bruno Ferreira. Educação, treinamento e mais conhecimento. É assim que se cria batalhões de novos treinadores, para que mais pessoas possam conhecer mais e mais sobre o café, sua arte e suas diferentes formas de consumo.

Visitando a cafeteria Espresso Bar, tive a oportunidade de pedir um café orgânico do Peru, muito bem extraído pelo barista da casa, Lucas, que aqui posa ao lado do pacote do café. Máquina e moinhoLa Marzocco, além de produtos de excelente qualidade, desde águas e sucos até doces e lanches, num ambiente muito bacana.

Como sempre deve ser!

Uma jornada sensorial com Pascual Ibañez

Thiago Sousa

A nossa Trilogia Perfecta, como comentado no post anterior, foi construída com as criações gastronômicas do Chef Francisco Mandiola, e da seleção de incríveis vinhos pelo “mago” Pascual Ibañez, a partir dos cafés que escolhi.

Em geral, estabelecer uma harmonização entre pratos e vinho já é uma tarefa que exige grande sensibilidade, o que dizer, então, quando é uma “conversa a três”?

Foi um fantástico desafio encontrar parâmetros que pudessem ligar três entidades aparentemente tão distintas como o vinho, o café e os diferentes ingredientes culinários, desde pescados nobres até carne bovina e cordeiro.

As habilidades, experiências e, claro, muita inspiração por parte dos dois simpáticos mestres foi decisiva. Havia lhes enviado os cafés cerca de dez dias antes com as recomendações de preparo e algumas sugestões, porém as soluções criadas tanto por Mandiola quanto Pascual foram impressionantes quanto à precisão.

Para os pescados preparados pelo Chef Mandiola, salmão salteado com crosta de café e especiarias e o ouriço do mar em manteiga de café guarnecido com uma delicada torrada de pão de miga integral, Pascual Ibañez selecionou um finíssimoPinot Noir Veranda 2007 dos Viñedos Corpora. Fato interessante é que as uvas foram cultivadas em duas regiões distintas, Casablanca e Bio-Bio,  que resultou num vinho de grande expressão.

Nariz de frutas vermelhas frescas como cerejas recém colhidas, muito agradável na boca com fluidez e leveza, acidez esperta e alegre, e que nos traz sensações de limpeza e cristalinidade. Estas características conferem grande equilíbrio com o salmão, permitindo que a delicadeza da crosta de café e especiarias mostrasse sua presença.

Com o ouriço,  este vinho fez ressaltar o delicado sabor salgado da manteiga de café. O que ocorreu com o Café Floral do Chapadão de Ferro foi diametralmente oposto, pois sua combinação trazia maravilhosa sensação de manteiga, tirando a natureza oceânica do ouriço e conduzindo a algo que lembrava uma natureza láctea.

Este Pinot Noir estabeleceu equilibrado convívio com o café, ressaltando as notas florais deste, enquanto que, no retorno, o vinho tinha suas notas de frutas e viva acidez mais presentes.

A escolha de Pascual, sommelier com formação na Espanha, para os pratos cárneos foi iluminada: um Gran Reserva Syrah 2007 da Série Riberas da Concha y Toro. Cultivadas em Don Javier, as uvas dessa casta vem ganhando grande respeito no mundo dos vinhos devido à complexidade de notas de aroma e sabor que os solos vulcânicos chilenos podem contribuir.

Despertando grande atenção de todos, Pascual fez um grande número de colocações justificando sua escolha: queria algo mineral, pois o café com o qual este vinho deveria se harmonizar também é mineral; procurou notas “animais”, lembrando como carne vermelha sendo cortada, pois o café vem de uma origem que possui elevado teor de ferro no solo; buscou notas de frutas mais que maduras, já em fase própria para compotas, fazendo expressar doçura e a gama de notas de sabor.  Bingo!

Não poderia ser outro vinho: Pascual foi preciso, diria, até “cirúrugico” nesta escolha.

Este maravilhoso vinho ressaltou todo o sabor do tenro filé bovino, que tinha um delicado molho a café. Com o cordeiro, que estava em cama de um delicado creme de amêndoas e café esferificado, buscou delicadas notas amanteigadas dessa carne, equilibradas com a acidez aveludada desse Pinot Noir.

Quando o café e o vinho iniciaram sua harmonização, surgiu um raro mosaico de sabores evidenciados, ora a acidez adocicada e maravilhoso caráter mineral, secundados por intenso sabor de compotas de groselha do café do Chapadão, ora as notas que lembravam a carne fresca cortada tendo como fundo baunilha e frutas secas.

Ufa! Foi uma experiência incrível que gostaria de trazer ao Brasil. Esses dois são mestres e iluminados!

Aqui rendo minha homenagem e respeito.

A inovação transgressora de Francisco Mandiola

Thiago Sousa

O desenvolvimento que o Chile vem alcançando nos últimos anos é fruto de um grande trabalho de base, onde a educação tem recebido especial atenção.

A gastronomia, em particular, vem experimentando vigorosa expansão tanto no magnífico número de excelentes restaurantes como na formação massiva de grande profissionais. Neste ponto, o INACAP – Instituto Nacional de Capacitación Profesional, cumpre papel importantíssimo com suas diversas unidades espalhadas por todo o Chile e com áreas de formação das mais diversas, a exemplo do trabalho desenvolvido pelo complexo SESC-SENAC no Brasil. SuaEscuela de Gastronomia y Hoteleria, instalada numa bela construção com impressionante infraestrutura, no elegante bairro Los Condes, forma um grande número de jovens profissionais da arte da alimentação e seu serviço.

Assim, a partir de vigorosas e fervilhantes fontes como essa escola, é possível fazer surgir talentos como o do premiadíssimo Chef Francisco Mandiola,compenetradamente executando um prato nesta foto.

Durante dois dias tive a felicidade e honra de compartilhar de sua arte refinadíssima como parte daSemana do Café Gourmet do Brasil, denominada Sabor & Saber, numa iniciativa cooperada entre aACHIGA – Associación Chilena de Gastronomia e a ABIC – Associação Brasileira da Indústria do Café.

Com o Chef Francisco Mandiola e o renomadoSommelier Pascual Ibañez, realizamos oworkshop denominado La Trilogia Perfecta: Comida, Vino y Café. A partir de uma intensa troca de e-mails e alguns telefonemas, o trabalho foi centrado na harmonização entre elementos gastronômicos, vinhos e café, um grande desafio lançado pela ACHIGA-ABIC. Comentarei nestepost sobre o inspirado trabalho do Chef Mandiola.

O Chile é um país que possui um aspecto privilegiado: sua disposição geográfica ao longo dos meridianos, conferindo riqueza única deterroirs. Pescados numa variedade impressionante, disponibilidade quase indescritível de frutas e hortaliças, além de carnes nobres compõe sua oferta.

Selecionei apenas dois cafés para este trabalho. Porém, cafés absolutamente especiais para possibilitar a exploração de diferentes perspectivas pelos meus novos amigos: a partir de alguns lotes da Fazenda Chapadão de Ferro, de Ruvaldo Delarisse, escolhi um que apresenta notas florais como rosas e sabor com  presença de cerejas maduras, elegantes e frugais; o outro lote, de grande complexidade, apresenta frutas tropicais e vermelhas, estas, porém, como compotas, tal é a presença de açúcares, vigorosas notas minerais terrosas e finalização combinada de caramelo e amêndoas.

Chef Mandiola concebeu para entrada uma combinação de elementos típicos das Costas Chilenas, salmão e ouriços do mar, com vistas à harmonização com o café de notas florais. O salmão foi levemente salteado em grelha e recebeu para sua crosta um fino pó de café com algumas especiarias, enquanto que o ouriço teve como acompanhamento uma manteiga de café.

Posso dizer que muitos entraram em êxtase ao fazerem a a combinação do café de notas florais da Fazenda Chapadão de Ferro com o ouriço, que transmitiu uma maravilhosa sensação amanteigada e cremosa que preenchia toda a boca. E o café estava em tempratura praticamente ambiente, em torno de 25ºC !

O conjunto seguinte foi composto com um filé ao molho de café e um cordeiro com café esferificado guarnecido de um delicado creme de amêndoas. O café em foco foi o de características minerais e frutas. Novamente, a combinação se mostrou magnífica, fazendo com que alguns dos presentes literalmente suspirassem… E na platéia estavam diversos Sommeliers, Chefs e jornalistas especializados.

Para o final, Chef Mandiola criou uma sobremesa com um delicado sorvete, quase um merengue de chocolate e licor de café, e um After Eight, uma bebida digestiva a base de menta e folhas de menta com alguns grãos de café recobertos de chocolate. Ah, sim, o café foi o mesmo da segunda rodada, pois tinha potência de sabor suficiente para secundar o chocolate, mas foi com o After Eight que deixou todos maravilhados, quando um sabor adocicado e cristalino se impôs.

Vários dos presentes se levantaram para brindar essas criações, que merecem um destaque num compêndio gastronômico.

E, para mim, foi uma experiência também inesquecível, pois a compreensão dos complexos sabores que os cafés vulcânicos do Chapadão de Ferro apresentam por parte de um profissional do quilate do Chef Francisco Mandiola foi um verdadeiro presente.

Aliás, um valioso presente para os Cafés do Brasil.

A implacável invasão das pestes!

Thiago Sousa

Pois é, as mudanças climáticas provocadas pela ação humana em nosso planeta estão trazendo efeitos cada vez mais perversos!

Do degelo da calota polar, que faz elevar o nível das águas dos oceanos ao aumento da temperatura média, muita coisa está mudando em nosso dia a dia. Talvez um dos maiores realinhadores da história do planeta Terra seja o clima, cujas alterações podem provocar a extinção de espécies com pouca capacidade de adaptação.

Os cientistas dizem que os insetos possuem excepcional capacidade de sobrevivência à condições das mais inóspitas como o caso da barata ante uma hecatombe nuclear.

Sim, esse temível inseto voador e que apavora 9 entre 10 mulheres consegue sobreviver a altíssimas doses de radiação!

Na foto vemos de forma ampliada um dos maiores vilões da cafeicultura: o Hypothenemus hampei, conhecido pelo carinhoso nome de Bicho da Broca do Café.

Como todo bom inseto adora um clima quente, por isso sua infestação tem seu auge no verão que coincide com a época que os grãos de café experimentam sua fase de mais rápido e intensivo crescimento, correspondendo mais ou menos com a nossa puberdade. Nessa época os grãozinhos literalmente se esticam, como a nossa molecada, ao passar da fase chumbão para a do verde/verdão. Nessa fase, como é de se esperar, a casca é mais fina e, portanto, mais fácil de ser perfurada pelo inseto, que tem no seu bico uma poderosa ferramenta cortante,  indo se alojar no interior agradável e providente de todo o alimento que precisa.

Ao perfurar as sementes do café, abre portas para ataques de fungos e bactérias, podendo gerar sabores devido à fermentações indesejáveis e outras contaminações, derrubando definitivamente a qualidade da bebida. Além disso, dependendo da voracidade com que o inseto se alimentou, a semente pode ter de um furo a vários, quando, então, recebe o nome de “grão rendado”, pois lembra visualmente às rendas executadas por artesãs dos fios de algodão.

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Estudo recentemente publicado pelo ICIPE – International Centre of Insect Physiology and Ecology com cientistas nos Estados Unidos, Alemanha e Colombia, verificaram o potencial efeito devastador que o aumento global da temperatura está provocando no caso das facilidades de sobrevivência do Bicho da Broca do Café. Regiões antes nunca afetadas como o imponente Monte Kilimanjaro, no Kenya, estão sendo implacavelmente atacadas por esse “pestinha” . Outras origens produtoras de café cujas lavouras se encontram a elevadas altitudes como Colombia, Ethiopia e Tanzania, começaram também a sofrer inédito nível de ataque desse pequeno e indesejável inseto, aumentando consideravelmente o prejuízo financeiro causado aos produtores, pois esses chamados Grãos Brocados são considerados como defeitos e, logo, tem de ser descartados. Os problemas de bebida se intensificam, pois grãos com um único furo e contaminados são difíceis de serem retirados.

Esses cientistas preveêm um futuro dificíl nesse sentido.

Para se ter idéia de como esse problema é crônico no Brasil, veja nesta foto a reprodução de um cartaz de 1927 sobre uma Campanha de Combate à Broca.  Há um belo estudo histórico sobre este assunto feito pelo pesquisador André Felipe Cândido da Silva e que você pode acessar através deste link:

http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-59702006000400010&script=sci_arttext

Competindo por prazer… Baristas em SP!

Thiago Sousa

Sabe qual é a tela que o barista usa para mostrar sua arte?

Resposta: um espresso bem tirado.

E qual é a sua “tinta” preferida?

Resposta: um “gordo” leite para uma bela vaporização…

Sem dúvida executar um lattè artisticamente é o que se pode chamar de uma verdadeira “pintura com café e leite”, onde o espresso funciona como uma tela de pintura e o leite vaporizado, a tinta. Veja nesta foto o atual campeão brasileiro de Lattè Art, Eder Ferreira, vertendo inspiradamente o leite sobre um espresso na cafeteria Suplicy Café, SP.

Depois de um intenso dia no curso avançado, fui com osCompanheiros de Viagem Yara Castanho, atual campeã barista do Brasil, e Paul Germscheid, que representa a La Marzocco no Brasil, à loja Suplicy da Rua Pedroso Alvarenga, no Itaim Bibi, SP, para acompanhar uma competição super-divertida. Yara, que representou o Brasil no último WBC – World Barista Championship (Campeonato Mundial Barista), em Atlanta, abril último, participou de uma competição onde baristas colocavam sua arte à prova de maneira descontraída, em embates de dois a dois.

Quando chegamos, baristas de várias cafeterias e empresas já se faziam presentes, alguns em warm-up (= aquecimento) para a brincadeira.

Cada barista pagou R$ 10 como “inscrição” (na verdade como sua aposta…) e o vencedor levaria o total arrecadado, que incluiu contribuições de simpatizantes.

Durante o aquecimento, os baristas aproveitavam para ensinar a quem quisesse como, primeiramente, “rodar o leite” (vaporizar) e, depois, verter sobre o espresso e executar desenhos. Num clima descontraído, as chaves foram formadas e os juízes convocados: Eliana Relvas, Maria Lúcia Cruz e … eu, seu Coffee Traveler!

Como regra, os juízes não podem ver os competidores executando sua arte, sendo chamados pelo mestre de cerimônias para o julgamento: após avaliar os dois lattès e conferir grau de dificuldade do desenho, simetria e contraste, numa contagem de 1-2-e-3, os jurados apontam para a xícara vencedora. E com direito a urros, vivas e muita farra!

Depois de  muitos duelos divertidos, inclusive com principiantes que “criaram” desenhos de “nebulosas” a “bolinha de papel amassado”, o grande vencedor da noite foi o barista Bruno Silva, do Suplicy, que, como se vê nesta foto, literalmente “abocanhou” o seu merecido prêmio.

Ao ver baristas de diversos locais, como o Eder Ferreira, da Blend Express, o José Renato, do Octavio Café, por exemplo, ficou para mim a feliz sensação de que esse tipo de brincadeira cria um inestimável círculo fraterno, unindo esses jovens profissionais a partir de sua arte e paixão: o café e suas expressões.

Isso tudo deixa transparecer que mera rivalidade comercial pode ser quebrada pelo entusiasmo daqueles que ajudam a mover esse vibrante mercado que o nosso país está aprendendo a conhecer: cafés e profissionais especiais!

Descobrindo aromas e sabores!

Thiago Sousa

O curso avançado com sua 8a. Turma está a pleno vapor!

Vários exercícios para ajudar a construir as habilidades sensoriais de cada aluno são desenvolvidos intensivamente durante os 4 dias.

O ritmo é forte, mas percebemos que os participantes conseguem absorver bem os fundamentos que são vivenciados em diferentes experiências.

Um dos exercícios mais interessantes é o feito com o hoje famoso conjunto de aromas Le Nez du Café, especialmente criado pela equipe do renomado Jean Lenoir para a SCAA. Um belo estojo de madeira acomoda 36 diferentes dos mais comuns aromas presentes nos principais cafés produzidos em todo o mundo, resultado de um impressionante esforço de diversos aromistas liderado por Lenoir ao longo de mais de 4 anos analisando cafés de mais de 400 diferentes origens.

Estes aromas são divididos em 4 grupos (de origem Enzimática, por Caramelização de Açúcar, por Destilação Seca e Defeitos). Após o treinamento, quando é explicado em quais cafés os aromas são encontrados, são feitos testes de reconhecimento em ambiente com iluminação modificada, justamente para que apenas o olfato seja o sentido mais exigido.

Outro exercício muito interessante é o de Percepção dos Sabores Básicos.

Sabores Básicos são aqueles percebidos apenas pela língua e são o Doce, Salgado, Azedo, Ácido e o novíssimo Umami. No curso, é dado enfoque especial para os sabores Doce, Salgado e Ácido, trabalhados através de soluções cuidadosamente preparadas de sacarose (açúcar de cana), cloreto de sódio (sal de cozinha) e ácido cítrico (encontrado no limão e laranja).

Nesta foto vemos as baristas Flávia Pogliani e Yara Castanho, que estão como assistentes do curso, tentando identificar essas soluções.

São exercícios e testes muito bacanas porque passam a impressão de que tudo é uma questão de fé… afinal as soluções tem a aparência da água, mas os sabores, isso sim, são muito diferentes!

Esse tipo de conhecimento facilita a compreensão de diversos tipos de sensações de paladar que podemos encontrar nas diferentes bebidas, incluindo, é claro, o nosso venerado café de todos os dias.

Ora, chupar grãozinhos!

Thiago Sousa

A lenda mais corrente sobre a origem do café, originário dos altiplanos da Ethiopia, Leste Africano, diz que um pastor de nome Kaldi percebeu que suas cabras ficavam muito agitadas quando próximas a uns arbustos de belas folhas de formato elíptico e intensa cor verde.

Observando atentamente, Kaldi descobriu que suas sabidas cabras estavam se esbaldando com frutinhas arredondadamente vermelhas que se formavam nos ramos desses arbustos.

Ele próprio, segundo a lenda, experimentou essas rubras frutas e adorou o seu sabor intensamente adocicado. Deve ter pensado “como são inteligentes minhas cabras…”

Certamente, o adocicado da polpa da fruta deve ter deixado Kaldi ligeiramente eufórico como acontece conosco quando ingerimos açúcar, principalmente a sacarose (= açúcar de cana) e glicose (encontrada no mel, por exemplo). Estas substâncias, reconhecidas como energéticas, tem um rápido metabolismo em nosso corpo e o “choque”, se assim podemos dizer, é sentido facilmente pelo nosso corpo, assim como o seu agradável sabor. Apenas para lembrar um pouco de como o açúcar é importante na nossa recomposição depois de um grande esforço, todos as bebidas isotônicas, indicadas para os atletas, tem açúcar e sais minerais em suas fórmulas.

Em geral, a polpa do grão perfeitamente maduro do café tem uma concentração de solúveis da ordem de 20 %, dos quais 6% a 10% correspondem aos açúcares. Por isso é que os frutos do cafeeiro atraem tantos animais para o seu consumo: de cabras ao luwak da Indonésia, passando pelos jacus, maritacas e mesmo os “loucos” por café como nós…

Naquela época, de nada adiantaria Kaldi colher as sementes de café animalmente processadas para comercializar como algo exótico, mas, ao menos, permitiu que um novo nicho de mercado fosse criado milênios depois.

Dizer que as cabras de Kaldi ficavam hiperativas devido à cafeína não é verdade porque ela se encontra no interior das sementes, sendo extraída após a torra e preparo da bebida. Porém, esta é uma lenda e como toda boa lenda tem os seus mistérios.

O hábito de chupar as frutas do cafeeiro, no entanto, tem uma razão para nós: assim como outras frutas de polpa como a sempre mencionada jabuticaba e a uva, o sabor adocicado nos demonstra se a maturação está completa ou não. É um exercício muito interessante e sempre estimulo aos amigos “loucos” por café para fazerem isso, desde que a lavoura permita isso, ou seja, que o prazo de carência de eventuais agroquímicos aplicados esteja encerrado. Casos de lavouras que empregam manejo com pouco uso desses agroquímicos ou até mesmo sem eles são os mais seguros para essa, digamos, prática de habilidade sensorial.

A foto acima mostra o Companheiro de Viagem Chad Moss, de Edmonton, Canada, procurando por frutas do café  para experimentar.

Antes da ida ao campo, havia comentado com ele sobre os diferentes pontos de maturação e comparamos com o que ocorre com as uvas viníferas. Chad, talentoso barista, também adora experiências enogastronômicas, o que torna nossas conversas sempre muito bacanas.

Conforme o processo de maturação da fruta avança, é possível perceber a notável alteração na relação entre os alcalóides, que transmitem a sensação de adstringência, e os açúcares. Existe, ainda, um outro dado importante, que é o perfil de açúcares na polpa, pois apesar de uma infinidade de açúcares presentes, há o predomínio de três deles: a glicose, a sacarose e a frutose. Dependendo de como o teor de açúcares está composto, a nossa percepção pode mudar dramaticamente.

Mas isso é tema para um outro post

Café é tudo de muito bom!

Thiago Sousa

O programa Globo Repórter de ontem, 07 de agosto, tratou de Mitos e Verdades sobre o Café pelo repórter Alberto Gaspar e posso dizer que foi uma das melhores reportagens sobre o nosso venerado café que vi produzida no Brasil.

De como os mitos de que o café faz mal às crianças foram consistentemente derrubados, passando pelas sempre inspiradas pesquisas genéticas lideradas pelo venerando IAC – Instituto Agronômico de Campinas e até um treinamento com deficientes visuais na degustação de café, a reportagem teve momentos inesquecíveis.

Este vídeo comenta sobre a atuação dos componentes do café no centro do prazer do cerébro, demonstrando que é uma bebida que pode dar sempre boas viagens sensoriais. O grande número de substâncias aromáticas juntas com a cafeína, que é “prima primeira” da teobromina do chocolate são responsáveis por boa parte dessas agradáveis sensações.

Só para lembrar: o que causa sensações desagradáveis ao beber um café são o que chamamos de fermentações indesejáveis como a fermentação acética (conhecida no mercado como decorrente de “grãos ardidos”, ou seja, o café foi literalmente para o vinagre…) e a fermentação bacteriana (que leva à formação de compostos fenólicos = Bebida Riada e Rio, com seu terrível sabor a creosol).

Este outro link mostra o dia a dia de um produtor que faz a colheita com derriça seletiva, o que tem lhe conferido bons resultados. Sinal de que qualidade é, antes de tudo, resultado de capricho!

E o consumidor agradece…

Experiências com Ben Kaminsky: explorando sabores.

Thiago Sousa

Domingo foi um novo dia…

Após o almoço, a primeira coisa que Ben me perguntou foi sobre uma sorveteria que tinha sorvetes com diferentes frutas, que ele nunca tinha visto. É uma pequena rede chamada Frutos do Cerrado e que tem um sortimento de sabores com frutas típicas do Cerrado, além de algumas da Amazônia.

Escolhemos uma série tão grande de sabores que a moça do caixa se espantou e disse: “Vixi, vocês estão mesmo com vontade de tomar sorvete, néin…” (um “néin” típico da região do triângulo mineiro).

O tempo ajudou com um calor perfeito para o teste. E lá fomos nós.

Gabiroba, Buriti, Cajamanga, Mangaba, Pequi, Graviola, Araticum, Cupuaçu e outros… foram 10 diferentes frutas, além de um inesperado Lichee!

A cada picolé, o mesmo ritual: Ben anotava o nome da fruta; do belíssimo livro Árvores Brasileiras, de Harri Lorenzi, Editora Plantarum, podia ver fotos da árvore, flores e frutos; e a degustação.

A descoberta de novos sabores, no caso tipicamente brasileiros do Cerrado, foi uma sessão muito bacana!

A conexão com os sabores comuns do Hemisfério Norte e o seu, diria, “limitado” vocabulário de sabores e aromas das frutas tropicais criaram situações divertidas.

Veja nesta foto a cara de felicidade do Ben quando ele desvendou o sabor da Graviola, que descreveu como uma mescla de banana com morango, de um milk shake que é o seu favorito!

Próxima “estação”: sais. Isso mesmo.

Estava com uma bela seleção de sais do arquipélago de Ryu Kyu, onde fica a Província deOkinawa, Japão, incluindo um maravilhoso exemplar que foi considerado o melhor na Exposição Mundial da Bélgica em 2008. De textura leve, porém de grande fluidez e intensidade, lembrava trufas. Obviamente, foi o preferido da nossa mesa…

A “estação” seguinte foi reservado aos chás Oolong de Taiwan, dos quais um incrível vencedor de um concurso internacional de qualidade de chás, valioso presente do Companheiro de Viagem Chen Chia-Chun, de Taiwan. Este exemplar é de um plantio high grown de chá, a cerca de 1.300 m de altitude!

A última “estação” foi a que mexeu com o “fraco” do Ben: seleção de queijos da Serra da Canastra, Cruzeiro da Fortaleza e Sacramento, este ao estilo Parmigiano, regados a uma cachaça orgânicaBendito Grau, produzida em Patrocínio pelo Companheiro de Viagem Danilo Barbosa.

Ben é vegetariano, da linha que aceita lácteos e ovos, e queijo é um dos seus alimentos preferidos.

Agora, da cachaça… ficou fã!

Experiências com Ben Kaminsky: Uma Questão de Concentração

Thiago Sousa

Tive a feliz oportunidade de receber Ben Kaminsky neste final de semana em minha casa.

Ben foi o campeão dos Estados Unidos na modalidade Cupping Tasters em competição ocorrida em Atlanta, GA, neste ano. Com isso, foi o representante USA noCupping Tasters World Competition que teve Cologne como palco. Obteve a quarta colocação geral depois de disputas acirradíssimas e muito complexas devido ao uso de cafés indianos da espécie robusta (Coffea canephora).

Natural de Boston, MA, na região Nordeste dos Estados Unidos, Ben comentou que há muito tempo se interessou por café e procura incansavelmente se aprofundar em todos os aspectos, desde a parte botânica, passando pelos processos de secagem e torra de café, até a extração. O rapaz é “fera”!

Há muito tempo não me impressionava com alguém tão jovem e com conhecimentos tão sólidos.

Um dos objetivos de sua visita ao Brasil, a primeira de uma série pelo seu desejo, era conhecer o fascinante Chapadão de Ferro, uma origem vulcânica de características únicas no mundo. Yes, o Brasil tem cafés de origem vulcânica, sim!

E, naturalmente, fiz questão de levar Ben para visitar aFazenda Chapadão de Ferro, de Ruvaldo Delarisse,  que considero o melhor produtor daquela nanorregião. Os cafés que Ruvaldo produz são únicos e inimitáveis, mesmo pelos seus vizinhos, numa celestial combinação de  localização, solo e manejo de lavoura que resulta nos disputados lotes de café com notas aromáticas e sabor a pétalas de rosas, secundadas pelo irresistível toque de cerejas (a frutinha) maduras.

No sábado pela manhã fizemos o cupping de diversos lotes da Fazenda Chapadão, reservando a tarde para experiências com extração e concentração de café.

Os mesmos lotes de café que provamos na parte da manhã foram testados à tarde, usando o Aeropress para que as extrações fossem controladas. Obviamente, juntamos nossa parafernália: moinho, cronômetros, sensores de temperatura a infravermelho, refratômetros, balanças de precisão e pipetas, além de, é claro, nariz e língua…

Fizemos um sem número de testes com diferentes percentuais de extração de café.

OK, isso está meio avançado, mas para facilitar a compreensão do que buscamos, estes foram os nossos fundamentos: os elementos de grande impacto na xícara de café são o perfil de moagem, características da água (pH, composição de minerais, por exemplo) e tempo de contato água-partículas de café. O resultado na xícara, que está diretamente ligado com a nossa percepção, está baseado  na concentração de sólidos solúveis, que é medida através de uma escala denominada TDS (em inglês Sólidos Dissolvidos Totais).

E por que isso é importante?

Bem, esse é o segredo para você conseguir perceber melhor as características de sabor de um café e outras bebidas. Nossos “sensores” são as papilas gustativas, que ficam na língua, e as células olfativas, estas na “carenagem” do nariz. A concentração de uma solução tem relação direta com a nossa percepção. Isso porque os nossos sensores possuem um determinado nível de, digamos, especialização, ou seja, existe uma faixa ótima onde eles trabalham melhor e que fica fora das altas e das muito baixas concentrações. Quando você dilui uma solução, fica mais fácil de perceber os sabores do que quando muito concentrada.

Fascinante, não?